Pelo menos 15 haitianos atravessaram as fronteiras, receberam visto e escolheram cidades do Distrito Federal para residir depois do terremoto de 2010. A boa notícia é que, como são qualificados, conseguiram emprego principalmente no setor da construção civil para construir uma nova realidade de vida.
Segundo o Ministério da Justiça, esses haitianos, como formam mão-de-obra qualificada, têm facilidade para conseguir emprego. Alguns deles, têm nível superior, mas chegaram dispostos a serviços de base para sobreviver. Além do papel do governo em fornecer vistos para imigrantes vindos do país arrasado pela catástrofe, organizações não-governamentais, além de comunidades religiosas, têm apoiado os haitianos. As Irmãs Scalabrinianas tem assumido com afinco o serviço de defesa da causa destes imigrantes: os ajudam a conseguir emprego, moradia, legalizar documentos e estudar a língua portuguesa.
Calvário - Há mais ou menos um ano, a cidade de destino desses imigrantes era Manaus. Hoje, o país registra presença de haitianos no norte, no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste. No Distrito Federal, de acordo com informações dos próprios haitianos, eles estão, no Varjão, Santa Maria, Taguatinga e Ceilândia. Eles afirmam ainda que a escolha desses lugares se deve ao fato de não precisarem de fiador.
"Vim para o Brasil para buscar uma vida melhor. O Haiti é um país pequenino. O Brasil é muito maior que o Haiti, muito grande. Os haitianos que estão no Haiti, tem relação boa com o Brasil, os brasileiros gostam muito dos haitianos e entendem que os haitianos que entram aqui vieram para trabalhar e ajudar seus familiares que estão no Haiti", disse Jocelyn Assilien, 33.
Jocelyn é solteiro, tem o pai e seis irmãos no Haiti. Perdeu a mãe ainda quando era criança. Um dos irmãos foi tentar a vida na República Dominicana, pais vizinho. "No Haiti eu trabalhava numa fábrica de leite. Estudei até o sexto ano. Se Deus me preparou para eu vir para o Brasil é porque Ele quer que eu ajude a minha família e busque uma vida melhor", afirma.
Para chegar no Brasil a rota que os imigrantes tem que fazer não é muito simples, até mesmo pelo fato de que a maioria entra no país de maneira ilegal. Do Haiti conseguem visto até a Republica Dominicana, de lá têm que tentar o visto para o Equador, da mesma forma para o Peru, na Bolívia, e de lá para Acre, do Acre para o Rio de Janeiro e partem para Brasília- DF. Algumas destas viagens foram feitas de ônibus.
"Depois do cismo, os problemas no Haiti tendem a aumentar e não há esperança para viver por causa da destruição. São muitos os problemas sociais: pessoas que não podem mandar seus filhos para a escola, a questão da saúde, falta de trabalho, por isso eu vim para o Brasil. Penso que depois que eu começar a me integrar na sociedade, aprender o idioma do país, posso começar a concretizar minha vida como estou esperando", relata Joseph Wilphens, 28 (na foto ao lado).
"Vim para o Varjão porque tenho outro colega haitiano que mora aqui. Nos conhecemos no aeroporto, quando estávamos renovandonossos papéis. Fizemos amizade na viagem", afirmou. Técnico em informática, Joseph trabalha com configuração e espera conseguir um trabalho na área. O maior sonho destes haitianos é conseguir legalizar os documentos e conseguir residência porque só assim poderão conseguir trabalho e estudo no país.
"Estamos muito felizes com este avanço e sabendo que mais um passo importante foi dado para que eles possam obter os documentos permanentes e melhor integrar-se na sociedade, no trabalho e na vida que desejam reconstruir no Brasil, se expressou irmã Rosita Milesi, missionária scalabriniana e diretora do Instituo Migrações e Direitos Humanos.
"Viemos para Brasília e não para Manaus porque o Brasil é muito grande, tem muitos estados e dá para nos espalharmos, e nós preferimos não ficar em grupos grandes. Sou casado, tenho esposa e 4 filhos e no Haiti eu trabalhava na construção civil e aqui estou procurando por trabalho. Espero conseguir para ajudar minha família", relatou Léonor Norceide.
De acordo com irmã Rosita, os maiores desafios do Brasil em relação à migração dizem respeito à Lei de Estrangeiros, criada em 1980, na ditadura militar, e ‘marcada pelos princípios vigentes em tal período'. "Há anos a sociedade civil luta por uma Lei de Migrações, pautada nos Direitos Humanos e que corresponda às exigências de uma política migratória coerente com a dinâmica das migrações da atualidade, ressaltou em entrevista dada à Unisinos em janeiro de 2012.
Em entrevista ao telefone, na última sexta-feira o presidente do Conselho Nacional de Imigração, órgão ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, Paulo Sérgio de Almeida disse que já fizeram para os haitianos o que poderiam fazer. "Já fizemos para os haitianos o que deveríamos fazer que foi a concessão de permanência no país. Cabe a outras instâncias políticas e a cada uma fazer o que lhe compete para ajudá-los", afirmou.
Conforme Paulo Sérgio, o fato de muitos haitianos se declararem como profissionais em algum ramo, favorece a concessão de empregos aqui no Brasil. Para o haitiano, Léonor Norceide, a expansão geográfica do Brasil, favorece para que eles se espalhem e possam buscar melhores condições de vida em locais diferentes e se organizarem em pequenos grupos.
Segundo Sidoi (à direita), os homens não trouxeram as esposas e não podem trazê-las consigo devido ao preço das passagens. Eles têm a esperança de trazer a família mais tarde. As jovens pelo fato de estudarem não vêem vantagem em sair.
De acordo com Irmã Rosita Milesi, o grupo está estudando português em espaço concedido pela Paróquia Nossa Senhora do Lago, do Lago Norte, e contam com uma professora voluntária, mas ainda precisam de voluntários que se disponibilizem a ensinar aqueles que tem condições de estudar somente aos domingos por trabalharem durante a semana. Toda ajuda será bem-vinda, segundo a Irmã.
Fonte: www.crbnacional.org.br
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