19/11/2015

Teilhard de Chardin: um depoimento pessoal


Por Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger*


“É muito simples apresentar Teilhard de Chardin (1881 – 1955) a  quem não o conhece. Essa tarefa não tem nada de desafiadora: basta que se apresente as grandes linhas de seu pensamento, em que pontos de suas reflexões ele foi original, e demonstrar que consequências têm para o nosso mundo e a nossa fé a aceitação de suas teorias.” Assim comecei a palestra que dei sobre o famoso paleontólogo francês para o “Núcleo Ciência, Cultura e Fé”, que se reúne mensalmente aqui em Salvador, no Instituto Feminino da Bahia. Minha palestra, juntamente com outras oito, foram editadas num livro pela Professora Eliane S. Azevêdo, coordenadora do referido Núcleo, com o apoio da Academia de Ciências da Bahia.


Mais do que sintetizar aqui a vida e o pensamento desse sacerdote jesuíta, sigo a linha adotada na palestra a que me referi,  lembrando de que modo ele influenciou minha vida e meus pensamentos.


Comecei a entrar em contato com os escritos de Teilhard de Chardin quando estudava Filosofia. Eram os primeiros anos da década de sessenta do século passado. Como suas obras não puderam ser publicadas enquanto ele estava vivo, somente um reduzido grupo de pessoas conhecia suas teses e reflexões, por meio de textos mimiografados.  Após a sua morte (1955), à medida que a Fundação Teilhard de Chardin difundia seus livros, multiplicava-se o número daqueles que passaram a se debruçar sobre suas teses e teorias. É verdade que, além de simpatizantes, em pouco tempo ele passou a ter também contestadores. Para muitos, contudo, as ideias de Teilhard mostravam-se originais: apresentavam uma grande cosmovisão, num mundo fragmentado e em busca de unidade. Teilhard começou a ser visto como um pesquisador de Deus no universo em movimento.


É preciso reconhecer que a não publicação de suas obras ainda em vida impediu que o próprio autor se explicasse melhor, que completasse suas afirmações e que, diante de críticas, corrigisse alguns de seus textos, que possibilitavam diferentes interpretações. É preciso reconhecer também que o pensamento de Teilhard apresenta lacunas e dificuldades.  Na própria Igreja, pouco a pouco Teilhard passou a ser melhor entendido. A visão do evolucionismo que ele apresentava começou a ser vista como uma teoria compatível com a fé cristã. Mais ainda: sua visão do ser humano como o ápice consciente dessa evolução, um ser humano que caminha em direção ao “ponto Ômega”, fez com que muitos passassem a vê-lo como alguém que levava a visão cristológica de São Paulo às últimas consequências: Cristo “nos fez conhecer o mistério” da vontade do Pai, “segundo o desígnio benevolente que formou desde sempre em Cristo, para realizá-lo na plenitude dos tempos: reencabeçar tudo em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra” (Ef 1,9-10).


As grandes ideias de Teilhard de Chardin davam a mim, jovem estudante de Filosofia, novas perspectivas. Quando, então, me debrucei sobre o breve texto “A Missa sobre o mundo” e sobre o livro “O Meio Divino”, o interesse por Teilhard aumentou.


Iniciada a Teologia, também na década de sessenta, a companhia do sacerdote jesuíta francês era constante em meus estudos. Mais: muitas das minhas leituras e estudos eram feitos sob a sua ótica. É bom lembrar que meus estudos teológicos começaram em 1966, dois meses após o encerramento do Concílio Vaticano II (1962-1965). Já na época se comentava a influência do pensamento de Teilhard de Chardin em algumas passagens da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”.


Sessenta anos atrás, falecia Teilhard de Chardin. Com este meu testemumho, presto-lhe uma humilde homenagem, que é, na verdade, uma forma de lhe dizer: Obrigado! Muito obrigado!



CNBB 16-11-2015

*Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger é arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil.


Teilhard de Chardin: um depoimento pessoal

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