28/11/2011

FORTUNA AUDACES JUVAT



 
Pe Geovane Saraiva
   
  
 
Foto  do Pe. Geovane Saraiva na Academia Cearense de Letras
Inicio minhas palavras com um pensamento daquele que carregou consigo a marca indelével da beleza como um mistério divino, da personalidade intelectual mais talentosa  do povo brasileiro no século XVII, místico, pensador e orador de grande raridade e originalidade, Padre Antônio Vieira: "Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos quando fazemos.  Nos dias em que não fazemos, apenas duramos".
Recebo, entre surpreso e agradecido, a homenagem que me prestam os vereadores da nossa cidade de Fortaleza, estando à frente deste honroso acontecimento o Vereador José do Carmo, como reconhecimento pelos meus serviços desempenhados nas Paróquias para as quais fui destinado, a saber: Pio X – (Pan-Americano), São Francisco – (Dias Macedo), Paz – (Aldeota), antes de assumir, no dia 30 de novembro de 2003, a Paróquia de Santo Afonso, na Parquelândia, que partilho com meus queridos amigos aqui nesta casa do povo, a Câmara Municipal de Fortaleza.
Minha imensa alegria de encontrar-me no meio de vocês, gente boa, gente da melhor qualidade, em quem nutro muito carinho, orgulho e apreço, por ter de algum modo, participado de suas vidas, queridos amigos, através do meu ministério sacerdotal. Durante minha vida de padre, nestes quase 23 anos, não obstante minhas limitações, procurei não decepcioná-los, pisando no chão firme da nossa realidade, procurando compreender que  a pessoa humana deve estar no centro de todo e qualquer planejamento pastoral, na sua melhoria sócio-econômico-político-cultural, na nossa sofrida cidade de Fortaleza, que a temos como parte integrante do planeta, obra da criação do nosso bom Deus, "gemendo as dores de parto" (Rm 8, 22).
Viver a vida cristã, como gente civilizada, como cidadão e como sacerdote católico, é um desafio e uma exigência. É, sobretudo, um exercício da nossa cidadania e do nosso ser cristão, que não significa ter um comportamento e uma atitude passiva, ao contrário, uma permanente atenção em favor das comunidades, na realidade desta cidade que deve ser um espaço de convivência solidária para todos os que aqui residem, com aquela clareza de que criatura humana, imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26), deve ser pensada e estar no centro das decisões que se tome nesta cidade de Fortaleza.
A Medalha Boticário Ferreira é um emblema de metal que, evidentemente, recorda o passado, a época vivida por Boticário Ferreira, em uma Fortaleza, com uma população em torno de 20 mil habitantes, que parecia andar a passos lentos, como era natural em todas pequenas cidades: tranqüilas, bucólicas e também românticas, com sítios e fazendas. A praça, que hoje é do Ferreira, chamava-se Dom Pedro II, que só a partir de 1871, doze anos após a morte de Boticário Ferreira recebeu o nome atual.
Podemos imaginar, através desta extraordinária figura humana, a bravura do jangadeiro, a paciência da mulher rendeira, a força e a coragem resistente do agricultor e do vaqueiro, na religiosidade e fé inabaláveis da nossa querida gente, sem esquecer os sofredores de toda natureza, personificados nos retirantes ou flagelados, olhando é claro, e tendo como modelo a pessoa do Padre Cícero e  de São Francisco, o Santo de Canindé, sem esquecer a nossa poesia, representada pelo grande Patativa do Assaré.
A Comenda, que ora recebo, significa compreender a trajetória corajosa, encantadora e construtiva, repleta de trabalhos e sonhos, do grande brasileiro, o farmacêutico Antônio Ferreira Rodrigues, nascido na cidade de Niterói – Rio de janeiro (1799-1859), que por força das circunstâncias, acometido de uma infecção pulmonar, aportou na nossa querida cidade de Fortaleza em 1824, quando o nordeste já se fazia engrandecido e ensaiava seus primeiros passos revolucionários, buscando o bem estar de sua gente pelas ações da Confederação do Equador, com sua forte característica emancipacionista e republicana. Aqui estamos exatamente diante do que afirmavam os latinos: "Fortuna audaces juvat", isto é, a sorte ajuda, acompanha  e está do lado dos corajosos.
Tudo faz indicar que o ilustre farmacêutico Boticário Ferreira tornou-se médico não por acaso, mas com uma vontade muito grande de salvar vidas da população desta cidade de Fortaleza do seu tempo. A todos ele atendia gentilmente e com o coração aberto e o mais importante era que a população confiava nos seus diagnósticos. Até Major Facundo, seu inimigo político (que viria a ser assassinado), adoeceu gravemente e caiu em suas mãos. Como profissional da saúde que era, não relutou em atendê-lo, salvando-o. Pelo milagre da saúde recobrada, toda a família do político e militar ficou sensibilizada e reconhecida e, a esposa do Major foi ao Boticário para agradecê-lo pelo pronto restabelecimento do marido e, ao mesmo tempo expressar o desejo de reatar a amizade a partir daquele momento. Ao que o médico Boticário Ferreira recusou, dizendo: "Saúde do meu adversário político sim, mas a sua amizade não".
