Não se trata de um pentecostes, longe disso. Apenas uma presença tão simples quanto profunda, inefável e inesquecível. Menos que um segundo de brilho e fulgor tão intensos que chegam a suspender a fala e o fôlego. Algo que não cabe em palavras e que mal pode ser esboçado com a razão humana. Tampouco se pode olhar de frente sob a ameaça de ficar cego. Tudo ao redor fica suspenso, o tempo, o som das coisas, as sensações mais elementares!...
Um raio inesperado, como uma graça imerecida e ao mesmo tempo bem vinda, rasga a noite do coração num instante de indescritível luminosidade. Tudo clareia, deixando a alma frágil, inerte e nua diante de si mesma e do infinito. Alma despida, sim, mas revestida de uma roupagem que tecido algum pode imitar. Logo a chama se apaga, com a mesma rapidez com que surgiu, mas sua passagem fulgurante fica gravada para sempre no espírito. Se curta e fugaz é a duração, eterna é a impressão luminosa deixada na criatura.
A verdade é que há tempo eu Lhe havia fechado a porta e me isolado um pouco de tudo e de todos. Andava atarefado com mil coisas que tomavam todo tempo. Dispersava-me em todas as direções, fragmentava-me em atividades. Ao mesmo tempo, fechava-me e deixava-me arrastar por um redemoinho voraz e sem fundo. Fechar-se em si mesmo é um processo complementar: é fechar-se também em todas as direções: em relação ao infinito, ao outro, aos pobres, à beleza da criação... Encaramujar-se, trancar-se, afogar-se no próprio veneno!
Dentro da casa deserta, aqui e ali, as teias de aranha e insetos iam se acumulando pelos corredores e quartos. A umidade também tomava conta do chão e do teto, das paredes e dos móveis. O resultado é que arrepios de frio percorriam todo o corpo do edifício. Bolor e um cheiro forte de mofo completavam o quadro de um ambiente vazio, triste e abandonado. Seres desconhecidos e fantasmagóricos pareciam se apossar do lugar. Sentia-me um estranho no interior da própria morada.
Dentro da casa deserta, aqui e ali, as teias de aranha e insetos iam se acumulando pelos corredores e quartos. A umidade também tomava conta do chão e do teto, das paredes e dos móveis. O resultado é que arrepios de frio percorriam todo o corpo do edifício. Bolor e um cheiro forte de mofo completavam o quadro de um ambiente vazio, triste e abandonado. Seres desconhecidos e fantasmagóricos pareciam se apossar do lugar. Sentia-me um estranho no interior da própria morada.
Ao mesmo tempo, rodeava-me de uma série de entulhos. Novidades onde pretendia encontrar um novo sentido. Coisas e mais coisas que iam virando lixo pelos armários e móveis da casa. Mas elas só faziam aprofundar o abismo de um vazio sem nome e sem remédio. Quanto mais objetos, maior o desejo de outros... E muito maior a sede de algo mais vivo e significativo. Inquieto e sem rumo, perambulava entre esses seres frios e sem alma.
É então que Deus visita minha casa!...
É então que Deus visita minha casa!...
O Espírito de Deus não chega como um fogo abrasador e arrasador, mas como uma luz que ilumina e aquece. Seus raios, em lugar de cegar ou queimar, se refletem radiantes por todos os cômodos. Penetra os cantos mais ocultos e obscuros de minha morada e lhes devolve a alegria e o calor da vida. Confortam em lugar de inquietar e acusar; transfiguram a culpa e a vergonha numa paz que desce até o âmago do ser.
Uma transparência diáfana, como um véu sagrado, toma o lugar das trevas. Tênues pontos de luz brilham como estrelas em meio à escuridão. Pequenas referências num momento que eu as havia perdido todas. Começo a vislumbrar os contornos do porto e do farol. Já não me sinto tão perdido nem só em meio à tempestade e às ondas ameaçadoras. Aos poucos, delineia-se um rumo a tomar.
O Espírito também não chega como um vento impetuoso que tudo devasta e varre, mas em forma de brisa suave. É como se dedos invisíveis houvessem aberto as janelas para a entrada de anjos igualmente invisíveis. Uns e outros, sempre invisíveis, além de renovar o ar pesado, acarinham e afagam tudo o que tocam.
Um toque primaveril de magia. Faz reviver as células necrosadas de um prédio que ameaça declinar para o outono e o inverno. Os fantasmas da escuridão dão lugar a criaturas doces e amáveis, silenciosas e calorosas. Toda a casa povoa-se de tais criaturas ao mesmo tempo estranhas e familiares. A casa se ilumina, há clima de festa no ar! Toalha branca, flores, luzes, tapetes, convidados, música, dança, aromas diversificados... A atmosfera promete um verdadeiro i inesperado banquete.
Um toque primaveril de magia. Faz reviver as células necrosadas de um prédio que ameaça declinar para o outono e o inverno. Os fantasmas da escuridão dão lugar a criaturas doces e amáveis, silenciosas e calorosas. Toda a casa povoa-se de tais criaturas ao mesmo tempo estranhas e familiares. A casa se ilumina, há clima de festa no ar! Toalha branca, flores, luzes, tapetes, convidados, música, dança, aromas diversificados... A atmosfera promete um verdadeiro i inesperado banquete.
Enfim, o Espírito não chega como um barulho invasor e estridente, mas como um silêncio habitado pelo mistério. Silêncio que expulsa o mutismo, o isolamento e a solidão. O terreno árido e estéril vê-se fecundado pela Palavra (no singular e com letra maiúscula), que dispensa as palavras (com letra minúscula e no plural). Paradoxo inexplicável: o silêncio rompe com a falta de comunicação, com recusa obstina de abrir-me aos outros e ao Outro. Torna-se ele mesmo via de comunicação. Mais autêntica, mais profunda, da alma com o infinito.
A tagarelice, a curiosidade e a ânsia de modismos dão lugar a uma paz indescritível. O mistério preenche todas as lacunas do coração e da alma, revestindo o ambiente de nova vida. É como se ao despir-me de tudo, não me faltasse mais nada. Estranha matemática: quando me desfaço daquilo que eu achava ser a minha felicidade, só então é que experimento sintomas de uma alegria serena e profunda, de uma paz que palavra alguma pode traduzir. Há um tudo incomensurável que preenche o vazio e as lacunas da alma sedenta e irrequieta.
Sim, Deus visita minha casa. Um instante apenas, não mais que uma fração de segundo. Mas sua passagem ficará gravada para a eternidade em caracteres de um fogo que não se apaga. Vendaval nenhum poderá varrer suas pegadas invisíveis e indeléveis. Um encontro/reencontro há muito ansiado, mas sempre protelado. Com efeito, "aonde iremos, Senhor, só Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6,68).
Sim, Deus visita minha casa. Um instante apenas, não mais que uma fração de segundo. Mas sua passagem ficará gravada para a eternidade em caracteres de um fogo que não se apaga. Vendaval nenhum poderá varrer suas pegadas invisíveis e indeléveis. Um encontro/reencontro há muito ansiado, mas sempre protelado. Com efeito, "aonde iremos, Senhor, só Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6,68).
* Padre Alfredo J. Gonçalves, CS, é assessor das Pastorais Sociais e superior provincial dos missionários Carlistas.
Fonte: Alfredo J. Gonçalves / Revista Missões
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