Esperança feminina

Artigo de Dom Aldo para o Correio da Paraíba (15/04/2012)

Após 4 anos de preparação e grande expectativa, sob a inspiração do carisma de Frei Hans Stapel, inauguramos neste Domingo, dia 15 de abril, o ramo feminino da Fazenda da Esperança, situada no município de Alhandra (PB), nas proximidades de Mata Redonda. Reportagens constantemente veiculadas pela mídia certificam a pandemia da droga, hoje em sua versão mais agressiva e deletéria, com a facilidade de obtenção do crack (e oxi). Ao tempo em que rapazes e moças tentam recuperar-se, o narcotráfico alicia e coopta milhares entre eles. A dependência química alcançou o nível crônico. As Varas da Infância e Juventude, atuantes nos diversos Estados do País, identificam adolescentes e jovens infratores como dependentes químicos.

Causa-nos perplexidade o tráfico do crack que alicia e praticamente intimida crianças cooptadas como “aviõezinhos”, aliciadas em práticas que as desviam para o ocaso. Configura-se uma situação de desespero de causa perante casos considerados irrecuperáveis. O recrudescimento de assaltos e de mortes, por ajuste de contas entre traficantes, leva a população à exasperação. Sequer os pequenos sítios ao redor das cidades próximas à Capital são poupados por práticas de assaltos e roubos.

O descrédito da população em relação às autoridades e instituições provém da discrepância entre os discursos e uma prática efetiva de prevenção e repressão. A tentação é fazer justiça com as próprias mãos - erro gravíssimo. É urgente tratar e acompanhar casos desesperadores, sejam vítimas da droga ou reféns de drogados. Faltam recursos para garantir a infraestrutura ideal para a recuperação de milhares de jovens. A Fazenda da Esperança oferece acolhimento e tratamento aos que aceitam recuperar-se. A metodologia utilizada é modesta, mas eficaz. Parte da mística da oração e trabalho resgata concretamente o próprio ambiente de pertença e convivência familiar. Enfim, constroem-se elos fraternos. Tal convívio parte da Palavra de Deus que mexe com a alma de cada um e com a vida do dia a dia. A abertura confiante à Palavra possibilita a transformação de milhares de jovens precisados de se regenerar.

Os adolescentes e jovens passam à aceitação da cruz da própria responsabilidade e assim conseguem recuperar os vínculos familiares e societários. Da cruz de Cristo brota vida e salvação! Esse método colabora decisivamente para a não reincidência na dependência química e na prática do crime. Nossa sugestão para os planos de políticas públicas é a qualificação de educação escolar com metas de profissionalização para adolescentes e jovens. Sem isso não há recuperação. Se não há disciplina os adolescentes e jovens que ficam “soltos” envolvem-se com a droga. Grandes ou pequenos, traficantes os recrutam para a criminalidade. A melhor forma de prevenção é reprimir o crime, pela qualificação de estudo e trabalho. “Principiis obsta”. O mal se reprime na sua origem.

Dom Aldo Pagotto, sss
Arcebispo Metropolitano da Paraíba