03/04/2012

Alegria da juventude



Dom Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Neste momento estamos reunidos com jovens representantes de quase cem conferências episcopais e quase cinquenta comunidades internacionais, nos arredores de Roma, para aprofundar o trabalho de evangelização da juventude através das jornadas mundiais. Após a apresentação de Madrid foi a vez de o Rio de Janeiro apresentar sua organização. Ao final, um estudo sobre a juventude hoje e, no domingo de Ramos, a missa na Praça de São Pedro presidida pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI, retornando de sua viagem ao México e a Cuba.

Neste final de semana em que celebramos a Jornada Diocesana da Juventude com o tema da Alegria, aprofundado na mensagem papal, creio que podemos, ao iniciar a Semana Santa neste Domingo de Ramos, continuar ecoando as nossas preparações para a JMJ do Rio de Janeiro em julho de 2013.

“Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19). Esse é o tema da XXVII JMJ proposto pelo Papa e que será o marco de reflexão e oração dessa Jornada. Para nós, bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, consagrados e fiéis católicos do Brasil, é uma honra e imensa alegria poder acolher os jovens que confluirão de todos os cantos da Terra. Evento que relembra Pentecostes, momento em que Deus, em sua infinita misericórdia, infundiu um novo ânimo nos corações dos apóstolos, transformando-os em anunciadores destemidos da Palavra de Deus. A Igreja primitiva se transforma, unidos em Maria, em Igreja missionária. (Cf. At 1,14)

A força e o ardor apostólico, infundidos pelo Espirito de Deus, lembram o vigor e a plenitude de vida que caracterizam a Juventude. E é essa juventude que marcará presença no Brasil. Eles escutaram ao chamado do sucessor de Pedro e desejam navegar na Barca da Igreja.

Será uma ocasião em que todos, especialmente os jovens, renovarão o amor e a alegria de serem amigos queridos de Cristo. Jovens que virão para escutar o que Cristo deseja deles. O Cristo Redentor com os braços abertos é a imagem perfeita do desejo de acolhida que paira no coração de todos os que estamos organizando a JMJ Rio 2013.

Todos os preparativos estão em marcha. Uma rede de milhares de voluntários foi colocada em ação. É impressionante ver o número ingente de pessoas interessadas em ajudar pessoalmente neste evento. Contudo, um primeiro alerta deve ser evidenciado. Diante de um evento de tal magnitude, podemos cair no perigo de deixar-nos levar pelo ativismo. Por isso, instauramos a vigília de orações pela Jornada e agora começamos a difundir a oração oficial da mesma.

Como acolher a tantos? Onde realizar as diversas atividades? Como garantir transporte, segurança e alimentação para todos os peregrinos? Essas são inquietações válidas, importantes e necessárias. As perguntas mais apresentadas nesses dias de encontros em Roma e arredores: há segurança, deslocamentos, transportes e hospedagem? Não só no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil, pois os "dias nas Dioceses" se transformaram em "dias missionários" no Brasil. Há um esforço de toda a Igreja e o apoio do Governo para que a logística do evento seja perfeita. 
Contudo, toda a organização seria vazia e sem sentido se não estivessem alicerçadas no único necessário: Cristo. É desde Cristo, de seu coração e desejos que nascem a energia e espírito para cumprir essa belíssima missão confiada à Igreja do Brasil.

A única pergunta que realmente importa é: O que Cristo deseja dos jovens? Esse não é um questionamento que brota perdido entre tantos. Mas é a fonte que dá sentido e fundamento a tudo. Se respondermos com sinceridade a essa pergunta essencial, descobriremos que ela coincidirá com outro questionamento: O que os jovens desejam e esperam da Igreja?

A resposta é óbvia, mas de difícil assimilação. Cristo deseja simplesmente habitar no coração da juventude e os jovens desejam simplesmente a Cristo. “Senhor, quem há de morar em vosso tabernáculo? Quem habitará em vosso Santo Monte?” (Sl 14,1). É isto que desejamos, como Igreja, oferecer aos jovens. Que este evento multitudinário seja o momento para o encontro pessoal e renovador com Cristo.

Outro perigo é o de reduzir e deturpar o verdadeiro significado e dimensão que é próprio da Jornada. Haverá muita festa, alegria e milhões de jovens reunidos? Sim, com certeza. No entanto, o encontro com Cristo exige uma dimensão mais profunda. A Jornada cumprirá seu papel e missão se for não apenas mais um encontro, mas “o” Encontro.

Somos criados para o Absoluto, nosso ser possui fome de palavra. Essa Palavra é Cristo! O Logos encarnado. O Absoluto que entra na história para resgatar a humanidade do egoísmo advindo pelo pecado original. (Cf. Jo 1, 1ss).

Cristo é a palavra viva que resgata o jovem do perigo de fechar-se em si mesmo. A Jornada é o momento espetacular para o encontro com o outro, com o irmão, e descobrir que não estamos sós. Que a sede de infinito que palpita no coração de cada jovem é uma realidade universal, pois a palavra humana é espiritual, e foi depositada no momento em que Deus nos chamou para a existência por meio de sua “Palavra”.

