09/01/2013

O Cardeal Lorscheider e o Vaticano II



Padre Geovane Saraiva*
Pedido
geovanesaraiva@gmail.com
Dom Aloísio Cardeal Lorscheider (1924-2007), foi quem melhor compreendeu o Concílio Vaticano II (1962-1965), num esforço de vivenciá-lo, na mais profunda coerência, destacando-se como defensor destemido da criatura humana em toda sua plenitude. Daí sua corajosa e profética sabedoria, ao afirmar: “O vaticano II faz-nos passar de uma Igreja-Instituição, de uma Igreja-sociedade perfeita para uma Igreja-comunidade, inserida no mundo, a serviço do reino de Deus; de uma Igreja-poder para uma Igreja pobre, despojada, peregrina; de uma Igreja-autoridade para uma Igreja serva, servidora, ministerial; de uma Igreja piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e sem mancha para uma Igreja santa e pecadora, sempre necessitada de conversão, de reforma; de uma Igreja-cristandade para uma Igreja-missão, uma Igreja toda missionária”.

Jamais podemos esquecê-lo, na sua doçura e ternura em pessoa, alegria constante, de posições corajosas e determinadas, ao mesmo tempo, pregava e anunciava o Evangelho com coragem profética e grande sabedoria, carregando sempre no seu grande coração as alegrias, as esperanças, as tristezas, as angústias e os sofrimentos de sua querida gente (cf. GS 200). Além de travar, sem jamais se cansar, uma luta pela redemocratização, pela liberdade de expressão, pela dignidade da pessoa humana e pelo fim da tortura em nosso querido Brasil.

Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo Metropolitano de Brasília afirma, “como foi preciosa sua participação no Concílio Vaticano II, no início do seu episcopado. Entretanto, o significado de sua figura e o alcance de sua atuação vão muito além do interior da Igreja, repercutindo na sociedade brasileira e no mundo. Homem de diálogo, conforme o espírito do mesmo Vaticano II, empreendendo esforços para a edificação de uma sociedade justa, solidária e fraterna, querida pelo Criador e Pai”.

Seu esforço foi constante, no sentido de tornar a Igreja no século XX mais apta para anunciar o Evangelho à humanidade, especialmente quando o Vaticano II fala do dever e do direito do apostolado dos cristãos leigos, fazendo entender com todas as letras que ele vive no coração do mundo e, ao mesmo tempo, são convocados a ser sal, luz e fermento, nas mais diversificadas realidades em que estão inseridos e desempenham suas funções, individual ou coletivamente, sempre em comunhão com a Igreja, através dos pastores (bispos, padres e diáconos).

Na Arquidiocese de Fortaleza, nos seus 22 anos na qual esteve à frente, o seu modo de proceder foi como que, sine qua non, no sentido de que o povo de Deus compreendesse o seu chamado na grande tarefa de evangelizar a realidade do mundo por ele vivido. Quis ele mostrar, através de sinais e gestos concretos, que toda Igreja é missionária, no âmbito da economia, da política e, sobretudo, da promoção da justiça e da paz, sem jamais esquecer a realidade do trabalho, saúde e educação, sonhando com um modelo de Igreja que sai do templo e vai às ruas, sendo uma presença viva no meio do povo, num ardente desejo de ver a realidade transformada.

Dizia o Cardeal Lorscheider: “Enquanto tivermos o povo à margem, excluído do processo econômico, social e cultural, nós não podemos nos iludir que vamos resolver os problemas do Brasil”. Padre Manfredo Araújo de Oliveira interpretou com muito rigor e sabedoria esse pensamento do nosso terno e eterno pastor desta forma: “Dom Aloísio Lorscheider, com muita ternura, mas com firmeza profética, levantou sua voz em nome de Deus para denunciar as injustiças gritantes, presentes na vida dos cearenses, frente a uma sociedade que, tendo se acostumado com a miséria como algo natural, se tornava insensível aos sofrimentos humanos”.

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza.
Pároco de Santo Afonso

Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).

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