Dom Sergio da Rocha*
O Evangelho nos leva a refletir sobre a nossa fé em
Jesus Cristo. O diálogo entre Jesus e Pedro nos mostra a necessidade de
contínua purificação de nossa fé. ”Tu és o Messias”, responde Pedro à pergunta
de Jesus sobre o que os discípulos pensavam dele. Contudo, logo depois, Jesus
“repreendeu a Pedro” porque ele não estava pensando como Deus e sim “como os
homens”. A imagem do Messias, que Pedro tinha naquele momento, não correspondia
ao modo de ser de Jesus. Assim como muita gente daquele tempo, Simão Pedro não
podia admitir que o Messias pudesse passar pela paixão e morte na cruz.
Ele esperava um Messias dominador e
glorioso, segundo a lógica deste mundo. Por isso, chegou a repreender Jesus por
causa do anúncio da Paixão. Ao anunciar a sua paixão e morte na cruz, Jesus
assume a condição do Servo do Senhor, sofredor, fiel até à morte, descrita pelo
profeta Isaías, conforme nos recorda a primeira leitura da missa (Is 50,5-9). A
profecia a respeito do Servo sofredor, do Servo fiel, se aplica plenamente a
Jesus Cristo. O Messias-Servo assume o sofrimento; não desiste da missão;
permanece fiel, confiando em Deus, seu “auxiliador”.
É na cruz, na doação da própria vida,
que se revelará inteiramente quem é Jesus Cristo, que tipo de Messias ele é.
Somente quem for com Jesus até a cruz, irá entendê-lo; não basta acompanhá-lo
na hora dos milagres. Somente quem subir, com Jesus, o calvário, irá conhecer e
contemplar o verdadeiro rosto do Messias. O “segredo messiânico”, enfatizado
por Marcos, se desvela já na profissão de fé de Pedro, mas será revelado
inteiramente na cruz: “Este homem era, de fato, o Filho de Deus” (Mc 15,39),
proclamará o oficial romano diante de Jesus crucificado, o Messias sofredor que
doa a sua vida e alcança a vitória pascal.
Por isso, Jesus não se dirige
apenas aos discípulos, mas à multidão (Mc 8,34), dizendo: “Se alguém me quer
seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. Na sociedade do bem
estar, em que vivemos hoje, a tendência predominante é a de se buscar uma vida
cômoda, sem sacrifícios ou renúncias. A figura de um discípulo “light”, ao
sabor da cultura atual, não condiz com a proposta de Jesus.
O texto da Carta de São Tiago (Tg
2,14-18) nos mostra a importância da fé em Cristo ser testemunhada pelas obras,
destacando a caridade para com os pobres. A fé em Cristo não nasce das obras,
mas se exprime através delas, especialmente, através do amor ao próximo.
Neste mês dedicado especialmente à
Bíblia, vamos procurar crescer no conhecimento de Jesus Cristo, revelado pela
Sagrada Escritura. Para isso, necessitamos mais tempo para ler, meditar e rezar
com a Bíblia. Façamos isso, a cada dia, com verdadeiro espírito de oração!
*Arcebispo Metropolitano de Brasília

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