Padre Geovane Saraiva*
Sonhar com uma civilização ideal, com um povo
organizado, vivendo em boas condições, com equilíbrio, justiça e paz, em um
lugar e em um mundo possível, não só no futuro, mas já no presente, no tempo
real, esta foi, durante toda vida, a luta do peregrino da paz, Dom Helder
Câmara.
Carregou dentro de si os grandes problemas e
desafios da humanidade do seu tempo, tais como: dois terço da humanidade
passando fome; a distância entre países pobres e ricos; o constante apelo ao
desenvolvimento social; o desemprego no Brasil e no mundo inteiro; todo tipo de
preconceito: raciais, étnicos e religiosos é sua grande bandeira; quer a
cidadania, o pobre se colocando como sujeito da sua própria história; abre os
olhos para uma tomada de consciência dos pecados sociais; propõe a não
violência ativa como meio de solucionar os conflitos sociais; condena todo tipo
de guerra como solução para os conflitos sociais e condena com veemência todas
as formas de exclusão social.
Ele não só pensou e imaginou, mas teve clareza e
persistência e, com suas idéias fixas, aspirou por mundo segundo a vontade
Deus, de tal modo que os seus sonhos e suas utopias transformaram-se em
realidade. Essa afirmação nos faz pensar nas suas obras e realizações em favor
da humanidade. É só olhar para seus escritos, poemas e pensamentos. Sua
fidelidade a Deus e ao povo o fez manter-se acordado, olhando para dentro de si
e, ao mesmo tempo, externando-a através dos sonhos e utopias.
Como Abraão, acreditou, sem jamais perder a
esperança. Daí as marcas profundas deixadas por este homem de Deus. No ano do
seu centenário, percebemos, com todas as evidências, tudo o que ele representou
para o Brasil e para o mundo, como símbolo, como patrimônio e, sobretudo, como
referencial. Por isso, mesmo que alguém ou grupo tentem ofuscar ou neutralizar,
não irão destruí-lo nunca. A história o tem e o terá sempre como imortal.
Dom Helder, pastor da paz e da ternura, sentia-se honrado
quando seus inimigos o acusavam de utópico e demagogo, porque se aproximava do
“cavaleiro andante”. Ele, na sua maneira de ver o mundo e com os seus sonhos,
dizia-lhes: “Comparar-me a Dom Quixote, está longe de ser uma nota
depreciativa” e acrescentava: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo
se não fossem os sonhadores”.
Hoje, diante do avanço que experimentamos no mundo
inteiro, nem sempre positivo, deve-se aos sonhadores. Dom Demétrio Valentini,
bispo de Jales – SP, afirmou: “Dom Helder foi indiscutivelmente um grande poeta
e um sonhador das grandes utopias humanas e cristãs” (cf. Adital, 04.02.2009).
Os sonhadores e os utópicos, a exemplo de Dom Helder, mudaram e continuarão a
mudar a história da humanidade, porque aventura e fascínio maior não é só
sonhar, mas, sobretudo, ver os sonhos transformados em realidade.
Poeta e um sonhador, ele o foi. Eu, porém, digo que
ele foi muito mais: foi um santo, porque forte e corajoso, ao mesmo tempo em
que se igualou ao menor dos menores. Guardemos esse seu pensamento: “Quem
aceita o impossível como uma realidade e acolhe o mistério como bebe água? Sem
dúvida, as crianças, os embriagados, os loucos, os poetas e os santos”.
Urge não ter medo da utopia, como aquele lugar que
parece não existir, como um mundo possível e harmônico, já aqui e agora. Dom
Helder, homem dos grandes sonhos e das realidades últimas, gostava de repetir:
“Quando se sonha sozinho, é apenas um sonho, mas quando se sonha em mutirão, já
é uma realidade”.
Nenhum comentário :
Postar um comentário