03/11/2012

Jesus, bom pelicano do deserto



 
Sergio e Natalina de Cascavel – PR
Oi Padre Geovane, eu estava procurando aquele artigo teu sobre o "Pelicano", lembra? E aí descobri a noticia da Academia de Letras. Fico contente pelo reconhecimento do teu trabalho.

 Bom Dia Padre Geovane. Eu não sabia que lhe foi concedida a honraria de ocupar a cadeira 8, da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, desde o dia 24 do mês passado. Nossos PARABÉNS! Estamos orgulhosos pelos feitos do nosso amigo. 

Quanto ao artigo do Pelicano, você não tem o arquivo do texto fácil para me mandar, pois não consegui localizar. Estive em Ouro Preto - MG, sábado passado e o Guia não tinha segurança quanto ao significado da gravura do Pelicano na obra do Aleijadinho, na Igreja do aleijadinho. Gostaria de mandar para ele, para daqui prá frente ele poder explicar melhor.
Grato, um grande abraço do Sérgio Lopes 


Jesus, bom pelicano do deserto

Padre Geovane Saraiva*
 
A Igreja de Cristo, por ser uma organização de pessoas, constituída de voluntários, exige de seus membros obrigações e vínculos, usando da liberdade de todos e cada um. Ela deseja clareza e convicção dos mesmos, ao aceitar e, disso não se pode prescindir, que o Filho de Deus, antes de subir ao Pai, falou com veemência sobre o sacramento da Eucaristia, com a seguinte afirmação: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém come deste pão, viverá eternamente... (cf. Jo 6, 51-71).

Temos consciência que sempre e por toda parte a refeição foi símbolo de união. Para nós, cristãos, a refeição salutar por excelência é a Eucaristia, com caráter de sacrifício e de ação de graças, como repetição do sacrifício de Cristo, no mistério pascal. No comer e beber da carne e do sangue de Cristo, já experimentamos, pela nossa fé, a eternidade, unidos na recíproca permanência, conforme as  palavras do Mestre,  que nos leva não só a compreender seu gesto maior, ao lavar os pés dos discípulos. Cabe a nós a tarefa e o desafio de procurar fazer o que ele fez, no serviço do próximo.

São Jerônimo, num comentário sobre o Salmo 102, dizia: “Sou como um pelicano do deserto, aquele pássaro bom que fustiga o peito e alimenta com o próprio sangue os seus filhos”. Ele é o símbolo do sacrifício e da doação de si mesmo. E a Eucaristia é Jesus Cristo mesmo, como pão da vida, do céu e da paz, porque nEle está a redenção da humanidade.

A principal característica do pelicano é carregar consigo uma bolsa membranosa, prendendo nela o bico, sendo duas ou três vezes maior que seu estômago, com a finalidade de armazenar alimento por um determinado período de tempo. Assim, como a maioria das aves aquáticas, possui os dedos unidos por membranas. Eles são encontrados em todos os continentes, com exceção da Antártida; medindo até três metros de uma asa a outra e pesando até 13 quilos. Os machos são normalmente maiores e possuem bicos mais longos que as fêmeas e alimentam-se de peixes.

Na Europa medieval eram considerados animais especialmente zelosos e, alimentavam os filhotes com o alimento tirado da sua própria bolsa e, se chegasse a faltar alimento, eles, num modo de proceder, alimentavam os seus filhos, com o próprio sangue, gesto este, que por analogia, nos faz pensar no próprio Filho de Deus.

Daí o pelicano nos representar, nós que abraçamos a fé, nessa profunda simbologia da Paixão de Cristo, da Eucaristia e da autoimolação – do Cordeiro Pascal. Esse tipo de ave costumava a sofrer de uma doença que o deixava com uma marca vermelha no peito. Outra versão é que esse tipo animal tinha o hábito de matar os seus filhotes, depois disso, ressuscitá-los com seu sangue, o que seria análogo ao sofrimento de Jesus, ao memorial de sua morte e Ressurreição.

Jesus Cristo é o pássaro bom e, imprescindível, para que a nossa Igreja seja verdadeiramente pascal. É por isso que suplicamos: Oh pássaro bom! Oh pelicano bom, Senhor Jesus! Temos consciência de que a Eucaristia é renovação da aliança do Senhor com a humanidade e que através dela se realiza de um modo contínuo a obra da Redenção. Temos convicção de que a Eucaristia é o sinal da unidade e do vínculo da caridade que por meio dela tende toda ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda sua força (cf. SC. 522, 537, 537 e 600).

Que o pássaro bom nos ensine amar mais a Eucaristia, Sacramento no qual Jesus se acha presente, com seu corpo, sangue, alma e divindade. Ele é banquete sagrado, “o pelicano bom a nos inundar com vosso sangue, pelo qual de uma só gota quis salvar o mundo inteiro” (S. Tomás de Aquino).

Que a nossa fé na Eucaristia, possa não só nos empolgar e nos fascinar em determinados momentos da vida, mas que nos produza um forte desejo de aprender sempre e cada vez mais, na certeza de vivermos animados na esperança, como bons pelicanos, na renúncia, na doação e na generosidade, como tão bem afirmava Dom Helder: “Que eu aprenda afinal, ao menos na quinzena sagrada, a cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano, apenas, apenas, apenas o mistério da redenção”.

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza.
Pároco de Santo Afonso

Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara).
“A Ternura de um Pastor”, já 2ª edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider)
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso)
“Dom Helder: Sonhos e Utopias” (o pastor dos empobrecidos)

Nenhum comentário :

Postar um comentário