14/11/2015

Editorial: O humanismo de Francisco

Rádio Vaticana



Cidade do Vaticano (RV) – Na última terça-feira o Papa Francisco deixou o Vaticano e como pastor que vai ao encontro de seu rebanho foi visitar duas cidades italianas: primeiramente Prato e depois Florença. Em Prato se encontrou com a população diante da Catedral da cidade onde está a relíquia do ‘Santo Cinto’: uma relíquia que, de acordo com uma tradição medieval, teria sido lançada do céu pela Virgem Maria a São Tomé durante a Assunção. O Cinto da Virgem é um pedaço de tecido de lã verde, com cerca de 90 centímetros, tendo em suas extremidades pequenas cordas para amarrá-lo. Prato é a cidade ‘mais chinesa’ da Itália, e uma das mais multiculturais da Europa.


Um momento que tocou o coração dos presentes, italianos e estrangeiros. Francisco, recordando a pedagogia do encontro, pediu mais uma vez para não ficarmos fechados na indiferença, mas a abrirmo-nos, a sentirmo-nos chamados para deixar nossas coisas e ir até o outro, a compartilhar a alegria de encontrar o Senhor e a fadiga de caminhar na sua estrada. Encorajou os presentes a se arriscarem, a se aproximarem dos homens e mulheres de nosso tempo, a tomar a iniciativa e envolverem-se, sem medo, pois não existe fé sem riscos.


Improvisando recordou uma tragédia que se abateu há dois anos sobre a cidade que tem a sua principal economia na industrial têxtil: Francisco lembrou os 7 operários chineses mortos em um incêndio na zona industrial de Prato. Moravam dentro do galpão no qual trabalhavam, em um dormitório feito de reboco: uma tragédia da exploração – disse – que representa condições de vida desumanas.  “A vida de toda comunidade exige que se combatam, até o fim, o ‘câncer’ da corrupção e o veneno da ilegalidade”.


Depois a visita a Florença. Primeiramente o encontro na Catedral da cidade com os participantes do V Congresso Eclesial da Igreja italiana que teve como tema “O novo humanismo em Cristo Jesus”. Francisco recordou que podemos falar de humanismo somente a partir da centralidade de Jesus, descobrindo n’Ele os traços do rosto autêntico do homem. “Não devemos domesticar a potência do rosto de Jesus. O rosto é a imagem da sua transcendência. Jesus é o nosso humanismo”, disse.


O Pontífice ressaltou que a face de Jesus é semelhante àquela de tantos nossos irmãos humilhados e escravizados. E indicou três sentimentos que caracterizam o humanismo cristão: a humildade, o desinteresse próprio e a bem-aventurança.


E dirigindo-se à Igreja italiana disse o que espera da Igreja italiana: “Uma Igreja inquieta, sempre mais próxima dos abandonados, dos esquecidos, dos imperfeitos. Desejo uma Igreja alegre com o rosto de mãe, que compreende, acompanha e acaricia. Sonhem também vocês esta Igreja, acreditem nela, inovem com liberdade”. Um desejo que certamente se dirige também à nossa realidade de Igreja no Brasil, onde a alegria da mensagem do Evangelho deve ser ainda partilhada com muitos de nossos irmãos.


Depois o almoço com os pobres, precedido do encontro com alguns enfermos e portadores de deficiência. Um almoço durante o qual Francisco conversou e abençoou aqueles que passam por dificuldades nesta vida. Ali, Francisco se sentia verdadeiramente em casa.


Enfim, na parte da tarde a Santa Missa na presença de mais de 50 mil fiéis no Estádio Franchi, com a exortação do Papa: os cristãos devem ter a coragem de superar a opinião corrente para anunciar a misericórdia de Deus.


Em Florença, berço do humanismo, Francisco exortou a construir uma humanidade renovada que encontre na face misericordiosa de Deus, Misericordiae Vultus, o impulso a comprometer-se por um mundo onde ninguém é deixado à margem ou descartado; onde quem serve é o maior; onde os pequenos e os pobres são acolhidos e ajudados.


Faltando menos de um mês para o início do Jubileu, o Papa falou da misericórdia divina que “preencherá todo nosso limite”. Disse estar seguro que precisamente nesta comunhão entre divino e humano se lançam as sementes que “contribuem a criar uma humanidade nova, renovada”. “Deus e o homem não são dois extremos de uma oposição: desde sempre, estes procuram um ao outro, porque Deus reconhece no homem a própria imagem e o homem se reconhece somente olhando para Deus.”


Um humanismo que Francisco, em Florença, não somente testemunhou com suas palavras mas também com gestos, como no almoço com os pobres e na oração com os enfermos, que os florentinos jamais esquecerão. (Silvonei José)


(from Vatican Radio)



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