14/11/2015

‘Me senti vivendo um sonho’, diz mulher que recebeu milagre em MG


Cerimônia de beatificação de Padre Victor reuniu cerca de 25 mil pessoas.

Negro e ex-escravo, religioso é 2º beatificado no Sul de Minas em 3 anos.



 Samantha Silva e Régis MeloDo G1 Sul de Minas




Padre Victor é oficialmente declarado Beato pela Igreja Católica (Foto: Régis Melo)

Padre Victor é oficialmente declarado Beato pela Igreja Católica (Foto: Régis Melo)

Após 22 anos de espera e mais de 100 de devoção em Três Pontas (MG), Padre Victor foi beatificado às 16h45 deste sábado (14). A cerimônia reuniu cerca de 25 mil pessoas no Campo de Aviação da cidade. Para os devotos do ‘Anjo Tutelar’ Padre Victor, um sonho de tempos antigos se realizava em frente a seus olhos. “Vim para ver isso em vida”, declaravam inúmeros fiéis.


Um dia santo

Os devotos de Padre Victor começaram a chegar a Três Pontas durante a madrugada. Romeiros faziam o percurso a pé pela MG-167 até a entrada da cidade. Vindos de Três Corações (MG) desde a tarde do dia anterior, Marcelo Vitor de Assis caminhava às margens da estrada acompanhado de Clésio da Silva Monteiro.


Veja como foi a cobertura em Tempo Real da beatificação


Confira a Galeria de Imagens


Romeiros caminharam de Três Corações para Três Pontas para acompanhar beatificação (Foto: Samantha Silva / G1)Romeiros caminharam de Três Corações para Três

Pontas para acompanhar beatificação (Foto:

Samantha Silva / G1)

Para eles, cada passo valia pela satisfação de ver o religioso de devoção subir ao altar da Igreja Católica. “A gente se sente muito feliz com a beatificação de Padre Victor, uma coisa que a gente sempre sonhou e está tendo a satisfação de ver em vida”, disse Assis em seus 43 anos.


Na cidade, fiéis enfeitaram as ruas de branco e amarelo – cores do Vaticano – para receber os devotos do religioso. Durante a manhã, o movimento se concentrou na Igreja Matriz, onde repousam os restos mortais do religioso, e no Memorial Padre Victor.


Rito de beatificação

Mesmo com o calor e o forte sol que iluminava a cidade durante todo o dia, os fiéis não deixaram seu lugar o mais próximo do altar que conseguiram. Os portões do Campo de Aviação se abriram ao meio-dia e desde então, devotos ocupavam o local. Com capacidade para 60 mil pessoas, o ‘mar’ de pessoas era colorido pelos guarda-sóis e rostos de Padre Victor em bandeiras, camisetas e estandartes.


Manicure há 13 anos, dona Maria Natália Ribeiro Miranda, de 65 anos, estava no local desde às 12h30 para pegar um lugar perto do altar. Carregava bananas, biscoitos e água para resistir à passagem do tempo. Para ela, cada minuto valia a pena.  “Não tem um dia, uma noite, que não rezo uma Ave Maria para Padre Victor”, conta declarando sua devoção.


Dona Maria Natália Ribeiro Miranda, de Três Pontas (Foto: Samantha Silva / G1)Dona Maria Natália Ribeiro Miranda, de Três Pontas (Foto: Samantha Silva / G1)

O Rito de Beatificação começou pontualmente às 16h. O pároco da Igreja Matriz de Três Pontas, Mateus Arantes, iniciou contando da vida que Padre Victor teve. Negro, ex-escravo, ele falou das humilhações passadas pelo religioso e a impossibilidade de que ele pudesse se tornar um padre no século XIX. Pois mais de um século depois, neste sábado, ali onde ele viveu por 53 anos, a Igreja Católica o elevou ao altar como beato.


Excepcionalmente, o bispo de Campanha (MG) dom Diamantino Prata de Carvalho presidiu a cerimônia. A honra foi concedida pelo Vaticano neste sábado já que o bispo se despede da diocese do Sul de Minas após beatificar dois candidatos em menos de três anos, Padre Victor e a leiga Nhá Chica em 2013. Tradicionalmente, a cerimônia é presidida pelo prefeito da Congregação da Causa dos Santos, Angelo Amato, que permaneceu à direita do altar durante a cerimônia.


