15/12/2012

Como perceber a presença de Deus


Padre Geovane Saraiva*
Para o peregrino que visita ainda hoje a Terra Santa, logo há de perceber que Monte Carmelo, uma montanha na costa de Israel com vista para o Mar Mediterrâneo, é o lugar onde Profeta Elias viveu e morreu 850 antes de Cristo. Mas pouco se sabe sobre esse homem de Deus, antes do início do seu ministério. O que se sabe é que ele originário de Tisbé e foi contemporâneo do rei Acab e da rainha Jezabel.

O importante mesmo é olhar para o ponto mais alto do Monte, numa profunda simbologia, onde Elias, com seu lema, “ardo de zelo pelo Senhor Deus dos exércitos”, venceu o desafio e deu prova aos israelitas de que Javé, o Senhor Deus, é o único e verdadeiro Deus. Do Monte Carmelo, optou pelo silêncio, para que mergulhado da solidão, pudesse saborear a presença de Deus, numa vida de eremita, ao travar um grande e decisivo duelo contra a idolatria, anunciada pelos profetas de Baal.

A Transfiguração do Senhor nos leva a olhar para a Sagrada Escritura e nela, ver a presença do profeta Elias, grande mestre na escola da oração e da contemplação, que caminhou sempre na presença de Deus (cf. 1Rs 19). Sua fé no único Deus – numa fé sólida e amadurecida na provação – impressionou muitíssimas gerações de homens e mulheres na história do povo de Deus.

Quero aqui agradecer a Deus pelo Carmelo Santa Teresinha de Fortaleza, vendo nas nossas queridas Irmãs Carmelitas, "nosso pai Santo Elias", como elas costumam chamar. Escolheram-nas, a exemplo do mesmo, viver de uma única ocupação – na presença de Deus, pelo trabalho e pela oração, mostrando ao mundo que vale a pena contemplar a beleza de um Deus essencialmente terno e bondade sem limitastes (cf. Sl 139), tendo diante dos olhos o Monte Carmelo, na sua mais elevada simbologia e expressão, a Jerusalém Celeste. Pela nossa fé vemos Jesus, o Filho de Deus, no Monte Tabor, manifestando aos seus amigos todo o seu esplendor. Ele revela a divindade que está dentro dele, antecipando, assim, a sua glória e a nossa glória futura. São João nos assegura: “Quando Cristo aparecer, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3, 2).

Jesus Cristo, na montanha sagrada, transfigurou-se, isto é, mudou de aparência. Os três apóstolos, Pedro, Tiago e João ficaram deslumbrados. Eles queriam que essa alegria ficasse sempre entre eles. Daí a proposta: Vamos construir três tendas, porque aqui é bom demais e a nossa vida será perpetuamente fascinante e maravilhosa (cf. Lc 9,33). No alto da montanha, Jesus Cristo, antes da sua paixão, com Moisés e Elias revelou o esplendor de sua face, dizendo-nos que haveremos de nos transfigurar, uma vez que nosso destino se fundamenta na sua palavra: “Nós somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3, 20-21).

“Uma voz do céu ressoa: Eis o meu Filho amado” (Lc 9, 35-36), que  nos faz ouvir com fidelidade a sua palavra e buscar no seu corpo e sangue o alimento para nossa vida. E é precisamente pela força da palavra, do corpo e sangue de Cristo, que vamos andar na sonhada esperança de sermos semelhantes a ele, quando ele se manifestar em sua glória.

Como seria maravilhoso ver os cristãos, com pés firmes no chão da realidade, abraçarem e saborearem o silêncio e, mesmo a solidão, como condição imprescindível, no reto sentido de buscar uma profunda mística, a partir do mistério da contemplação da presença de Deus, a exemplo do profeta Elias, que viveu unicamente para Deus e fez d’Ele o seu refúgio em todas as circunstâncias de sua vida.


*padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza.
Pároco de Santo Afonso

Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).


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