13/06/2012

Missão com unção - Dom Pedro Brito


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Dom Pedro Brito Guimarães*
Estamos em contagem regressiva para o grande evento missionário da Igreja no Brasil – 0 3º Congresso Missionário Nacional a realizar-se nos dias 12 a 15 de julho próximo, em Palmas - To. Há muita gente por este Brasil afora, com humildade, amor e sacrifício, arrumando as malas para dele participar como delegado ou delegada. Mas há também gente por aí pintando a missão com cores que não lhe pertencem e nem lhe dizem respeito: - “missão é difícil, é empenhativa, é enjoativa, é custosa, é sacrifício, é impossível...” Chame esta postura ou compostura com o nome que queira: pretensão, petulância, “veneno”, “fogo amigo...” Eu, no entanto, a chamo de presunção. Missão não é nada disto e não possui esta coloração. Se quisermos atribuir uma cor à missão, a encontramos no embate atual. Assim como é chamada de “economia verde”, o desenvolvimento com sustentabilidade, poder-se-ia dizer o mesmo da missão: “missão verde”, com desenvolvimento sustentável, é missão com unção e sem presunção.
O Documento de Aparecida, nº. 12, acertou no alvo ao afirmar que a maior ameaça à missão não vem de fora, está dentro da própria igreja: “Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas, na verdade, a fé vai se desgastando e se degenerando na mesquinhez”.
O papa Bento XVI recentemente colocou o dedo na ferida da missão, ao apontar o carreirismo na igreja como uma ameaça à sua própria credibilidade. Na abertura da quaresma deste ano, falando ao seu clero, exercendo o seu ministério de bispo de Roma, o papa usou estas expressões, ditas de improviso: “é a falta de humildade que destrói a unidade da Igreja”.  “A soberba é a raiz de todos os pecados”. E aos cardeais, no último consistório, diz que "Jesus se apresenta como servo, oferecendo-se como modelo a imitar e a seguir". Na mesma ocasião, ele citou o exemplo dos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, que buscavam "ainda sonhos de glória ao lado de Jesus", pedindo para se sentarem à sua direita e à sua esquerda”. “O Messias, diz ele, respondera a eles aludindo ao cálice da sua paixão: "o serviço a Deus e aos irmãos, o dom de si: essa é a lógica que a fé autêntica imprime e desenvolve na nossa vivência cotidiana e que não é, ao contrário, o estilo mundano do poder e da glória". E ainda mais, lembrou aos cardeais que "a igreja não existe para si mesma, ela não é o ponto de chegada, mas deve remeter para além de si mesma, para o alto, acima de nós. A igreja é verdadeiramente ela mesma na medida em que deixa transparecer o Outro – com o 'O' maiúsculo – do qual provém e ao qual conduz".
Na missão, Jesus se apresenta como servo e servidor, modelo a ser imitado e seguido. Missão assim não combina com luta de poder, busca de glória e de carreirismo, típica dos “filhos de Zebedeu”. Missão não rima com carreirismo, messianismo e triunfalismo. Missão rima com o lava-pés e a cruz. Na missão, banhar-se de humildade e calçar as sandálias da humildade não fazem mal a ninguém. Pura presunção querer que a igreja seja cabide de emprego, escada rolante, trampolim e elevador para subir na vida. Missão é mais sair do que ficar; descer do que subir; andar do que chegar, dar do que receber. Missão é mais remoção do que promoção. Na missão a promoção do missionário é a sua remoção.
Unidos pela força da oração, ungidos pelo Espírito da missão, vamos juntos construir uma igreja em ação. Espero ser deste tipo de missão que o Congresso Missionário se ocupará.


*Arcebispo de Palmas (TO)

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