03/11/2012

´Igreja Católica precisa de uma linguagem que fale aos jovens´


O padre dominicano veio a Fortaleza para ministrar uma palestra no Centro Espiritual Uirapuru, no Castelão

"A Igreja Católica está perdendo grande número de fiéis porque não tem uma linguagem que fale aos jovens. É excessivamente machista, clericalista, onde o Direito Canônico parece ter mais importância que o Evangelho".

Para frei Betto, a esperança é tanto mais forte quanto se associa a movimentos que querem fazer avançar a história, sobretudo movimentos sociais, direitos humanos, defesa ambiental, para acabar com os preconceitos Foto: Viviane Pinheiro

Essa incisiva afirmação é de Frei Betto, um escritor e religioso dominicano que foi o destaque, ontem, da assembleia geral do Movimento Internacional de Apostolado dos Meios Sociais Independentes (Miamsi). O evento, no Centro Espiritual Uirapuru (CEU), foi aberto no dia 29.

Antes de conceder uma entrevista para o Diário do Nordeste, Frei Betto deu uma palestra para membros do Miamsi presentes no CEU sobre o tema: "Ter esperança, ousar, atuar: a que ações estamos sendo chamados neste mundo complexo".

"Fé em crise"

Durante a sua palestra, Frei Betto observou que a "fé está em crise". E, quando indagado sobre as alternativas para essa crise, o religioso, jornalista e teólogo, falou: "No caso da Igreja Católica, é preciso mudar o modelo pastoral, pois o modelo atual, da divisão em paróquias e excessivo clericalismo, está superado".

E foi além: "É preciso que acabe a lei obrigatória do celibato para os sacerdotes diocesanos, permitir o acesso das mulheres ao sacerdócio, valorizar as Comunidades Eclesiais de Base, os novos modelos pastorais, que são facilitados pelos novos meios de comunicação, porque a paróquia supõe a proximidade geográfica e hoje a proximidade não se dá pelo espaço geográfico, e sim pelo espaço virtual".

Evolução

Sobre o crescimento das igrejas evangélicas, o teólogo mineiro comentou: "não me agrada olhar esse fenômeno pela ótica da competição. Parabéns às igrejas evangélicas, que crescem, fazem um trabalho positivo para que as pessoas tenham um sentido para as suas vidas. Mas acho que, para a Igreja Católica, o desafio, hoje, é encontrar nova forma de evangelização, que rompa com essa igreja que foi boa na Idade Média, para o século XIX, mas não é adequada ao século XXI. E essa igreja está nascendo através das Comunidades Eclesiais de Base, que já não são tão valorizadas pelos bispos como nos anos 70 e 80".

Acerca da renovação cristã, Frei Betto argumentou: "Primeiro, é preciso, numa instituição tão autocrática como a Igreja Católica, centrada no papado, que vários setores comecem a não ter medo de falar o que pensam. É preciso questionar essa autocracia, ou seja, o bispo não é rei na sua diocese, é cabeça na sua comunidade, e ele deve saber ouvir essa comunidade".

E continuou Frei Betto: "O isolamento dos bispos faz com que, muitas vezes, fiquem surdos aos apelos dessa comunidade. Muitas vezes há uma vaticanização das igrejas no Brasil, que deve ser bom para Roma, mas não para a nossa realidade. Nós precisamos ter uma igreja com cara de Brasil, nosso povo, nossa gente. A liturgia que se adota em Roma é ótima para Roma, agrada aos turistas na basílica de São Pedro, mas eu me pergunto se é ótima para nossa gente aqui".

Ao falar sobre como se aplica a esperança e espiritualidade na renovação cristã, Frei Betto explicou: "é preciso cultivar a espiritualidade, experiência de Deus. E é isso que vai nos dar esperança. E essa esperança é tanto mais forte quanto mais a gente se associa a movimentos que querem fazer avançar a história, sobretudo movimentos sociais, movimentos por direitos humanos, por defesa ambiental, para acabar com os preconceitos etc".

Encerramento

Neste sábado haverá o encerramento da assembleia geral do Miamsi com uma missa, das 10h30 às 11h30, concelebrada por 12 padres e o bispo dom José Antônio Aparecido Tosi Marques.

MOACIR FÉLIX
REPÓRTER 

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