Bispo Dom Diamantino Prata de Carvalho preside cerimônia de beatificação (Foto: Régis Melo)Bispo Dom Diamantino Prata de Carvalho preside cerimônia de beatificação (Foto: Régis Melo)

Padre Victor foi declarado beato às 16h35 após a leitura das letras apostólicas, em italiano, pelo cardeal Angelo Amato. Em seguida, a imagem do beato foi revelada para o público.

Maria Isabel de Figueiredo, que teve o milagre que beatificou Padre Victor aprovado pelo Vaticano, subiu ao altar com o marido e a filha Sofia. A menina de 4 anos nasceu após uma novena a Padre Victor, pedida por Isabel ao descobrir que não poderia engravidar.



Eu quis segurar a emoção, mas na hora que eu entrei não consegui e chorei, me senti vivendo um sonho.”

Maria Isabel de Figueiredo, professora


Emocionada, a mãe de Sofia não conseguiu segurar as lágrimas enquanto entregava a relíquia do religioso aos cardeais e bispos.


“Eu quis segurar a emoção, mas na hora que eu entrei não consegui e chorei, me senti vivendo um sonho. Para mim foi muito gratificante ver quantas pessoas são devotas de Padre Victor e saber o quanto isso foi importante para elas e foi o meu milagre que permitiu isso, é muito gratificante”, disse Maria Isabel.


O marido dela também ficou emocionado.


“Foi muito dificil segurar a emoção num momento como esse, ver essa missa que vai ficar na história de Três Pontas, de todos os devotos de Padre Victor. Acho que esta noite nem vamos dormir, assim como não dormimos na noite em que descobrimos que o milagre foi aprovado pela igreja”, disse o pai de Sofia, José Maurício Silvério.


Isabel e a família após a beatificação: "Foi um sonho" (Foto: Samantha Silva / G1)Isabel e a família após a beatificação: “Foi um sonho” (Foto: Samantha Silva / G1)

Em sua pregação durante a Santa Missa, Dom Diamantino declarou que o perguntaram como ele se sentia ao beatificar Nhá Chica e Padre Victor em seu período como bispo. “Não estou feliz, estou felicíssimo”, respondeu em seguida.


O bispo ainda fez um trocadilho poético para homenagear a cidade, que carrega o nome de Três Pontas pelas três montanhas pontiagudas que circundam o município. “E se as ‘três pontas’ apontam para o céu, quem sabe podemos encontrar aqui a ponte para os três divinos [a Santíssima Trindade].”



A gente chegou, achou que ia estar calor, graças a Deus estava fresquinho, a gente teve uma tarde maravilhosa, foi a graça que Padre Victor deu pra gente. Foi maravilhoso”

Mônica de Fátima da Silva, de 62 anos.


Durante a missa, na oração pela comunidade, foi citado ainda o ataque terrorista a Paris e foi pedido consolo para as vítimas. “Para que sintam o consolo de Deus nosso pai e sejam ajudados pelas pessoas de boa vontade e todas as autoridades.”


A cerimônia durou cerca de 2,5 horas. Segundo a organização do evento, outras 5 mil pessoas também acompanharam a beatificação de Padre Victor dentro da Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores.


Para os devotos, os quilômetros percorridos para beatificar Padre Victor eram apenas suas declarações de devoção ao religioso. Vinda de Cruzília (MG), Mônica não segurava a emoção ao fim da cerimônia


“Pra mim foi muito emocionante. A gente chegou, achou que ia estar calor, graças a Deus estava fresquinho, a gente teve uma tarde maravilhosa, foi a graça que Padre Victor deu pra gente. Foi maravilhoso”, disse Mônica de Fátima da Silva, de 62 anos.


Dona Mônica veio de Cruzília para assistir a beatificação de Padre Victor (Foto: Régis Melo)Dona Mônica veio de Cruzília para assistir a beatificação de Padre Victor (Foto: Régis Melo




‘Me senti vivendo um sonho’, diz mulher que recebeu milagre em MG

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