02/04/2012

Reynaldo Gianecchini: "Recebi de rabino à macumbeira. Ouvi sugestões de todos os tratamentos alternativos"

O presente é febril para Reynaldo Gianecchini. Uma febre boa, de volta à vida. Num spa no início de março, fez pilates, watsu e massagem “para tirar toda a química do corpo”. Também foi para Fernando de Noronha tomar banho de mar e conheceu Inhotim, o museu de arte a céu aberto em Minas Gerais. E achou sensacional. “Tudo hoje é muito mais prazeroso para mim”. Com vocês, Giane: o menino, o filho, o modelo, o ator e o amante

Por Ruth de Aquino. Foto Fernando Louza

Styling: Fernanda Ary / Reynaldo Gianecchini veste: Paletó Ermenegildo Zegna, t-shirt Lacoste e calça Calvin Klein Jeans
Quando ele era criança, os amiguinhos de Birigui, no interior paulista, o chamavam de “Rey”, abreviatura de Reynaldo, primeiro nome, o mesmo do pai. Era o caçula de duas irmãs. Tão bonito e sorridente que as vizinhas e as tias faziam fila para dar banho nele e levá-lo para passear. É Gianecchini quem conta essa e muitas outras histórias para a Marie Claire. Histórias anteriores à fama, desconhecidas do público que sempre o viu como galã de sorriso matador.
“Essa conexão forte com o universo feminino, cercado de irmãs, primas e tias, me fez um homem mais sensível. Tenho muita sorte. Sou sempre adotado pelas mulheres. Colegas de trabalho, namoradas. Fortes, ousadas, inteligentes. Elas me ensinaram e ajudaram muito”. Gianecchini                                                Styling: Fernanda Ary / Reynaldo Gianecchini veste: Paletó Ermenegildo Zegna, t-shirt Lacoste e calça Calvin Klein Jeans
foi casado durante oito anos com a apresentadora Marília Gabriela, 24 anos mais velha que ele. “A primeira vez que vi Marília de perto eu era um moleque de 17, ela nem olhou para mim. Eu tinha medo de chegar perto e ela perguntar: ‘O que esse franguinho está fazendo aqui?’”.
O ator fala das primeiras peças encenadas na escola, antes dos 10 anos de idade. “Eu pedia o teatro de 500 lugares para a diretora, eu era cara de pau”. Lembra também o sonho de ser diplomata, “para conhecer o mundo a trabalho”. A luta para pagar as contas na “megalópole”, como ele chama a cidade de São Paulo. Estudava Direito na PUC, era estagiário em escritório de advocacia, fazia trabalho de office boy. “Meu pai, italianão, me financiava e eu sabia que ele só me respeitaria quando eu fosse independente”.
Recorda a estreia como modelo fotográfico. “Uma agência me descobriu numa festa, e logo vi que posar e desfilar dava dinheiro”. Confessa a vergonha inicial de contar aos pais. “Os dois sempre foram professores, davam valor ao conhecimento, à formação, e escondi deles por um tempo”. Fala da alegria ao perceber que podia ganhar a vida como ator, sua paixão maior. Não precisava depender só da estampa. “Era bom morar em Nova York, Paris, Tóquio como modelo, mas eu queria algo mais. Transcender. Aprender. Queria mergulhar na vida de outros personagens. Fazer drama, comédia, o que fosse, sem preconceito.”
Giane – como é conhecido entre os amigos – voltou a se sentir rei em sua reestreia no teatro, dia 13 de março, após a batalha bem-sucedida contra um câncer agressivo no sistema linfático. A plateia o aplaudiu de pé antes que pronunciasse a primeira palavra do vilão de Cruel, peça baseada em texto do sueco August Strindberg. Os aplausos não eram apenas para o ator, mas para o homem. Por sua garra e inspiração. Giane chorou no palco ao agradecer a uma pessoa: “O ser iluminado que tenho como mãe”.
Mais forte após uma semana num spa, onde malhou “depois de nove meses sem mexer um músculo”, Giane se dedica a uma rotina saudável. Faz pilates, voltou a nadar, cuida da alimentação, faz aula de voz, quer estudar dança, e espera a cabeleira crescer para gravar no Rio uma nova versão da clássica novela Guerra dos Sexos. Por enquanto, a careca até o ajuda a dar mais impacto ao personagem malvado no palco. Está com 83 quilos bem distribuídos em seu 1,86m. Ele diz que ainda faltam músculos. Faltam mesmo?
Quando encontrei Giane em seu apartamento, na região paulistana dos Jardins, para uma conversa intensa regada à meia dúzia de copos d’água, percebi que estava diante do “Rey” de Birigui, o garoto do interior, aquele mesmo que via o mundo lá fora com encantamento. Descobri alguém que eu não conhecia.
"Não posso me descuidar. Fiquei viciado
em examinar os neutrófilos, que medem
meu sistema imunológico”
Marie Claire Como você se sente de novo no teatro?
Reynaldo Gianecchini É uma coisa muito maluca. Voltei com um novo olhar. Outro tempo de fala. Tornei-me outro personagem. O tempo por si só já faz a gente amadurecer. Mas esses últimos oito meses foram preenchidos com um mergulho profundo dentro de mim. É como se agora eu degustasse cada palavra, com todas as intenções.

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