16/03/2012

O SONHO TORNOU-SE REALIDADE




Padre Geovane Saraiva*

Dom Helder soube vencer e ultrapassar as barreiras do assistencialismo, quase sempre necessário, indo ao encontro da justiça e da paz, não apenas apontando os caminhos quelevassem os homens a um mundo mais justo, solidário e humano, mas ele foi concreto, porque colocou toda sua vida a serviço da humanidade, através das suas ações, gostos e práticas pastorais.

Sonhar com uma civilização ideal, com um povo organizado, vivendo em boas condições, com equilíbrio, justiça e paz, em um lugar e em um mundo possível, não só no futuro, mas já no presente, no tempo real, esta foi, durante toda vida, a luta do peregrino da paz, Dom Helder Câmara.

Carregou dentro de si os grandes problemas e desafios da humanidade do seu tempo, tais como: dois terço da humanidade passando fome; a distância entre países pobres e ricos; o constante apelo ao desenvolvimento social; o desemprego no Brasil e no mundo inteiro; todo tipo de preconceito: raciais, étnicos e religiosos é sua grande bandeira; quer a cidadania, o pobre se colocando como sujeito da sua própria história; abre os olhos para uma tomada de consciência dos pecados sociais; propõe a não violência ativa como meio de solucionar os conflitos sociais; condena todo tipo de guerra como solução para os conflitos sociais e condena com veemência todas as formas de exclusão social.

Ele não só pensou e imaginou, mas teve clareza e persistência e, com suas idéias fixas, aspirou por mundo segundo a vontade Deus, de tal modo que os seus sonhos e suas utopias transformaram-se em realidade. Essa afirmação nos faz pensar nas suas obras e realizações em favor da humanidade. É só olhar para seus escritos, poemas e pensamentos. Sua fidelidade a Deus e ao povo o fez manter-se acordado, olhando para dentro de si e, ao mesmo tempo, externando-a através dos sonhos e utopias.



Como Abraão, acreditou, sem jamais perder a esperança. Daí as marcas profundas deixadas por este homem de Deus. No ano do seu centenário, percebemos, com todas as evidências, tudo o que ele representou para o Brasil e para o mundo, como símbolo, como patrimônio e, sobretudo, como referencial. Por isso, mesmo que alguém ou grupo tentem ofuscar ou neutralizar, não irão destruí-lo nunca. A história o tem e o terá sempre como imortal.

Dom Helder, pastor da paz e da ternura, sentia-se honrado quando seus inimigos o acusavam de utópico e demagogo, porque se aproximava do “cavaleiro andante”. Ele, na sua maneira de ver o mundo e com os seus sonhos, dizia-lhes: “Comparar-me a Dom Quixote, está longe de ser uma nota depreciativa” e acrescentava: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo se não fossem os sonhadores”.

Hoje, diante do avanço que experimentamos no mundo inteiro, nem sempre positivo, deve-se aos sonhadores. Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales – SP, afirmou: “Dom Helder foi indiscutivelmente um grande poeta e um sonhador das grandes utopias humanas e cristãs” (cf. Adital, 04.02.2009). Os sonhadores e os utópicos, a exemplo de Dom Helder, mudaram e continuarão a mudar a história da humanidade, porque aventura e fascínio maior não é só sonhar, mas, sobretudo, ver os sonhos transformados em realidade.

Poeta e um sonhador, ele o foi. Eu, porém, digo que ele foi muito mais: foi um santo, porque forte e corajoso, ao mesmo tempo em que se igualou ao menor dos menores. Guardemos esse seu pensamento: “Quem aceita o impossível como uma realidade e acolhe o mistério como bebe água? Sem dúvida, as crianças, os embriagados, os loucos, os poetas e os santos”.

Urge não ter medo da utopia, como aquele lugar que parece não existir, como um mundo possível e harmônico, já aqui e agora. Dom Helder, homem dos grandes sonhos e das realidades últimas, gostava de repetir: “Quando se sonha sozinho, é apenas um sonho, mas quando se sonha em mutirão, já é uma realidade”.

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