25/06/2012

Moralidades e greves


Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald*
A greve de trabalhadores em transporte coletivo de Fortaleza exige uma reflexão. O direito do trabalhador de parar seu trabalho é hoje um assunto tão pacífico e aceito por todos que muitas vezes esquecemos que há uma importante diferença entre uma greve justa e eticamente correta e uma greve injusta e moralmente condenável. Uma greve deve ser em última análise, uma maneira de ameaçar e infligir prejuízo ao governo, uma firma ou pessoa que está nos injustiçando, com a finalidade de pressioná-los a remediar ou acabar com a injustiça. 
No passado, o prejuízo causado por uma greve era em grande parte limitado ao empregador. Hoje, porém, por causa da interdependência dos diferentes grupos na sociedade, o dano é sofrido, não somente pelo empregador, mas também por muitas outras pessoas inocentes, por exemplo, o povo e os alunos. O prejuízo que outras pessoas inocentes de qualquer injustiça podem sofrer é frequentemente maior do que o prejuízo sofrido pelo empregador. Um número reduzido de homens em posições chaves, especialmente nos setores públicos e de serviços, pode comprometer uma cidade toda ou toda a nação, mesmo em situações onde dificilmente se vê que uma injustiça real é a causa de sua ação ou que a justiça exige absolutamente uma greve. 
Antes de iniciar uma greve todos nela envolvidos devem responder quatro perguntas básicas: (I) Há certeza absoluta da existência de uma real injustiça? (II) Será que esta injustiça é suficientemente grave para justificar a perda ou prejuízo que provavelmente será causada pela greve? (II) Há uma adequada proporção entre a perda próxima a ser infligida e a finalidade legítima procurada? (IV) Será que todos os esforços para chegar a um acordo através de negociação foram feitos? Uma pessoa tentando decidir se deve ou não fazer greve tem que responder a estas perguntas afirmativamente antes de poder afirmar que “esta greve é moralmente justificável”. Nunca podemos esquecer que uma greve é uma arma a ser usado somente como último recurso, e nada pode justificar seu uso como primeiro passo numa disputa para ganhar melhores salários. 
A administração pública e donos de empresas não devem esperar que a inquietação ou agitação se instale antes de conceder razoáveis melhoramentos em salários e condições de trabalho. Greves potenciais são evitadas quando sensíveis administradores de empresas, lideranças sindicais responsáveis e competentes, sentam-se à mesa para negociar num ambiente de respeito mútuo. A greve ganha as manchetes, mas são os administradores ou gerentes de empresas e as lideranças sindicais que merecem proeminência pelo fato de ter evitado uma greve e os prejuízos e perdas envolvidas. É deplorável que a experiência torne plausível para os trabalhadores que “somente uma greve consegue resultados”, e nada mais funciona.
*É Missionário Redentorista e professor titular aposentado da UFC.

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