Dom Aldo Pagotto, sss*
A cada ano o agronegócio assegura resultados positivos na balança comercial brasileira. De janeiro a setembro de 2012 as exportações do agronegócio alcançaram US$ 71,25 bilhões. No Nordeste há uma crescente tendência de desenvolvimento da indústria, contrastando com a deficiência da agricultura familiar sustentável. As estiagens e secas prolongadas no semiárido nordestino são um grande entrave para a agricultura familiar e para o agronegócio. As perdas são incalculáveis. Soma-se a isso a penalização de médios e grandes produtores, escorchados pelos impostos altíssimos, sem retorno de incentivos e investimentos de porte na importante área.
Os Estados do Nordeste necessitam de políticas consistentes de convivência com o semiárido, onde o regime pluvial é atípico: ou seca prolongada ou chuva de inundar e arrasar tudo o que vê pela frente. A crise europeia ameaça e afeta as exportações brasileiras e toda a nossa economia. O agronegócio continua sendo o setor mais dinâmico do comércio exterior do País com ganhos satisfatórios para a nossa balança comercial. Não se sabe se nossos gestores (eleitos) optarão por políticas improvisadas de compensação. Se assim for, reproduzir-se-á a secular indústria da seca. Se os novos gestores demonstrarem maior capacidade administrativa, optarão por políticas de planejamento e gestão voltadas para o crescimento integral das pessoas e das regiões, garantindo a fixação da família nas cidades polo dos respectivos estados, alicerçadas em novas tecnologias e distribuição de oportunidades, capacitação laboral produtiva, superando a sina do atraso.
Considere-se que a agroindústria vinculada ao comércio pode e deve conviver com a agricultura familiar, demonstrada viável e salutar. A política alimentar e nutricional voltada à produção e acesso aos alimentos de qualidade também deve levar em conta as cooperativas agrícolas que alimentam o mundo (tema de 2012 - o Ano Internacional das Cooperativas). A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) registra que em cada sete pessoas uma é desnutrida. Faltam incentivos e investimentos concretos na produção de alimentos. Pequenos, médios e grandes agricultores e produtores rurais precisam se entender, se unir, se articular, se mobilizar. Não esperem tudo do governo. Dessa toca não sai coelho, só ideologia falida e cobrança de impostos, sem retorno social.
A solução está no incentivo e formação de cooperativas agrícolas e organizações de agricultores e produtores rurais. A todos eles devemos a responsabilidade e o compromisso pela produção dos alimentos que chegam diariamente à nossa mesa. As cooperativas agrícolas e alimentares colocam as pessoas acima do lucro, superando a pobreza e a fome, ao beneficiar e comercializar alimentos, com maior valor agregado, ofertando a diversidade de produtos. Sugestão ao governo do Estado e municípios: promover a política de segurança alimentar e nutricional, assessorando os municípios em ações vitais, fortalecendo os pequenos, médios e grandes produtores rurais, integrados em cooperativas agrícolas, com o estímulo das novas técnicas de convivência com o semiárido. A Paraíba não é pobre. É mal tratada. Há terras generosas que, porém, necessitam de políticas de reestruturação, tal como reza o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, à espera da mobilização e participação ativa dos novos prefeitos para a sua viabilização. Mexam-se e nos deem exemplo, senhores alcaides! Não queremos esmola e política de compensação, reproduzindo o atraso. Queremos aprender a planejar e trabalhar em vista do desenvolvimento!
*Arcebispo Metropolitano da Paraíba
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