Um poema de Natal de Tolentino Mendonça
Quando despontarem as primeiras luzes do Seu cortejo ainda nos faltará tudo: o azeite na almotolia, um alfabeto que descreva com outra firmeza o azul, formas indivisíveis para este amor, que só em fragmentos e numa gramática imprecisa conseguimos viver. Quando despontarem as primeiras luzes estaremos talvez longe: à altura dos olhos continuaremos a trazer a mesma indisfarçável solidão as mesmas mediações ilegíveis através do tempo as mesmas demoras tatuadas. O Seu advento encontra-nos sempre impreparados e, contudo, este é o momento em que por puro dom se nasce. A Sua vinda testemunha o que não sabíamos ainda: a nossa frágil humanidade é narração da autobiografia de Deus. José Tolentino Mendonça |
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