DOM HELDER: UM CONSPIRADOR NO VATICANO
11032009
Se estivesse vivo Dom Helder Camara estaria completando 100 anos. E quando pensávamos que já teríamos ciência de tudo ou das principais passagens da vida desse místico do século XX, a Revista Continente Multicultural, traz uma reportagem especial sobre o “Bispo Vermelho” onde mostra novas revelações da personalidade daquele que promoveu “por dentro” da Igreja Católica Apostólica Romana, uma verdadeira “conspiração do bem”, como diria Frei Betto.
Aqui, reproduzimos algumas passagens desta matéria especial.
Para ler, deslize o mouse (cursor) sobre o link abaixo e tenha acesso a mais informações sobre uma das grandes personalidades do século passado.
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Os militares estavam chegando
Escrito por Vandeck Santiago
Não se passaram nem 48 horas de sua posse como arcebispo de Olinda e Recife e Dom Helder logo viu o que estava por vir. Quatro soldados armados de metralhadora invadiram o palácio da arquidiocese para prender o francês Pierre Gervaiseau, que estava acompanhado de Violeta Arraes (irmã de Miguel Arraes) e Maria Antonia McDowell. Os três haviam entrado na arquidiocese fugindo à perseguição dos soldados.
O fato não saiu nos jornais; é descrito na carta que o arcebispo escreveu em 14 de abril de 1964, incluída no I Tomo de Circulares interconciliares. Pierre estava sendo procurado como “espião francês”, ligado ao Partido Comunista Francês, coisa que ele nunca fora – trabalhava com um padre francês, no Recife. “Tentei fazer ver aos rapazes a gravidade do que faziam: invadir de metralhadora a casa do arcebispo…”, conta Dom Helder, que em seguida ligou para o homem forte dos militares no Nordeste, o general Justino Alves Bastos. Este se disse surpreso e mandou o coronel Antonio Bandeira ir até a casa do arcebispo para fazer sair os soldados e evitar a prisão das três pessoas que se refugiaram lá. Foi o primeiro problema do arcebispo com os militares; outros, mais tensos e sem final feliz, ocorreriam mais tarde.
A postura de Dom Helder ficara clara desde o seu discurso de posse – uma histórica peça de coragem num momento em que mandatos eram cassados e as cadeias viviam abarrotadas de presos políticos. “Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, antirreformistas ou reformistas, antirrevolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa-fé ou de má-fé”, afirmou ele. “Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno.” Falou também do seu tema preferido: “(…) cuidaremos dos pobres, velando sobretudo pela pobreza envergonhada e tentando evitar que da pobreza se resvale para a miséria”.
O pronunciamento saiu nos jornais; o que não saiu foram os preparativos que Dom Helder fez para a sua elaboração e divulgação, mais um exemplo de como ele agia nos bastidores. “O Comando Supremo da Revolução pode achar ruim”, conta em carta na véspera da posse. “Hoje, se Deus quiser, e sobretudo amanhã, espero articular-me com os bispos do Nordeste. Contra um é fácil agir; se a Região inteira estiver unida, já dá mais trabalho”.
O “Comando Supremo” achou ruim, mas não reclamou naquele momento. Reclamaria muito depois, à medida que o arcebispo começou a agir e a falar. Não só o Comando Supremo; igualmente intelectuais favoráveis ao regime militar, como o dramaturgo Nelson Rodrigues e o sociólogo Gilberto Freyre. Em uma de suas tiradas mais célebres, Nelson dizia que Dom Helder só olhava para o céu para saber se ia chover. Era o tom costumeiro das críticas ao arcebispo, que o acusavam de “ser mais político que religioso”. Já as afirmações de Freyre tinham menos graça, mas eram igualmente difamatórias. Em artigo para O Estado de S. Paulo de 23 de agosto de 1966, ele o compara ao nazista Goebbels, “até pela semelhança física”.
Escrito por Vandeck Santiago
Não se passaram nem 48 horas de sua posse como arcebispo de Olinda e Recife e Dom Helder logo viu o que estava por vir. Quatro soldados armados de metralhadora invadiram o palácio da arquidiocese para prender o francês Pierre Gervaiseau, que estava acompanhado de Violeta Arraes (irmã de Miguel Arraes) e Maria Antonia McDowell. Os três haviam entrado na arquidiocese fugindo à perseguição dos soldados.
O fato não saiu nos jornais; é descrito na carta que o arcebispo escreveu em 14 de abril de 1964, incluída no I Tomo de Circulares interconciliares. Pierre estava sendo procurado como “espião francês”, ligado ao Partido Comunista Francês, coisa que ele nunca fora – trabalhava com um padre francês, no Recife. “Tentei fazer ver aos rapazes a gravidade do que faziam: invadir de metralhadora a casa do arcebispo…”, conta Dom Helder, que em seguida ligou para o homem forte dos militares no Nordeste, o general Justino Alves Bastos. Este se disse surpreso e mandou o coronel Antonio Bandeira ir até a casa do arcebispo para fazer sair os soldados e evitar a prisão das três pessoas que se refugiaram lá. Foi o primeiro problema do arcebispo com os militares; outros, mais tensos e sem final feliz, ocorreriam mais tarde.
A postura de Dom Helder ficara clara desde o seu discurso de posse – uma histórica peça de coragem num momento em que mandatos eram cassados e as cadeias viviam abarrotadas de presos políticos. “Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, antirreformistas ou reformistas, antirrevolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa-fé ou de má-fé”, afirmou ele. “Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno.” Falou também do seu tema preferido: “(…) cuidaremos dos pobres, velando sobretudo pela pobreza envergonhada e tentando evitar que da pobreza se resvale para a miséria”.
O pronunciamento saiu nos jornais; o que não saiu foram os preparativos que Dom Helder fez para a sua elaboração e divulgação, mais um exemplo de como ele agia nos bastidores. “O Comando Supremo da Revolução pode achar ruim”, conta em carta na véspera da posse. “Hoje, se Deus quiser, e sobretudo amanhã, espero articular-me com os bispos do Nordeste. Contra um é fácil agir; se a Região inteira estiver unida, já dá mais trabalho”.
O “Comando Supremo” achou ruim, mas não reclamou naquele momento. Reclamaria muito depois, à medida que o arcebispo começou a agir e a falar. Não só o Comando Supremo; igualmente intelectuais favoráveis ao regime militar, como o dramaturgo Nelson Rodrigues e o sociólogo Gilberto Freyre. Em uma de suas tiradas mais célebres, Nelson dizia que Dom Helder só olhava para o céu para saber se ia chover. Era o tom costumeiro das críticas ao arcebispo, que o acusavam de “ser mais político que religioso”. Já as afirmações de Freyre tinham menos graça, mas eram igualmente difamatórias. Em artigo para O Estado de S. Paulo de 23 de agosto de 1966, ele o compara ao nazista Goebbels, “até pela semelhança física”.
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