09/01/2013

Trezena de São Sebastião

Dom Orani João Tempesta*
Iniciamos segunda-feira, dia 7 de janeiro, a trezena de São Sebastião. O tema que nos acompanha este ano é o do acolhimento: “São Sebastião, irmão na fé, acolhei-o”.
Alguns nos perguntam sobre o sentido da trezena, pois o período mais comum de tempo de orações que rezamos são as novenas. A palavra novena vem do latim nove.  Através dos tempos, entretanto, esse período foi tomando novas formas e períodos, como os tríduos (três dias) e também as trezenas (treze dias). Às vezes podemos encontrar até as tradições locais de 30 dias, 3 anos, e outros tipos de preparações ou celebrações.
Em geral, rezamos esses períodos por vários motivos espirituais. Eles nos fornecem um canal de fortes sentimentos. Para nós é um modo de comemorar e celebrar o grande padroeiro da Arquidiocese. Estácio de Sá fundou a Vila de São Sebastião ao erigir uma capela de palha, em honra a esse santo, na Praia Martim Afonso (hoje Praia Vermelha), mais tarde transferida para o Morro de São Januário (depois Morro do Castelo), demolido em 1921.
Nesses momentos, uma trezena pode canalizar nossa apreensão de uma forma positiva: confiar as nossas necessidades a Deus através da intercessão de um Santo, por exemplo, e no nosso caso, São Sebastião.
Abrimos, portanto, o ano novo com a festa do padroeiro de nossa cidade maravilhosa, segundo tradição antiga (batalha das canoas), grande defensor da mesma, e que agora intercede por todos nós. Além do tema do acolhimento que nos liga à necessidade de acolher os jovens peregrinos neste ano da juventude, também estamos acolhendo a solidariedade dos irmãos e irmãs que doam de si e dos seus bens para os desabrigados das enchentes deste ano através da campanha da Cáritas Arquidiocesana, que acontece concomitantemente com a peregrinação da imagem de São Sebastião pela nossa cidade.
Além das Igrejas, Capelas e Paróquias dedicadas ao nosso santo, também percorremos hospitais, casas de saúde, locais de detenção ou privação de liberdade, entidades sociais e culturais, órgãos governamentais do poder executivo ou legislativo, assim como da segurança pública, conventos e casas religiosas, em especial as contemplativas, e tantos outros locais, chamando as pessoas ao encontro com Cristo para que, como São Sebastião, sejam testemunhas fiéis do Evangelho até o fim de suas vidas.
Acolher o exemplo de São Sebastião, e por isso viver como cristão autêntico, é também saber acolher o outro, ser solidário com o outro e, em especial neste ano da juventude, acolher o jovem peregrino que vem compartilhar sua fé e sua vida cristã conosco. Bem-aventurados somos nós por poder acolher esses belos sinais de esperança em nossa cidade. Que eles nos levem a viver cada vez mais a caridade.
A trezena nos ajuda a renovar nossa confiança em Deus e a nos manter em harmonia com Ele e a sua santa vontade. Oferece-nos um verdadeiro conforto para a mente e para a alma, pois durante esse tempo celebramos juntos a nossa fé, ainda mais neste ano, que é dedicado ao aprofundamento da fé. E caminhamos procurando em tudo viver o Mistério da Encarnação celebrado neste tempo de Natal.
A trezena também é um momento oportuno para nos colocar em sintonia com a nossa família espiritual, a Igreja.
Com ela nos unimos aos nossos irmãos, aumentando o nosso sentimento de comunidade, de povo de Deus orante. A nossa comunhão com todos os que anseiam por tempos melhores respeitando a liberdade de opção e de pensamento, sem pressões contrárias e confiando no progresso da paz e da fraternidade. A vivência cristã nos leva a construir, com a graça de Deus, um mundo mais justo e humano diante de uma sociedade que perde os valores da própria vida humana. Basta ver as guerras, violências, perda de sentido da vida, esfacelamento das famílias, desconfianças, corrupção e tantas situações que demonstram que, mais do que nunca, necessitamos voltar a nossa vida ao verdadeiro Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
Com a trezena também nos preparamos mais firmemente para a grande celebração litúrgica da Igreja – a Santa Missa – que é celebrada a cada dia, mas que nos conduz para a grande celebração do Dia do Padroeiro, dia 20 de janeiro. A celebração eucarística em nossa Catedral será precedida pela grande procissão popular que acontece à tarde na cidade do Rio de Janeiro.
A trezena, embora não faça parte da liturgia oficial da Igreja, nos prepara, no entanto, para a liturgia e para a vida de unidade eclesial. Caminhamos juntos na mesma fé, e ao pedirmos a intercessão de São Sebastião devemos querer imitar as virtudes de sua vida no seguimento ao Evangelho de Jesus Cristo. A passagem da peregrinação pelas ruas dessa grande cidade, abrindo praticamente o novo ano, suscita também reações, em geral de piedade, levando pessoas a voltarem a participar de sua comunidade e procurando vivenciar suas tradições católicas, que esperamos que leve a um aprofundamento da fé.
Preparação é a palavra chave de uma trezena! Preparemos as nossas almas para a exigência da confiança, da humildade e da perseverança, três qualidades importantes na oração cristã. E que a imagem de São Sebastião, peregrinando pela cidade do Rio de Janeiro, seja penhor de graças para todo o nosso amado povo!
*Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

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