Diminuição do número de nascimentos «pode ser um lugar de reflexão interessante para as comunidades cristãs», considera sociólogo católico
Lisboa, 08 nov 2012 (Ecclesia) – A Igreja em Portugal deve renovar a ajuda ao próximo, adaptar-se ao aumento de idosos e melhorar o acolhimento às famílias para responder eficazmente ao decréscimo da taxa de natalidade, considera o sociólogo Alfredo Teixeira, da Universidade Católica. A diminuição do número de nascimentos “pode ser um lugar de reflexão interessante para as comunidades cristãs”, dado que o envelhecimento vai repercutir-se também na Igreja, tendo em conta que os católicos são perto de 80% da população portuguesa”, afirmou à Agência ECCLESIA. “As comunidades cristãs terão, nos próximos tempos, de pensar de forma mais exigente na sua capacidade de criar laços e formas de sociabilidade e solidariedade que se adeqúem à situação da população mais velha”, sublinhou. O professor da Faculdade de Teologia observou que apesar de muitos grupos católicos serem constituídos por pessoas idosas, faltam atividades concebidas a partir da realidade desta faixa etária: “Há movimentos eclesiais que estão muito envelhecidos mas ainda não desenvolveram uma espiritualidade que brote dessa experiência”. Alfredo Teixeira sustentou igualmente que as comunidades cristãs devem “reinventar o modo de acolher a família como ela existe, com os seus múltiplos problemas, que incluem o aumento da proporção dos mais velhos”. “Parece-me muito superficial um discurso, que por vezes se encontra também dentro da Igreja, de que os mais jovens são muito comodistas e não querem o trabalho de ter filhos”, frisou. As paróquias são chamadas a tornarem-se lugares “onde as famílias que se estão a constituir se possam encontrar e ser reconhecidas como tal”, já que estes espaços são raros nas instâncias da sociedade, assinalou. “Embora a Igreja, sob o ponto de vista público, tenha um discurso muito favorável à valorização da família na sociedade, não sei se as comunidades cristãs, para além das políticas de caráter social desenvolvidas por instituições próprias, são verdadeiramente lugar de acolhimento das famílias”, referiu. O antigo diretor do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da Universidade Católica realçou que “muitas das lógicas de ação pastoral são demasiadamente centradas no indivíduo, à semelhança do que acontece com o Estado”, desvalorizando-se “práticas dinamizadas a partir da lógica familiar”. Referindo-se às vocações para a consagração religiosa, Alfredo Teixeira lembrou que na Europa “há muitas dioceses onde se ordenam muito mais diáconos do que presbíteros”. Este facto traduz uma mudança na idade em que a decisão vocacional é tomada: enquanto muitos padres são ordenados à entrada para a vida adulta, a ordenação de diáconos permanentes só pode ocorrer a partir dos 35 anos, quando os candidatos “já têm provas dadas na vida”. RJM |
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