11/02/2012

Porto: Bispo fala dos católicos como «pequeno rebanho» em sociedade descristianizada

D. Manuel Clemente passa em revista primeiros cinco anos à frente da diocese

Porto, 10 fev 2012 (Ecclesia) – O bispo do Porto considera que os católicos da diocese podem ser vistos como um “pequeno rebanho” no contexto de uma sociedade cada vez menos cristã, “sobretudo em meios urbanos e suburbanos”.
D. Manuel Clemente, nomeado para o cargo em fevereiro de 2007 por Bento XVI, falava esta quinta-feira no encerramento das jornadas de teologia que decorreram no núcleo do Porto da Universidade Católica Portuguesa.
Na intervenção, hoje enviada à Agência ECCLESIA, o prelado referiu que as imagens de “fermento na massa, minúscula semente a germinar num campo largo, pequeno rebanho por aqui e ali”, utilizadas nos evangelhos, “são novamente as mais adequadas” para definirem os cristãos “no mundo e para o mundo”.
“Que significam mil ou dois mil ‘praticantes’ habituais em freguesias de dezenas de milhares de habitantes?”, questionou.
Esta passagem da conferência levou o Gabinete de Comunicação diocesano a emitir esta manhã um esclarecimento, assinado pelo padre Américo Aguiar, vigário geral, relativamente a um artigo publicado por um jornal nacional, segundo o qual Diocese do Porto teria apenas "dois mil fiéis".
“Certamente, por lapso, foi confundida a ‘Diocese’ com ‘freguesia’", assinala o documento.
Para D. Manuel Clemente, esta realidade “contraria qualquer autodefinição ‘cristã’ ou ‘católica’ que, como sociedade” se pretendesse manter.
O também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa observa, contudo, que “é ainda expressiva a presença de católicos no mundo das IPSS e em várias organizações de todo o tipo da sociedade civil”.
“Direi, em suma, que temos débitos, mas também créditos, para passarmos duma pastoral de ‘manutenção’ para o que mais urge agora como ‘fermentação’ evangélica duma sociedade diferente, que está irremediavelmente aí – para não dizer ‘aqui’ -, como mentalidade e cultura”, assinalou.
O bispo do Porto recordou a intenção de conhecer a diocese, declarada como “primeira alínea” do seu programa, há cinco anos, falando numa “realidade dinâmica e movediça”.
“Basta referir que, só no respeitante ao clero, falecendo cerca de doze padres em cada ano, ordenei apenas nove em todo este lustro, e meia centena de diáconos”, exemplificou.
Este responsável admitiu que existem, pontualmente, dificuldades dentro das comunidades cristãs “no tocante ao número e à preparação de leigos”.
Neste sentido, acrescentou, “urge a ‘nova evangelização’ de quem abandonou a praxis cristã, ou não foi nela verdadeiramente iniciado, ou dela está parcialmente privado por situação pessoal irregular, em especial no que ao matrimónio respeita”.
A diocese do Porto tem mais de 2 milhões de habitantes desde o litoral atlântico do norte de Portugal ao interior, com uma área de 3010 quilómetros quadrados, que engloba 26 concelhos, 17 dos quais pertencem ao distrito do Porto, oito ao distrito de Aveiro e um ao distrito de Braga.
“Estamos já tão longe de alegadas coincidências Igreja-sociedade, como longe se encontra agora, por exemplo, a solenidade do Corpo de Deus de representar a incorporação da sociedade na Igreja, que noutros tempos significaria”, disse D. Manuel Clemente.
D. Manuel Clemente apelou à “potenciação evangélica dalgumas manifestações mais comuns da religiosidade e piedade populares” e sublinhou o crescimento do “dinamismo missionário” no seio das comunidades católicas.
OC

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