25/03/2016

Surfando no sonho

Se escolho viver uma vida com significado, preciso aprendê-la, conquistá-la e merecê-la. As derrotas, as vitórias, são apenas lições para a perfeição. E neste percurso, podemo-nos divertir a ser os melhores do mundo, sempre mais um pouco – em equipa


Uma prancha e vela de windsurf enfeitavam o palco do auditório. De pé ao lado da prancha, João, o atleta de vela sete vezes olímpico, parecia muito pequeno. Tinha uma pele marcada pelo sol, sorriso transparente, olhar vivo, tranquilo. Na assembleia, os alunos: jovens e adultos, cansados de um dia de trabalho, em busca de um sonho: concluir a escolaridade obrigatória. Todos conheciam o João pelos meios de comunicação social. Tê-lo na escola era um acontecimento importante.


Os alunos eleitos para «conversar com o João» subiram ao palco. Cumprimentaram-se e… Surpresa! Que mãos tão calejadas, as do João! Eram calos de quem insiste, insiste e nunca desiste. A conversa começou. João era pessoa de poucas palavras. Era mais de riso. Mas quando falava, dizia certezas, num misto de simplicidade e felicidade que queria partilhar.
– João, como é ser-se um atleta tão importante?
João deu uma gargalhada: bem, eu só tento o meu melhor. Nelson Mandela disse na ONU que «se nos fazemos pequeninos, menores, não ajudamos ninguém, não ajudamos o mundo. Ao nos libertarmos dos nossos medos, a nossa conquista ajuda a libertar o medo dos outros». A equipa com quem trabalho diariamente ajuda-me a ultrapassar os meus medos. As minhas vitórias são vitórias da equipa.
– E quando não consegue bons resultados?
Mais uma gargalhada, e com humor, brinca:
– Isso aí, dói! E acontece muitas vezes. Nesses momentos, tento ver o resultado como uma lição, e aprender a lidar com os meus erros – com compaixão.  Sei que não serei sempre vencedor. Aprendi que «todos os dias são dias para viver», intensamente, com vitórias ou com derrotas. Essa descoberta deu-me muita tranquilidade. O que insisto é em preparar-me no meu melhor e fazer o meu máximo. O resultado? Aceito.
Os interlocutores continuaram:
– Ter uma profissão e simultaneamente ser atleta olímpico, obriga a fazer muitos sacrifícios?
– Sacrifícios? Não! Ou melhor: sem dor e sem esforço, não há evolução, não há conquistas. Mas não sinto isso como sacrifício! É apenas persistência na luta pela perfeição. Esse esforço transforma-se em motivo de realização.


João olhou a assembleia: olhares atentos, sonhadores. Sensibilizado, adiantou.
– Vocês e eu, que diferenças veem? Eu vejo-nos a todos na mesma prancha, trabalhando pelos nossos objetivos. Definimos as conquistas que nos realizam e fazemo-las acontecer. Deixa de ser sacrifício, passa a ser «realização».
Alguém da assembleia quis saber:
– Para chegar a este nível de realização, por onde começar?
– O meu começo foi assim – e ainda é assim: parar, refletir, aprender!
Se escolho viver uma vida com significado, preciso aprendê-la, conquistá-la e merecê-la. As derrotas, as vitórias, são apenas lições para a perfeição. E neste percurso, podemo-nos divertir a ser os melhores do mundo, sempre mais um pouco – em equipa! Eu não dispenso isso.


Fez-se um silêncio como se ninguém quisesse perturbar o momento. Como se cada um se visse a velejar na sua prancha em busca dos seus sonhos – num mar cheio de velejadores, cruzando a meta, não importa em que lugar. E pelo caminho, a alegria de estarem em movimento, juntos, em equipa, contornando obstáculos e aproveitando ventos, em busca da perfeição.


Fátima Missionária



Surfando no sonho

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