26/09/2016

Morreu um grande missionário: Padre Amadeu Marchiol (1927-2016)

De uma inteligência prática, o padre Amadeu Marchiol desde muito cedo manifestou as qualidades de um missionário de fronteira: espírito de sacrifício, coragem e laboriosidade


Amadeu Marchiol nasceu em Lusevera-Udine, no Friuli (Itália), a 1 de fevereiro de 1927. Entrou no Instituto Missões Consolata em 12 de setembro de 1939 e viveu os primeiros anos de seminário em plena guerra mundial. Anos difíceis de fome e insegurança. Emitiu a primeira profissão religiosa em 2 de outubro de 1948 e foi ordenado sacerdote a 29 de junho de 1952. Em 9 de março de 1953 chegou a Moçambique. Trabalhou na atual diocese de Inhambane, na Missão de Mapinhane (1953), na Missão de Maimelane (1953-1955) e em seguida na paróquia da Matola (1955-1956), na atual arquidiocese de Maputo.


Jovem missionário, aprendeu com os mais velhos a arte de fazer missão. Em 31 de dezembro de 1956, próximo dos 30 anos, foi nomeado Superior da Missão de Nova Mambone, a sua missão para quase toda a vida. A Missão do Sagrado Coração de Jesus estava a dar os primeiros passos e atravessava grandes dificuldades do ponto de vista pastoral e económico. Lançou-se com determinação ao trabalho, aprendeu a língua cindau e abriu novas escolas no território do Govuro e de Mabote.


A região é pobre, com poucos recursos e carente das estruturas fundamentais. Era necessário encontrar uma atividade económica rentável que permitisse construir obras sociais e pastorais e que melhorasse as condições económicas da população local. Observador e engenhoso, descobriu numa planície de terra argilosa a ideia de abrir uma salina que ajudasse a missão e o povo daquele recanto da província de Inhambane. Iniciaram-se então os trabalhos de construção, para que através de um longo canal natural, ao ritmo das marés, a água do mar da baía de Bartolomeu Dias chegasse à planície de Batanhe, depositando nela partículas de cristal de sal que logo verificou serem de excelente qualidade.


No início dos anos setenta, a produção aumentou e os primeiros lucros da produção foram reinvestidos num canal de irrigação, que conduzia a água do rio Save para terrenos próximos, onde a população podia plantar arroz. Criou uma cooperativa agrícola, prepararam-se 60 hectares de terreno e a primeira colheita de arroz foi um sucesso.


Preso por duas vezes

Eleito Superior da Região de Moçambique, em julho de 1975, defendeu com coragem missionários presos e expulsos, meteu a salvo os documentos das missões nacionalizadas (como diários e livros de assentos dos sacramentos), dialogou com as autoridades políticas e soube ultrapassar muitos condicionalismos. Durante as visitas que fazia às missões para animar os confrades, Amadeu Marchiol registou diversos contratempos, chegando mesmo a ser preso por duas vezes.


Nas comunidades e na salina, com o irmão Pedro Bertoni, fez tudo o que esteve ao seu alcance para manter viva a esperança e contribuir para o desenvolvimento espiritual e humano da população. Assistia as populações, resgatando-as à fome, trazendo alimentos e acompanhava de longe a sua salina, transportando o sal, de barco, para o comercializar mais a norte.


Com a chegada da paz, em 1992, trabalhou na recuperação da antiga missão e das suas atividades económicas. No início de 2000, chegou a terrível inundação que submergiu Nova Mambone e a missão foi lugar de refúgio e de salvação para centenas de pessoas. Uma onda gigante arrasou e destruiu a salina de Batanhe. Foi necessário reiniciar quase tudo e reconstruir o que tinha sido destruído.


Depois de 2007, o sacerdote começou a declinar física e espiritualmente, mas queria manter-se ligado à missão de Nova Mambone para sempre e a todo o custo. Faltou-lhe a visão de compreender a necessidade de mudança e o imperativo de retirar-se no momento certo. Em 2011, compulsivamente teve que deixar Mambone. Foi uma separação que o marcou profundamente.


Não se resignou, procurou adaptar-se aos novos ritmos da periferia da cidade de Maputo, mostrando-se disponível para ajudar naquilo que era necessário na paróquia de Liqueleva. A sua saúde foi-se debilitando progressivamente. Em maio de 2013 regressou definitivamente a Itália. Passou os últimos anos da sua vida na casa para missionários idosos de Alpignano e faleceu no hospital de Rivoli, no dia 24 de setembro de 2016.


Fátima Missionária



Morreu um grande missionário: Padre Amadeu Marchiol (1927-2016)

Nenhum comentário :

Postar um comentário