11/08/2012

Para Joaquim Sampaio (centro), Dia dos Pais foi criado para o comércio lucrar ainda mais


'Não precisamos de dia especial para tanto', diz indígena.
Eles também relatam o desafio de criar filhos perto dos riscos urbanos.

Tiago MeloDo G1 AM
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Para Joaquim Sampaio, Dia dos Pais foi criado para o comércio lucrar ainda mais (Foto: Tiago Melo/G1 AM)Para Joaquim Sampaio (centro), Dia dos Pais foi criado para o comércio lucrar ainda mais (Foto: Tiago Melo/G1 AM)
“Todo dia é dia de amar e respeitar os pais, não precisamos de dia especial para tanto”. Essa é a visão de Joaquim Sampaio, de 71 anos, sobre o Dia dos Pais. Para ele, a data é comemorada com presentes para os pais, e o comércio aproveita para impulsionar as vendas. Joaquim é da etnia indígena tukano e pai de cinco filhos, sendo quatro homens e uma mulher.

A data também não significa muito para Wellington Batista Cabral, artesão indígena, de 62 anos, da etnia sateré-mawé. “Acho que a data é só mais uma, dentre tantas outras, que o comércio criou para lucrar com as vendas”, afirmou o artesão, também conhecido como Wassary em sua tribo.
Cabral, pai de seis filhos, é morador da Associação Indígena Sateré-Mawé, localizada no Conjunto Santos Dumont, Zona Centro-Oeste de Manaus. Ele acredita que os jovens de hoje estão ‘perdidos’ por culpa de pais irresponsáveis que têm. “Hoje em dia perdemos nossos filhos e netos para as drogas, para o crime e para a violência porque não acompanhamos o crescimento deles. Deixamos eles muito desocupados, livres e soltos. É como dizem, mente vazia, moradia do mal”, afirmou.

Sampaio conta que já perdeu um filho para as drogas. “Cuidar de uma criança já é normalmente difícil, mas cuidar dela fora do seu habitat natural é mais difícil ainda. Um dos meus filhos se desvirtuou para o caminho do mal. Mas ele procurou ajuda, atualmente está internado e, com a ajuda de Deus, ele vai se salvar”, afirmou.
Wellington Cabral, de 62 anos, veio para Manaus à procura de melhores condições de vida para os filhos (Foto: Tiago Melo/G1 AM)Wellington Cabral, de 62 anos,foi para Manaus à procura de melhores condições de vida para os filhos (Foto: Tiago Melo/G1 AM)
Para Cabral, a mudança para a capital trouxe a esperança de um futuro melhor, mas também trouxe certas preocupações. “Na nossa aldeia, no município de Barreirinha, não tínhamos esse tipo de contato com o mal. Só os mais velhos que usavam plantas de uso medicinal. Mas os jovens passavam bem longe”, contou o sateré-mawé.

De acordo com Sampaio, tirar a família da aldeia em que viviam significava se afastar das origens. “A cada geração que passa, fica mais difícil manter as tradições. Mas não desistimos. Todos os dias eu dou uma aula para os meus netos sobre a nossa cultura e tradição, e assim ela vai sendo repassada”, afirmou.

Apesar dos problemas, as mudanças também vem para o bem. Prova disso são as famílias de Cabral e Sampaio. “Aqui na capital, pude oferecer melhores condições para os meus filhos. Aqui eles puderam experimentar um ensino de verdade e dar continuidade. Hoje, todos eles são graduados e possuem bons empregos”, afirmou Cabral. “Se continuássemos vivendo na nossa aldeia, meus filhos e meus netos não teriam a oportunidade que eles estão tendo agora. Estariam vivendo como eu, que não tive tanta oportunidade e, hoje em dia, vivo de artesanato”, contou Sampaio.

As famílias dos dois podem não comemorar o Dia dos Pais da forma tradicional que a sociedade comemora, mas mesmo assim a data não passa despercebida. “No dia dos pais não damos presentes, mas, mais importante, reunimos a família toda, todos os filhos, irmãos, primos, tudo junto, e aí fazemos um banquete bem farto de agradecimento. É festa a noite toda”, contou Cabral

Carmen Sampaio, de 38 anos, filha de Joaquim e mãe de duas crianças, diz que a figura do pai é unica e é importante cuidar dele enquanto vivo. “Quem ainda tem o pai vivo, como eu, deve cuidar muito bem, dar amor, atenção e carinho todos os dias. Pai a gente só tem um, depois que morre não adiante chorar”, conclui Carmen.

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