António Fernandes, Instituto Missionário da Consolata
O estado de Roraima, está situado no norte do Brasil, com uma extensão de 226 mil km quadrados. A maioria da população é oriunda de outros estados do Brasil, principalmente do nordeste brasileiro. Os povos indígenas habitaram e habitam desde tempos imemoráveis neste território amazónico do norte do Brasil. Durante doze anos tive a oportunidade de viver e conviver principalmente com os povos Makuxi e Yanomami. Dois povos com caminhos históricos e cosmovisões diferentes. Duas experiências diferentes.na vivência do Natal. Partilho convosco, uma delas, tendo em conta símbolos, realidade das comunidades e a vivência propriamente dita do Natal. O povo Makuxi é católico com um caminho de contacto com a Palavra de Deus, e consciência do seu compromisso batismal. Vivia nessa altura enfocado na reconquista da sua terra e no reconhecimento dos seus direitos. Esta realidade provocava conflitos constantes com os grandes empresários e o próprio governo que não reconhecia os seus direitos originários, estabelecidos na constituição. Porque é que, vos falo disto, a propósito do Natal? Geralmente, a época de Natal, era aproveitada pelos rizicultores, fazendeiros, políticos para hostilizar as comunidades propondo, iniciando projetos e obras, que iam contra os interesses das comunidades. Pairava sempre no ar a ideia de que algo de mal iria suceder e acontecer nesses dias. E assim, era… Sentinelas; tempo de espera e vigilância para que as forças contrárias à vida das comunidades indígenas, não interferisse na celebração da vida do povo Makuxi e das suas comunidades. As famílias organizavam-se, de modo a que as comunidades pudessem celebrar a festa. Projeto de Deus; tempo de formação das comunidades, dos líderes. O Natal era tempo propício para reler o caminho das comunidades indígenas à luz do Plano de Deus para a humanidade e mais concretamente para os povos indígenas, na realidade concreta em que viviam. Recordava-se e fazia-se memória histórica do caminho das comunidades, com as suas luzes e sombras na vivência do projeto de Deus. Celebrações litúrgicas; eramos três missionários e responsáveis por setenta (70) comunidades. Não podíamos estar presentes em todas. Cada comunidade se organizava, com os seus catequistas, para que em nenhuma faltasse a Celebração da Palavra. Reuniam-se todas para celebrar e meditar o mistério da Encarnação guiados, possivelmente pelos catequistas e animadores das comunidades. Reunião de comunidades; esta era outra forma de celebrar: um centro (comunidade mais organizada) acolhia diversas comunidades que estavam ao seu redor e com elas celebrava as festas natalícias. Festa comunitária; era impensável celebrar o Natal, sem gestos concretos de trabalho e partilha comunitária. O Natal fazia parte do ADN comunitário das diferentes comunidades. Toda a preparação inclusive o presépio eram tarefas comunitária. Era o tempo dos anciãos, ensinarem e transmitir o significado das danças típicas, gestos, símbolos, atividades, que faziam parte de um passado mais ou menos distante. Pescarias e caçadas, eram poucas, devido à época do ano, tempo de muito calor e seca, mas as famílias organizavam-se de modo que não faltasse nada, durante dois ou três dias de festa. Mesmo no meio de tantas tribulações e sacrifícios, o Natal não deixava de ser a grande festa vivida na fé e na alegria. Que Deus nos ilumine, e a festa de Natal nos faça verdadeiros construtores do Reino. Um abraço missionário e fraterno. António Fernandes, Instituto Missionário da Consolata |
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