Nesta circunstância em que me encontro, com vocês queridos amigos e queridas amigas, a homenagem me leva ainda mais a renovar meu compromisso com esta cidade de Fortaleza e a me colocar no caminho certo, sem nunca fugir de minhas obrigações, desafios e exigências que a vida me impõe. Nada adianta pôr os pés na estrada, se não nos alimentamos de sonhos e esperanças. A vida deste homem extraordinário e obstinado, que preparou bem sua mala, como se fosse uma grande viagem, neste terra da luz que o acolheu, nos leva a compreender os desafios e exigências da vida, que nos pede coragem, consciente de que no nossa viagem, como tão bem diz um provérbio alemão, "A bagagem mais pesada de um viajante é uma mala vazia".
Aproveito a feliz ocasião em sou homenageado com a mais alta comenda da cidade de Fortaleza para mostrar aos amigos e amigas o nosso livro: "A Esperança Tem Nome", com a honrosa apresentação do amigo e irmão, Dom Miguel Fenelon Câmara Filho, Arcebispo Emérito de Teresina – Piauí, e com o dadivoso prefácio do Deputado Mauro Benevides, nosso imortal da Academia Cearense de Letras. Penso que publicar um livro, por mais simples que seja, significa contribuir de algum modo com a humanidade, uma vez que "livro é luz, e se essa luz rola na terra, Deus colhe gênios no céu", dizia o grande poeta Castro Alves. Já uma afirmação daquele que disse que a "modéstia é a vaidade escondida atrás da porta", Mário Quintana, nos assegura que, "o verdadeiro analfabeto é aquele que aprendeu a ler e não lê".
Indicando-me o caminho de que devo prosseguir na "condição de cultor de nossas letras", no dizer, depois de Antônio Conselheiro, do filho mais ilustre de Quixeramobim, Dom Miguel Fenelon Câmara Filho, veio-me do professor José Cajuaz Filho, ex-pároco da minha querida terra natal, Capistrano, pelos idos de 1957-1959, paroquiano e amigo, o seguinte comentário sobre o nosso livro, "A Esperança Tem Nome", que muito alegrou: "Compulsando-o, deparei-me no primeiro capítulo com a Cidade Celestial, com uma afirmação: Sem arriscar não se viver a esperança . Esta sua afirmação tem uma relação muito grande com o momento litúrgico que ora vivemos: a Quaresma. Neste segundo domingo, a liturgia nos adverte que a fé é um risco e nos mostra  Abraão como protótipo desse risco. Ele acreditou e, por isso é o pai dos crentes e de uma grande nação. O mundo conturbado em que vivemos precisa de uma âncora para não sucumbir  ao naufrágio. Essa âncora é a esperança e ela tem nome: A SALVAÇÃO. Concluindo eu lhe digo: Je suis content de vous".
Consciente estou, de que o livro, caindo no coração e na alma das pessoas assemelha-se a água da chuva que se transforma em mar. Bendito quem semeia livros e com isso estimulo o povo a ler e pensar.
Encerro o meu pronunciamento com um pensamento de outro grande discípulo de Santo Inácio de Loyola. Dom Luciano de Almeida: "Peço a Deus atuar na conversão dos homens, do egoísmo ao verdadeiro amor, sem conformismo e sem a impaciência dos violentos, para que as estruturas da convivência humana correspondam cada vez mais à dignidade dos filhos de Deus". Amém!
 Pe. Geovane Saraiva, Pároco de Santo Afonso e autor dos livros: "O Peregrino da Paz" e "Nascido Para as Coisas Maiores" (centenário de Dom Helder Câmara), "A Ternura de um Pastor" (homenagem ao Cardeal Aloísio Lorscheider) e "A Esperança Tem Nome" (espiritualidade e compromisso).pegeovane@paroquiasantoafonso.org.br
Agradecimento e felicitações
 Caro Pe. Geovane,
Agradeço-lhe  muito pelo convite enviado para participar da outorga da Medalha Boticário Ferreira, assim como, pelo exemplar do novo livro que está lançando. Gostaria muito de participar, mas infelizmente, não posso por compromissos pastorais inadiáveis em Teresina. Receba o meu fraterno abraço, com os meus cumprimentos pela Medalha que está recebendo merecidamente e pela feliz iniciativa do livro "A esperança tem nome", de leitura muito agradável.. Parabéns! Asseguro-lhe minhas orações e fraterna estima. Seja feliz, com as bençãos de Deus!
D. Sergio da Rocha - Arcebispo Metropolitano de Teresina - PI
                
Caro amigo e irmão Pe.  Geovane
Quero lhe parabenizar pela comenda, mui merecida de certa forma.
Também pelo discurso, faz jus a você que é um formador de opinião.
Aproveito para agradecer pelo imformativo da sua paróquia que muito me ajuda a interagir com o que acontece no ceará, no Brasil e no mundo, não só de Igreja mais de maneira geral.
Parabéns por tudo. Obrigado.
Pe. Bosco Leite.

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