13/03/2012

Cuidadores de doentes terminais

J. B. Libanio
Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano
Adital
A morte chega de muitas maneiras. Ora sem nenhum aviso prévio, em terrível surpresa por acidente, por infarto fulminante ou por algum AVC fatal. Ora ela avisa lentamente a proximidade pelos anos prolongados, por doenças degenerativas, pelo câncer incurável e em avanço até o momento em que se divisa a reta final.
No primeiro caso, os cuidados voltam-se para os familiares golpeados abruptamente pela partida de ente querida. Nada a fazer com quem nos deixou, já que não se nos abriu nenhuma brecha entre o golpe final e a morte. O consolo aos parentes e amigos apela a diversas visões humanas e de fé em face da morte.
No caso da morte anunciada, o enfermo carece de ajuda especial para preparar-se para a passagem. Todas as experiências humanas podem ter alguma companhia física, exceto a morte. Cada um a faz por ele mesmo e sozinho. Mesmo duas pessoas morrendo no mesmo acidente, não morrem juntas, mas na distância intransponível da solidão absoluta da morte. Na fé, porém, sabemos que ninguém faz a última passagem sem companhia. Na oração dos agonizantes pedimos que os anjos assistam o moribundo. O termo anjo se estende a toda a Igreja da glória, começando pela presença da própria Trindade, da Virgem Maria e dos santos.
Entreguemos aos céus o encaminhamento último e perguntemo-nos como cuidar do doente terminal enquanto estiver entre nós, seja ainda no tempo de lucidez, seja mesmo quando se lhe apaguem os últimos neurônios da consciência.
No momento em que o enfermo se depara com a proximidade certa da morte, corta-lhe o coração terrível dor. Sou eu mesmo e por quê? Não, não pode ser verdade. Tempo da negação, do isolamento. Momento difícil para acompanhar o enfermo. Rói-lhe o interior o sentimento de injustiça. Por que ele está nesse estado terminal? Tal percepção vem-lhe de uma intuição que nasce do próprio corpo e das circunstâncias. Embora não se fale da gravidade da doença e ele mesmo conscientemente a silencie, no fundo tudo em volta respira tal situação de fatalidade. Trava-se-lhe dentro a batalha da verdade e da aceitação da verdade a respeito da própria situação. Ele corre atrás de algum médico que lhe diga palavra, ainda que não verdadeira, do consolo da cura. Visita os lugares de milagres. Pessoas que estavam longe da religião, entregam-se a devoções na esperança de vencer a doença. E com a atual abundância de pastores e de grupos carismáticos pregando e semeando curas, o paciente corre atrás deles.
Mas o verdadeiro cuidado não nasce de promessas que nos escapam. Porque da desilusão de não se curar brota a revolta. Em vez de bem espiritual, ao acenar aos doentes impossíveis curas, quando o caso já chega ao fim, geramos, não raro, ressentimento. Toca-nos ajudar a pessoa a aceitar a morte na esperança da vida eterna. Aí está a grande mensagem do Cristianismo!

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