05/08/2012

«Vida pessoal também se realiza no ato de construir para os outros»


Voluntariado missionário no Peru

Texto Francisco Pedro | Foto FM | 04/08/2012 | 08:00
A prova de fogo começa agora. Após ano e meio de preparação e inculturação, Rui e Viviana vão finalmente viver com as comunidades indígenas que pretendem ajudar, em Soplin Vargas, na floresta amazónica do Peru
IMAGEM
O casal continua radiante como no dia da primeira partida. Se a missão desse frutos apenas com entusiasmo, o casal de missionários Leigos da Consolata que está a tentar construir uma “Maloca para todos” na isolada cidade de Soplin Vargas, no Peru, já tinha o sucesso garantido. Rui Sousa, 30 anos, e Viviana Nunes, 29, carinhosamente conhecidos por Copi e Vivi, estão preparados para continuar a espalhar sorrisos cativantes e sonhos contagiantes por mais dois anos e meio, em terras peruanas. Mas estão conscientes do muito trabalho que ainda têm pela frente, da paciência que lhes vai ser pedida, da perseverança que lhes vai ser exigida. Nada que lhes tire o sono. Pelo contrário. De partida para a segunda fase do projeto, após um curto período de férias em Portugal, parece que ganharam novo fôlego só por saberem que vão finalmente poder viver com as comunidades indígenas que se propõem ajudar – quichua, secoya e huitoto.

Depois de ano e meio a ‘saltar’ de casa em casa, de povoação em povoação, da Colômbia para o Peru e do Peru para a Colômbia, têm tudo pronto para fixar residência no pequeno lugarejo de Soplin Vargas, uma espécie de ilha no meio da selva, onde cerca de 600 pessoas se aninham em pouco mais do que uma centena de modestas habitações. Há lá um hospital, é verdade. Mas não funciona por falta de profissionais que aceitem o desafio do isolamento. Também há um edifício camarário, mas serve para pouco mais do que assegurar algum emprego e garantir a comunicação exterior, através de um dos seis telefones que existem na povoação (os destinatários das chamadas são chamados com o recurso a um altifalante). As ‘estradas’ para o dito mundo civilizado são feitas de água, através de percursos fluviais, não inferiores a duas horas e meia. E o único veículo que se ouve a circular na aldeola é a motorizada conduzida pelo responsável pela recolha do lixo.

Feita a descrição da nova morada de Copi e Vivi, impõe-se a pergunta. O que leva um jovem casal de Ermesinde (Valongo) a deixar para trás o emprego e a perspetiva de uma carreira profissional (ele era funcionário administrativo, ela formada em psicologia) para se dedicar ao desenvolvimento de um projeto de voluntariado missionário num local tão recôndito? “A vida pessoal também se realiza no ato de construir para os outros”, responde Viviana sem pestanejar. Rui acena prontamente com a cabeça para manifestar a sua inteira concordância e evitar interromper o discurso da mulher.

Casados há dois anos, partiram em missão pouco depois da lua de mel. Experimentaram viver sozinhos pela primeira vez (cá viviam em casa dos pais da Viviana) e partilhar juntos as 24 horas do dia. Aprenderam a conhecer os limites um do outro e dizem-se hoje um casal “mais unido e solidário”. Em conjunto com Moon­jung Kim, padre Missionário da Consolata, e com a população de Soplin Vargas, propõem-se construir uma maloca comunitária, com piso em cimento, paredes em madeira e teto em palha, para apoiar a evangelização, promover a formação e o artesanato local, como fonte de rendimento das comunidades. De Soplin e das outras 34 aldeias da paróquia, que se distribuem pelas margens do rio Putumayo, ao longo de uma linha de 450 quilómetros.

Apesar das dificuldades iniciais de adaptação ao idioma, à comida e ao estilo de vida, a recetividade tem sido “muito boa”. Alguns habitantes, conhecedores de formas de vida mais urbanas, como as que veem nas esporádicas deslocações à longínqua cidade colombiana de Leguízamo, perguntam com frequência porque deixaram tudo para ir viver com quase nada. “A esses respondemos que essa é a graça da vocação laical”, esclarece o Rui. “Não queremos ser como eles, mas acreditamos que partilhando a nossa diversidade cultural nos enriquecemos mutuamente. Não é essa uma das mais belas riquezas da missão?”, reforça Viviana Nunes.

Nenhum comentário :

Postar um comentário