08/01/2013

Olhar para o momento presente é o caminho para ser feliz


VILFREDO SCHÜRMANN Economista, palestrante e capitão do veleiro Aysso da família Schürmann, que deu a volta ao mundo duas vezes, de 1984 a 1994 e de 1997 a 2000 (Foto: divulgação)Durante muito tempo, fui executivo na área financeira e alcancei sucesso em minha profissão. Tudo o que fazia era me cobrar para estar sempre no topo. Até que, motivado pelo sonho de navegar pelo mundo, aos 35 anos virei a mesa e mudei totalmente meu rumo. Quando cheguei à Polinésia, depois de quatro anos velejando, percebi uma mudança em minha filosofia de vida. Foi o povo polinésio, sempre amável, cordial e com um sorriso contagiante, que me inspirou a repensar meus conceitos. Sua saudação, “Aita Pea Pea”, que significa “Tudo bem, não se preocupe”, mostrava a maneira tranquila como enxergavam a vida.

Os polinésios habitam a região há quase 30 mil anos, antes mesmo da chegada de religiões como islamismo, budismo e cristianismo. Eles acreditam na mana, o poder espiritual que mantém vivos os valores e preserva a harmonia dos povos polinésios.

Fizemos grandes amigos nas diversas ilhas que conhecemos. Estava ficando cada vez mais difícil deixá-los. Nosso visto de permanência estava para expirar. Olhar no calendário a data de partida se aproximando dava um aperto no coração. Fomos dizer adeus a uma família polinésia que nos recebera como se fôssemos primos de uma terra distante. Ben, Marise, Albert e Hanna não se conformavam com nossa partida. Se somos felizes aqui, por que partir? Era uma lógica difícil de contestar. Quando perceberam que nossa ida era inevitável, fizeram uma grande festa de despedida no atol Motu-Tautau, na Ilha de Tahaa. Foram três dias de festa, com muita alegria, música e dança.

Não podemos mudar
a direção dos ventos. Mas podemos ajustar as velas   
O dia da despedida chegou. Nossos amigos não queriam que fôssemos embora, diziam que éramos os irmãos de coração. Durante a festa, me distanciei do grupo e me sentei à beira-mar, admirando o mar azul-piscina e a praia de areias finas e brancas como a neve. Pensativo, não percebi que o chefe Hio, o mais velho dos nativos, me acompanhou e veio sentar a meu lado.

Ele me fitou nos olhos e perguntou:
– Por que você está triste?
– Tenho de ir embora, meu visto terminou e queria ficar mais tempo com vocês.
– Mas você não precisa ir. Esta ilha é minha, você pode ficar o tempo que quiser.
Com sua voz suave, ele disse:
– Aproveite o momento aqui e agora, Vilfredo. Se você não acordar amanhã, perdeu esta oportunidade de ser feliz. Vocês, homens brancos, se preocupam demais com o futuro.
Depois de uma pausa, completou:
– Pior do que isso, vocês também se preocupam com aquilo que já passou. Viva o dia de hoje.

Com a mão em meus ombros, ele me levou de volta para a festa. Na hora de zarparmos, os polinésios pediram que jogássemos os colares de flores que nos presentearam no mar somente quando não enxergássemos mais a terra. Eles acreditam que, se os colares voltarem à ilha, é um sinal de que retornaríamos para revê-los. No mar, aprendi que não podemos mudar a direção dos ventos, mas podemos regular as velas. Viver um sonho é realizar a felicidade. 

Revista Época

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