27/07/2012

«Temos demasiados ‘ratos’ nas igrejas»


FÁTIMA
38ª Encontro Nacional de Pastoral Liturgica

Texto Francisco Pedro | Foto SNL | 26/07/2012 | 14:00
Aumento do consumo de partículas não quer dizer que haja mais e melhor comunhão, segundo o padre João da Silva Peixoto. Provocador, o sacerdote apelou a uma maior presença dos Ministros Extraordinários da Comunhão nas celebrações religiosas
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Antes da provocação João da Silva Peixoto deixou um aviso aos participantes do 38º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, que decorre em Fátima. «Talvez alguém fique chocado com este modo de falar, mas não é minha intenção escandalizar ninguém. E às vezes, um choque pode ajudar a cair na conta do que, realmente, está em causa». E o que está em causa é, no entender do sacerdote, uma certa banalização da comunhão. 

Para ilustrar este argumento, João Peixoto recorreu à ficção: «Imaginemos que, estando vós a ministrar a sagrada comunhão aos fiéis e apesar de todo o cuidado, uma partícula consagrada se desprende e cai por terra. Imaginemos, de seguida, que antes de terdes tido tempo de a recolher, um ratito corre veloz, a apanha, a devora e foge. Pergunto: Será que o rato comungou?» 

A resposta é não. «O rato não é capaz de comungar. Pode devorar hóstias consagradas, pode deglutir a sagrada espécie, mas não comunga. Nele tudo se reduz a um facto biológico, fisiológico. A comunhão pressupõe a dimensão espiritual, a relação pessoal, o conhecimento, a vontade e a afetividade», explicou o sacerdote, para, logo a seguir, estabelecer a analogia desta ‘história’ com o comportamento de alguns fiéis. 

«Os ratos não comungam, mesmo que devorem hóstias. E os fiéis, que se aproximam do ministro, na fila dos comungantes? Será que comungam todos? Será que comungam sempre? Não se dará o caso de também se limitarem ao patamar biológico dos ratos que apenas comem, deglutem?», interrogou João Peixoto, dando ele próprio a resposta: «É imprudente julgar pessoas concretas somente pelas aparências. Mas também não devemos fechar os olhos às ‘evidências’. E o que é evidente é que, tendo aumentado notoriamente o consumo de partículas, não se vê que haja mais ou melhor ‘comunhão’». Concluindo, se o número dos comungantes está longe de igualar o dos «devoradores» de hóstias consagradas, é sinal de que existem «demasiados ‘ratos’ nas nossas igrejas». 

Na sua intervenção, dirigida especialmente aos Ministros Extraordinários da Comunhão (MEC), o sacerdote pediu que reforcem a sua presença nas celebrações, muito para além das participações nas eucaristias dominicais. «Estudai os vossos horários, informai-vos dos horários das igrejas da área onde residis, se necessário fazei ajustamentos nas vossas rotinas pessoas e familiares e ide todos os dias, ou sempre que possível, à nascente».

Este desafio, porém, não significa a promoção ou um convite para «um cristianismo beato de ‘ratos de sacristia’», que apenas exercita «a língua da maledicência dos adros, alimentando intrigas e fomentando tudo ao contrário da eucaristia», ressalvou o padre. O que se pretende é aproveitar «o fervor de homens e mulheres que em cada dia, como a formiguinha laboriosa, acorrem à Igreja para celebrar os divinos mistérios, alimentar a piedade, e carregar com o trigo do amor divino para a vida, para o mundo, para o próximo, numa partilha que nunca se esgota, porque o celeiro é inexaurível e eles bem sabem o caminho para lá», esclareceu João Peixoto.

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