11/05/2012

Mãe-terrinha e mãe-mãe


Selvino Heck

Cuidar é a palavra certa. Cuidar do amor, cuidar da vida, cuidar das gentes e dos filhos, dos animais e das plantas, cuidar das crises do mundo. Cuidar da terra, cuidado de mãe.
É mesmo muita sorte poder festejar duas datas quase no mesmo dia: dia 11 de maio, sexta, aniversário dos 121 anos de Venâncio Aires, e 13 de maio, domingo, Dia das Mães.
Quando você está longe, muito longe da terrinha como eu, em Brasília há mais de nove anos, e você lembra tantas coisas, a saudade aumenta mais. Você recorda dos bons tempos de infância e do chimarrão, da escola onde estudou, da comunidade onde se formou gente, do São Luiz, seu time de futebol, onde, depois dos joguinhos no potreiro de papai, você estreou com toda pompa e circunstância sua curta história nos gramados, das idas esporádicas de um coloninho à cidade de Venâncio Aires, então lugar tão distante, quase mítico –‘imagina, ir para a cidade, comer um pastel na rodoviária do centro, ver tantas casas e lojas, gente na rua, carros, movimento’-, aquele guri de calças curtas que andava mais descalço que com calçados e chinelos nas estradas da roça de Santa Emília, sua comunidade de nascimento, filho de agricultores familiares que vivem do seu trabalho até hoje.
A mãe-terrinha está no centro da nossa vida. Ela nos alimenta todos os dias com seu vigor de infância e juventude, suas primeiras descobertas de uma vida que aos poucos vai achando e seguindo seu rumo, fazendo-nos tornar gente. Quando isso é feito em meio aos valores da família, da comunidade e da fé, torna o futuro ainda mais cheio de esperança. No meu caso, posso me alegrar triplamente: sempre digo que tenho três terras. A que me acolheu por primeiro, Santa Emília, e o município de Venâncio Aires. A que me acolheu por segundo, Mato Leitão, onde está minha paróquia, Santa Inês, onde aprendi os valores do Evangelho e da Boa Nova, coroinha que levantava às seis da manhã nas frias manhãs de inverno e sabia todas as respostas da missa em latim aos sete anos de idade. A que me acolheu por terceiro, a Lomba do Pinheiro, periferia de Porto Alegre e Viamão, onde aprendi, na comunidade franciscana, a cozinhar o pouco que sei, a fazer uma caipirinha e, principalmente, deu-me um banho de povo e de sentido na vida.
Melhor ainda festejar o aniversário da terrinha junto com o Dia das Mães. A terra é uma mãe. A mamãe lá de casa, dona Lúcia, é a mãe que acolheu a terra como seu dia a dia, como ganha-pão, como sobrevivência, como seu chão. E a tratou – e a trata aos 85 anos - sempre com o carinho das mãos, o carinho da plantação de verduras e frutas, de milho e feijão, da criação de vacas e porcos, o carinho com as árvores plantadas no bosque ao lado de casa e a limpeza do riacho que corre no fundo do roçado.
A gente nunca sabe falar direito tudo que significa mamãe na nossa vida. Parece que sempre é pouco, é de menos o que se diz e sente. São tantas coisas vistas ou vividas, emoções, alegrias. Quando saio para viajar depois de uns dias por casa em Santa Emília - é preciso voltar para Brasília; ‘afinal, alguém precisa trabalhar nesse governo’ –, mamãe sempre me acompanha com o olhar e diz em alemão: "Pass dich uf. Und eine gute Reise – Te cuida. E boa viagem.” Então, sei que estou em boas mãos e abençoado. Não são precisos muitos gestos e muitas palavras. Basta saber que o olhar está atento e que o coração vai junto. E que ela espera a volta, qualquer dia destes não se sabe quando. Ela sempre pergunta: "Van kommst du nochmo? – Quando tu vais vir de novo?” Em geral, não sei quando será o dia. São tantos compromissos, tantas outras viagens por este imenso Brasil de um povo que quer mais saúde, mais qualidade de vida, mais justiça e dignidade. Mas o dia da volta acaba chegando, felizmente, em algum momento e oportunidade.
Assim, a mãe-terrinha, ainda mais se é a Capital Nacional do Chimarrão, e a mãe-mãe alimentam nossa vida, dão-lhe sentido de futuro, são fé e esperança.
Abençoadas as terrinhas de todas e todos. Feliz Dia das Mães a todas as mamães de Venâncio Aires, de Mato Leitão, da Lomba do Pinheiro e do Brasil!
Em onze de maio de dois mil e doze.

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