09/08/2016

CULTURA SERTANEJA E SUSTENTABILIDADE

 domtotal.com

Tema foi trabalhado pelo mestrando Lucas Augusto Tomé Vieira, da Dom Helder.

 


Lucas Augusto Kannoa defende dissertação na Dom Helder Câmara. Foto (Patrícia Azevedo/Dom Total)

Globalização, celulares, novas tecnologias e possibilidades de trabalho têm transformado o cotidiano de comunidades tradicionais do interior de Minas. Os principais fatores que ameaçam a cultura desses grupos, no entanto, são a postura do Estado e as normas ambientais. A avaliação é do pesquisador Lucas Augusto Tomé Kannoa Vieira, que acaba de concluir mestrado em Direito Ambiental na Dom Helder Câmara.


“O desconhecimento das realidades sertanejas pelo poder público, aliado as dificuldades materiais como a inexistência de acesso e falta de conhecimento e instrução política, contribuíram para um desenvolver normativo estatal, que por vezes, obsta a prática cultural desses povos”, apontou Lucas.


Na última semana, ele apresentou a dissertação ‘O reconhecimento e proteção da cultura sertaneja como componente da sustentabilidade – uma análise da sustentabilidade em municípios recém-emancipados do Norte de Minas Gerais’, aprovada com distinção. Para desenvolvê-la, o mestrando realizou pesquisas bibliográficas, legislativas e também pesquisa empírica, entrevistando moradores dos municípios de Bonito de Minas, Chapada Gaúcha e Cônego Marinho.


“Foi concluído que existem práticas locais, pautadas em saberes tradicionais, que seja por sua relevância dentro das comunidades, seja pela sua relevância ao equilíbrio ambiental, devem ser mantidas e estudadas, a fim de permitir um recebimento maior dos conhecimentos empíricos já experimentados”, defendeu Lucas.


O mestrando também verificou a necessidade de uma nova hermenêutica da legislação ambiental e participação dos povos sertanejos no processo legislativo, para assim, conseguirem normas que compreendam a complexidade local.


Banca


O trabalho foi orientado pelo professor João Batista Moreira Pinto e avaliado pelos professores Maraluce Custódio, da Dom Helder Câmara, e Mário Lúcio Quintão Soares, da PUC-Minas.


Após a defesa, Lucas Augusto, que também realizou sua graduação em Direito na Escola, concedeu a seguinte entrevista ao portal Dom Total:


O que motivou sua escolha por estudar a cultura sertaneja?


A motivação principal foram as demandas da população tradicional, quase sempre carente, que vem lutando contra o Estado e as dificuldades próprias do sertão. Como advogado que sou, acabei por reconhecer essas demandas e seria assim, uma contribuição para a luta deles.


Qual foi o objetivo de sua dissertação? Como ela foi desenvolvida?


O objetivo da dissertação foi evidenciar realidades locais, pautadas pelos saberes ambientais na perspectiva de Leff, e desmistificar condutas como queimadas, que a partir dos saberes locais, passaram a ser uma forma de preservação do ambiente. O trabalho analisou os municípios de Bonito de Minas, Chapada Gaúcha e também Cônego Marinho.


A cultura sertaneja tem sido preservada da forma adequada? Qual a sua importância para a sustentabilidade e o meio ambiente?


Esse é justamente o ponto, ela não tem sido preservada, inicialmente pelas dinâmicas da globalização, a chegada de celulares e novas realidades que abrem possibilidade para os sertanejos deixarem as atividades tradicionais, como vaqueiros, pescadores, caçadores e extrativistas para outras, como tratorista, operadores de maquinas agrícolas, trabalhadores da construção civil.


Mas o principal fator encontrado na pesquisa para prejudicar a cultura sertaneja seria a relação com o Estado, primeiro em leis e normas ambientais restritivas ao modo de vida sertanejo e em segundo a interpretação dos agentes públicos no local, ao não conseguirem pesar a proteção ambiental de fato e a ordem do órgão ambiental.


A importância dessa cultura para o ambiente foi demonstrada, no aspecto natural, como necessária para manutenção do cerrado, através de queimadas controladas, praticadas a mais de cem anos, que evitam queimadas descontroladas por excesso de matéria seca acumulada e, também, permitem a germinação das sementes do cerrado.


Em aspecto social, a manutenção de edificações, produtos como velas, trajes de couro, instrumentos para o dia a dia deles e por fim, no aspecto econômico, vez que na modalidade tradicional, os sertanejos conseguem a produção de carne, principalmente bovina, com baixo impacto ambiental, além de produtos extrativistas e produções artesanais.


Como avalia o mestrado em Direito Ambiental da Dom Helder?


Avalio de forma positiva, com professores extremamente capacitados, engajados no projeto do curso, motivando os alunos a produzirem mais textos acadêmicos e de forma solidária, disponibilizando contatos, acompanhando congressos, em verdadeira parceria. Isso aliado à grade curricular abrangente, desde direitos humanos e filosofia até matérias técnicas como licenciamento ambiental, direito de energia e minerário. A estrutura da faculdade dispensa qualquer comentário, é perfeita. Só posso ter gratidão e satisfação após concluir esse curso.


Redação Dom Total


CULTURA SERTANEJA E SUSTENTABILIDADE

Nenhum comentário :

Postar um comentário