26/11/2012

Brasil já esgotou limites de crescimento, diz executivo da Goldman Sachs


Thais Herédia |

categoria economia

Depois de 14 semanas sem sofrer alterações, a previsão de crescimento para 2013 começou a cair para menos de 4%. Nesta semana os analistas ouvidos pelo Banco Central esperam que o PIB do ano que vem fique em 3,94%. As reduções começaram quando a indústria deu sinais de que a recuperação esperada para o semestre não aconteceu.
Para o economista Paulo Leme,  presidente do conselho das operações brasileiras do banco de investimentos Goldman Sachs, o Brasil já “esgotou os limites de crescimento”, disse em entrevista exclusiva ao G1.  Leme alerta que ter mais objetivos do que instrumentos pode-se correr o risco de perder as metas.
O economista brasileiro, que já foi cotado para ser o presidente do Banco Central algumas vezes nos últimos 15 anos, afirma que, tão importante quanto acertar o diagnóstico da situação, é dosar o receituário econômico  e não mudar de ideia tão rápido. “O investidor sabe precificar risco, mas não sabe precificar incerteza”.
A seguir, leia os trechos mais importantes da entrevista.
Qual a sua projeção para o crescimento de 2013?Leme – O PIB do ano que vem deve ficar entre 3,5% e 4%. Nós não vamos crescer mais por dois motivos. O primeiro é reflexo do cenário externo. O segundo é porque nós já esgotamos duas fontes importantes de crescimento: o mercado de trabalho e a capacidade instalada. Nós já esgotamos os limites e vamos bater nos gargalos, como a infraestrutura. Fica claro que sem uma melhora no mercado externo e sem mudanças estruturais, é pouco provável que se cresça além disso de maneira sustentável.
Como vê a trajetória da inflação nesse cenário? O mercado continua esperando um indicador acima da meta oficial de 4,5%.Leme - O cenário externo é condizente com uma inflação mais baixa. O cenário para o PIB é compatível com uma inflação abaixo do teto da meta (6,5%). Eu não vejo, apesar dos esforços de estimulo à demanda doméstica, uma expansão de crédito. Agora, quanto melhor for cenário externo, maior pode ser o desvio do crescimento do brasil e, nesse caso, a inflação fica mais pressionada. Mas, como sou um pessimista em matéria de crescimento mundial, não vejo esse risco se manifestar tão cedo.
O BC tem sido acusado de assumir mais uma meta além da inflação – a do crescimento econômico. O sr. concorda com essa visão e apoia a mudança?Leme – Não é uma boa ideia ter mais metas do que instrumentos. Os juros ainda são o melhor instrumento para controlar a inflação. O câmbio serve para gerar equilíbrio externo.  Ao tentar fixá-lo em algum nível, o preço de equilíbrio daqui acaba indo para inflação. Eu concordo com enfoque filosófico de um reordenamento da política econômica para se encontrar um mix melhor. Mas minhas escolhas teriam sido diferentes.
Quais?Leme – Eu teria optado por um ajuste fiscal melhor, mudando a estrutura tributária do país com ganhos fiscais. Isso daria mais espaço para redução dos juros, que por sua vez limitaria a entrada de capitais de curto-prazo, o que limitaria a apreciação da taxa de câmbio
O governo está mexendo um pouco na estrutura tributária ao criar as exonerações da folha de pagamento, por exemplo.Leme – Isso pode até ter algum resultado. Mas as medidas teriam que ser lineares, senão é introduzir novas distorções. As mudanças são temporárias e o consumidor capta isso. Muitas das medidas adotadas pelo governo são mudanças de calendário apenas. Veja o que aconteceu com a produção industrial. Ela explodiu no mês do IPI. Isso é uma “recalendarização” da atividade, mas não no tempo.
Mesmo para o caso das concessões de energia e a redução das tarifas?Leme – São coisas parecidas, que geram uma série de distorções. Volto ao caso do IPI, se a medida é boa para um produto, imagine se a redução da carga tributária for linear. O melhor é harmonizar para consolidar. Não é a maneira política mais fácil de fazer. Mas devemos procurar soluções permanentes e o ambiente atual proporciona essa ousadia.
O Sr. trabalha há anos num dos maiores bancos de investimento do mundo. Como anda o mau humor dos investidores estrangeiros com o Brasil?Leme - Em linhas gerais há uma reavaliação da política econômica em andamento no país. É uma resposta natural aos sinais e decisões recentes do governo brasileiro. Para o investidor isso gera uma incerteza maior. O investidor sabe precificar risco, mas não sabe precificar incerteza.
O que pode mudar essa visão?Leme – Nós temos que ter um diagnóstico correto da situação e tomar as decisões mais eficientes possíveis. Não podemos esquecer das reformas estruturais porque são elas que vão sustentar o crescimento do país. E, finalmente, lembrar sempre que, uma vez tomadas as decisões sobre o diagnóstico e o receituário econômico, não fique mudando as regras. Isso naturalmente vai nos manter como um país atrativo.
G1

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