Padre Geovane
Saraiva*
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Dom Aloísio Cardeal
Lorscheider (1924-2007), foi quem melhor compreendeu o Concílio Vaticano II
(1962-1965), num esforço de vivenciá-lo, na mais profunda coerência,
destacando-se como defensor destemido da criatura humana em toda sua plenitude.
Daí sua corajosa e profética sabedoria, ao afirmar: “O vaticano II faz-nos
passar de uma Igreja-Instituição, de uma Igreja-sociedade perfeita para uma
Igreja-comunidade, inserida no mundo, a serviço do reino de Deus; de uma
Igreja-poder para uma Igreja pobre, despojada, peregrina; de uma
Igreja-autoridade para uma Igreja serva, servidora, ministerial; de uma Igreja
piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e sem mancha para uma Igreja
santa e pecadora, sempre necessitada de conversão, de reforma; de uma Igreja-cristandade
para uma Igreja-missão, uma Igreja toda missionária”.
Jamais podemos
esquecê-lo, na sua doçura e ternura em pessoa, alegria constante, de posições
corajosas e determinadas, ao mesmo tempo, pregava e anunciava o Evangelho com
coragem profética e grande sabedoria, carregando sempre no seu grande coração
as alegrias, as esperanças, as tristezas, as angústias e os sofrimentos de sua
querida gente (cf. GS 200). Além de travar, sem jamais se cansar, uma luta pela
redemocratização, pela liberdade de expressão, pela dignidade da pessoa humana
e pelo fim da tortura em nosso querido Brasil.
Dom Sérgio da
Rocha, Arcebispo Metropolitano de Brasília afirma, “como foi preciosa
sua participação no Concílio Vaticano II, no início do seu episcopado. Entretanto,
o significado de sua figura e o alcance de sua atuação vão muito além do
interior da Igreja, repercutindo na sociedade brasileira e no mundo. Homem de
diálogo, conforme o espírito do mesmo Vaticano II, empreendendo esforços para a
edificação de uma sociedade justa, solidária e fraterna, querida pelo Criador e
Pai”.
Seu esforço foi
constante, no sentido de tornar a Igreja no século XX mais apta para anunciar o
Evangelho à humanidade, especialmente quando o Vaticano II fala do dever e do
direito do apostolado dos cristãos leigos, fazendo entender com todas as letras
que ele vive no coração do mundo e, ao mesmo tempo, são convocados a ser sal,
luz e fermento, nas mais diversificadas realidades em que estão inseridos e
desempenham suas funções, individual ou coletivamente, sempre em comunhão com a
Igreja, através dos pastores (bispos, padres e diáconos).
Na Arquidiocese de
Fortaleza, nos seus 22 anos na qual esteve à frente, o seu modo de proceder foi
como que, sine qua non, no sentido de que o povo de Deus compreendesse o
seu chamado na grande tarefa de evangelizar a realidade do mundo por ele
vivido. Quis ele mostrar, através de sinais e gestos concretos, que toda Igreja
é missionária, no âmbito da economia, da política e, sobretudo, da promoção da
justiça e da paz, sem jamais esquecer a realidade do trabalho, saúde e
educação, sonhando com um modelo de Igreja que sai do templo e vai às ruas,
sendo uma presença viva no meio do povo, num ardente desejo de ver a realidade
transformada.
Dizia o Cardeal
Lorscheider: “Enquanto tivermos o povo à margem, excluído do processo
econômico, social e cultural, nós não podemos nos iludir que vamos resolver os
problemas do Brasil”. Padre Manfredo Araújo de Oliveira interpretou com
muito rigor e sabedoria esse pensamento do nosso terno e eterno pastor desta
forma: “Dom Aloísio Lorscheider, com muita ternura, mas com firmeza
profética, levantou sua voz em nome de Deus para denunciar as injustiças
gritantes, presentes na vida dos cearenses, frente a uma sociedade que, tendo se
acostumado com a miséria como algo natural, se tornava insensível aos
sofrimentos humanos”.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro
da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia
Metropolitana de Letras de Fortaleza.
Pároco de Santo Afonso
Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas
Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao
Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e
compromisso);
"Dom Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos
empobrecidos).
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