13/05/2016

DESPERDÍCIO


Desperdiçamos muito, cada dia mais, desbragadamente, sem parar.


Desperdiçamos nossos fracassos e até nossos êxitos.
Desperdiçamos nossos fracassos e até nossos êxitos.



Por Eleonora Santa Rosa*

Tema que há muito me invade na sua mais ampla abordagem.

Interessa-me a dimensão que extravasa o âmbito pessoal, embora, de toda forma, este seja um bom ponto de partida para tudo o mais.

Fico pensando em relação ao que assistimos hoje, quantas chances perdidas, quantas oportunidades relegadas, quantas vidas desperdiçadas, quantos amores descartados, quantas causas abandonadas, mote de um inventário sem fim.

Quantas chances jogadas fora, postas de lado, diariamente?

Quanto saber, experiência, conhecimento, deliberadamente perdidos e/ou deletados, por inveja, ciúme, poder, usura, fraqueza, perseguição, incompreensão, opressão.

Desperdiçamos muito, cada dia mais, desbragadamente, sem parar.

Dentro e fora de casa.

No território público.

Desperdiçamos tudo: alimento, sobras, saúde, amor, saber, crenças, recursos naturais, conquistas sociais, felicidade, dinheiro, tempo, amizades, esperanças, como se houvesse, sempre, à disposição, uma infinidade de novas possibilidades e chances, uma espécie de ciranda esquizofrênica, imatura, perversa, alimentadora de passivos sem fim.

Passivos, inclusive, assistimos à vigência da obsolescência programada, do descarte premeditado, das relações interditadas, do alastramento do refugo humano (mestre Bauman já bem apontava), do consumo estéreo e histérico.

Desperdiçamos nossos fracassos e até nossos êxitos, êxodo da dimensão humana da vida, corrupção dos valores básicos.

Desperdício, dispersão, destruição, dissipação, perda, raiz semântica que se enraíza por todos os troncos e galhos da vida brasileira, não só aqui, por suposto, mas arrasadoramente e furiosamente aqui!

Ressignificar, recuperar, restaurar, recompor, reabilitar, rever, retomar, recolocar, reaver.

Desarmar/desamar o desperdício e nutrir o seu oposto, SOS.



* Eleonora Santa Rosa – Jornalista, editora e empreendedora cultural, é considerada uma das maiores especialistas no País na área de Projetos, Planejamento, Captação de Recursos, e Gestão Cultural, com larga experiência na formatação, negociação e implementação de iniciativas culturais de envergadura e repercussão. Ocupou vários cargos públicos ao longo de sua trajetória profissional, tendo sido Secretária de Cultura do Estado de Minas Gerais. É fundadora e diretora do Santa Rosa Bureau Cultural, onde desenvolve ações referenciais nacionais no campo da Cultura.



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