Por isso, independente dos belos e importantes particularismos próprios de cada cultura, existe o Verbo Divino que nos une. Possuímos irmandade universal, que nasce de nossa Paternidade espiritual. É a filiação divina resgatada por Cristo o fundamento da Jornada (Cf. 1Jo 3,2). A alegria que brota das JMJ não é fruto do acaso e nem do mero esforço da organização humana. Ela nasce do reconhecimento do rosto de Cristo no outro. É a manifestação de que se tocou na essência do cristianismo.

Através, e com o outro, a Jornada permite romper o encanto das sereias do pecado, que apenas desejam afundar o barco de nossas vidas. Livres de sua magia enganadora, encontramos com a verdade plena, com o único necessário capaz de responder a ânsia de infinito: o Outro, que é Cristo. A “Palavra”, que é Amor!

Os olhos cheios de vida, o sorriso estampado em cada rosto, os joelhos dobrados diante da Eucaristia, e os cantos que sempre ecoam nas ruas durante as jornadas são reflexos da beleza divina. A verdadeira alienação é viver longe de Deus. A JMJ, que se fundamenta em Cristo, nunca será um eco esquecido no passado, mas sempre terá uma força que impulsionará a nova evangelização.

Ide e fazei discípulos entre todas as nações (Mt 28,19). É isso o que, através do sucessor de Pedro, Cristo deseja dos jovens. Nosso Senhor deseja uma Igreja missionária que não tenha medo de: em primeiro lugar, abrir de par em par nossos corações a Cristo. Exortação contínua e incessante de nosso querido e amado Beato João Paulo II. E em segundo lugar, que não tenha medo de anunciar com testemunho a boa nova de Cristo ao mundo.

O jovem, como todo cristão, possui a vocação eminentíssima de ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5, 13-14). Não há vocação e maior alegria do que viver e transmitir com entusiasmo a mensagem de amor que é o mesmo Cristo. Ele necessita dos jovens e os jovens necessitam de Cristo. Ele é a fonte infinita de felicidade que pode saciar a sede infinita presente em cada ser humano.

Não devemos ter vergonha de nossa fé. Não podemos baixar a cabeça diante de posturas que querem reduzir nossa fé ao estritamente privado. Não desanimemos diante daqueles que nos querem dividir! A fé dá uma contribuição imprescindível para a sociedade. Ela encorajou a defesa e promoção de tudo que dignifica a condição humana e dos seus direitos fundamentais.
Somos chamados a recordar que a crise atual da humanidade, que se manifesta nos problemas econômicos e injustiças sociais, possui sua origem “numa profunda crise de tipo espiritual e moral que deixou o homem sem valores e desprotegido contra a ganância e o egoísmo de certos poderes que não têm em conta o bem autêntico das pessoas e das famílias” (Bento XVI, Cerimônia de Boas Vindas, Santiago de Cuba, 27 de março de 2012). A pessoa humana, em todas as suas dimensões, deve ser o centro e coração de nossa sociedade. Não devemos ceder à “mentalidade utilitarista, que acaba sempre por sacrificar os mais frágeis e indefesos”. (Bento XVI, Cerimônia de despedida, Guanajuato, México, 26 de março de 2012). O  jovem é o principal promotor dessa mensagem de esperança. Em seus olhos brilham, como testemunho fiel, as palavras de Cristo: “Coragem, Eu venci o mundo!” (Jo 16,33)

A JMJ RIO 2013 coincidirá com o Ano da Fé, cujo objetivo é “redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (Porta Fidei, 2). Será um impulso que dará nova força e ânimo para a Missão Continental lançada na Conferência de Aparecida. E para fazer brilhar os tesouros da fé presentes no Catecismo da Igreja Católica e nos Documentos do Concílio Vaticano II.

Após 25 anos, a Jornada Mundial da Juentude retorna ao continente da Esperança. Estamos nos preparando – através do trabalho, da oração, da reflexão, da vivência litúrgica e comunitária – para receber os jovens que estarão no Rio de Janeiro junto com o Papa, o Sucessor de Pedro e Vigário de Cristo.

“Ajude-nos a companhia sempre próxima, cheia de compreensão e ternura, de Maria Santíssima. Que ela nos mostre o fruto bendito de seu ventre e nos ensine a responder “sim”, como ela fez no Mistério da Anunciação e Encarnação. Que nos ensine a sair de nós mesmos no caminho de sacrifício, de amor e serviço, como fez na visita à sua prima Isabel, para que, peregrinos a caminho, cantemos as maravilhas que Deus tem feito em nós, conforme a Sua promessa.

Guiados por Maria, fixamos os olhos em Jesus Cristo, autor e consumador da fé, e dizemos a Ele, como o Sucessor de Pedro: “Fica conosco, pois cai a tarde e o dia já declina” (Lc 24,29).” (Documento de Aparecida, nn.553-554)

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