18/10/2016

Assim como Francisco, futuro cardeal brasileiro defende igreja 'mais perto do povo'



Arcebispo de Brasília será criado cardeal no próximo consistório.

Arcebispo de Brasília será criado cardeal no próximo consistório.



Por Hylda Cavalcanti



 As comunidades católicas da periferia do Distrito Federal festejam o anúncio da futura nomeação como cardeal – a primeira nomeação feita pelo papa Francisco no país – do atual arcebispo metropolitano de Brasília, Dom Sergio da Rocha, também presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).  Dom Sergio é considerado de centro-esquerda dentro da Igreja Católica, e a ele é atribuído estilo missionário e conciliador, além de desenvoltura para se  comunicar com os movimentos sociais da periferia da capital federal. Características que o diferem do perfil dos religiosos que têm comandado a Sé no Distrito Federal, tradicionalmente, marcados pelo conservadorismo.

 Dom Sérgio assumiu o arcebispado de Brasília em 2011. Na presidência da CNBB desde o ano passado, o arcebispo deu um tom mais descentralizado à entidade e tem procurado fortalecer as ações pastorais no país. É igualmente conhecido por defender o incremento de missionários leigos nas ações de evangelização e por declarar frequentemente que “a igreja precisa ir mais ao encontro do povo”.

 Por tais características, dom Sérgio é considerado, por padres e assessores próximos, um religioso com maneiras de pensar e trabalhar similares ao papa Francisco. Após ter recebido a notícia de sua nomeação “com surpresa”, o futuro cardeal disse não ver o título como uma honraria, mas como “a responsabilidade de expandir o serviço prestado às populações”.

 “A escolha do papa deve simbolizar a confiança que ele tem no trabalho da igreja católica missionária do Brasil em si, e da importância de fazer com que nossas experiências sejam compartilhadas pelo mundo”, afirmou. Segundo a CNBB, o posto de cardeal é designado aos que se distinguem “pela doutrina, costumes, compaixão e prudente resolução de problemas”.

 Comunidade

 Dom Sérgio também afirma que, desde o início de seu pontificado, o papa Francisco tem dado sinais de que espera a união entre cardeais e comunidade – uma ação da igreja católica que tende a ficar mais intensa, nos próximos anos e pode contar, a seu ver, com o compartilhamento de muitas iniciativas adotadas pelos religiosos católicos brasileiros.

 “É um exemplo típico de bispo que abre caminhos” disse o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília José Geraldo de Sousa Júnior, ao comentar a nomeação. Sousa Junior não apenas elogiou a escolha como considera a ida de dom Sérgio para um cardinalato uma forma de ajudar a propiciar o diálogo entre a igreja católica e a sociedade. “Ele tem tudo para proporcionar essa transformação e ajudar a modernizar esse diálogo, calcado numa estrutura ainda muito desigual e hierárquica”, disse.

 O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), também elogiou a escolha de Francisco. Para ele, a nomeação de dom Sérgio representa “uma conquista para o povo de Brasília”, por causa das iniciativas empreendidas pelo arcebispo nos últimos anos. Rollemberg afirmou que logo ao chegar, com poucas semanas na cidade, dom Sérgio já tinha conquistado o carinho e a confiança da população. “Nomeação melhor não há, porque se trata de um religioso presente, sensível e solidário”, acrescentou.

 Também a missionária leiga Evelina Nunes, que participa de várias campanhas da igraja na periferia do Distrito Federal, destacou o trabalho do futuro cardeal e ressaltou que as comunidades assistidas por ele devem passar os próximos finais de semana comemorando, durante as missas e celebrações. “Dom Sérgio é tão simples que estava realizando um trabalho comunitário no Recanto das Emas, região pobre do entorno, quando soube da notícia. Mesmo surpreso e feliz, ele preferiu dar continuidade às atividades como se nada tivesse acontecido. Esse é o estilo que deve imperar no seu cardinalato”, disse.

 Prestígio e compatibilidade

 O arcebispo tem sólido currículo acadêmico. Estudou filosofia no Seminário Diocesano de São Carlos (SP), teologia no Instituto Teológico de Campinas (SP), concluiu mestrado em teologia moral na Faculdade Teológica “Nossa Senhora da Assunção”, em São Paulo, e doutorado na Academia Alfonsiana de Roma.


Dom Séergio foi escolhido ao lado de religiosos da Síria, República Centro-Africana, Espanha, Estados Unidos, Bangladesh, Venezuela, Bélgica, Ilhas Maurício, México, Nova Guiné, Malásia, Itália, Lesoto e Albânia. Com a nomeação, prevista para ocorrer em novembro, o Brasil passa a ter cinco cardeais eleitores (os que possuem menos de 80 anos e que podem participar da escolha eventual do novo papa).


Além dele, fazem parte dessa lista dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo; dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida (SP); dom João Braz de Aviz (Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Vaticano) e dom Orani João Tempesta (Rio de Janeiro).

 “Na igreja não há rupturas e sim, continuidade. Minha intenção é levar minha contribuição pessoal para ajudar à igreja no que for preciso. Somos todos servidores da população”, afirmou ele, quando foi eleito presidente da CNBB, dando bem o tom do seu jeito de agir. Por esta e outras declarações, a escolha de Dom Sérgio, de acordo com representantes da ordem do atual pontífice – os franciscanos que vivem na capital do país – se por influência direta do papa Francisco ou não, já é considerada “sinal de bons tempos”.

 Rede Brasil Atual / Dom Total


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