01/08/2012

Família conta como fugiu à guerra da Síria


MUNDO
Casa destruída por um míssil
Texto Francisco Pedro | Foto DR | 01/08/2012 | 10:43
Estiveram dias abrigados num abrigo subterrâneo, sem luz, sem água e sem comida, depois de um míssil ter deixado a sua habitação em ruínas. Passaram fome, com os dois filhos menores, e viram pessoas a lutar por um punhado de arroz. Conseguiram fugir para o Brasil
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Andressa de Oliveira, 26 anos, nascida e criada em São Paulo, no Brasil, nunca imaginou ver e passar pelos horrores que testemunhou na cidade de Homs, na Síria, onde vivia com o marido, Jehad Moahmed (32), e os dois filhos menores – uma menina de dois anos e um menino de seis. «Uma senhora perdeu a filha um dia depois de perder o marido. A menina foi cortada ao meio e a mãe estava desequilibrada. Queria levar a metade do cadáver da filha para o abrigo de qualquer forma», contou a brasileira à BBC. 

«Tudo começou numa quinta-feira. Um amigo disse-me que o Exército cercaria o meu bairro, mas não consegui retirar a família a tempo e ficamos presos por lá. Começaram então os bombardeamentos. Quando o míssil caía, abria os prédios ao meio, ou uma cratera onde cabia um carro. Ficamos assim por sete dias. Nessa altura tínhamos deixado o nosso apartamento no segundo andar e ficado no da minha mãe no primeiro andar. Um pedaço de míssil derrubou a parede da minha cozinha», relatou Jehad, que trabalhava como despachante na terceira maior cidade do país. 

Com a intensificação dos bombardeamentos, o casal escondeu-se num abrigo subterrâneo, que logo se tornaria pequeno demais para a família. «Os meu filhos mal conseguiam respirar e faltava tudo. Era terrível porque não havia luz e toda a comida que estava nos frigoríficos estragou-se. As crianças choravam de fome e eu não tinha muito para dar. As pessoas brigavam por um punhado de arroz, comiam comida estragada», recordou Jehad. 

Quando conseguiram deixar o abrigo, Andressa e Jehad fugiram para Damasco, à procura de ajuda na embaixada do Brasil. Mas até chegarem à capital, passaram por alguns sustos, nas barreiras montadas pelo Exército fiel ao regime de Bashar al-Assad. «Num deles, os soldados suspeitaram que eu fosse mais uma jornalista estrangeira e diziam que me iam levar para interrogatório. Sabíamos que se me levassem me matavam ou, no mínimo, me violavam. Valeu a intervenção de um comandante que me libertou por eu ser brasileira e o Brasil estar do lado deles», explicou Andressa. 


Andressa e os filhos conseguiram ajuda da embaixada, que pagou suas passagens aéreas e hospedagem, a partir do momento em que chegaram a Damasco. O marido, por não ter nacionalidade brasileira, teve que voltar a Homs para conseguir dinheiro para o bilhete de avião. O casal vive agora numa casa emprestada por familiares, na zona norte de São Paulo, no Brasil. Ambos desempregados e sem dinheiro, não sabem o que vai ser do seu futuro. Mesmo assim, Jehad mostrou-se otimista: «Quando Assad deixar o poder, a vida vai ser melhor por lá».

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