Mais jazzístico do que costuma soar, Waldonys fez no último domingo, em Guaramiranga, uma das mais aplaudidas e disputadas apresentações do Festival Jazz & Blues. Ao lado do sanfoneiro cearense, estava o pianista carioca Mizael Hora, responsável também pelos arranjos do espetáculo.
Waldonys recriou temas do repertório do Rei do Baião, em show com Misael da Hora Fotos: Viviane Pinheiro
Os dupla homenageou Luiz Gonzaga (1912 - 1989), com uma releitura que inseriu versões instrumentais, com abertura para improvisos na sanfona e no piano elétrico; e baiões e xotes, no melhor estilo celebrizado por Gonzagão. O público, claro, caiu na dança.
Em Guaramiranga, os ingressos para ver o show especial de Waldonys acabaram rápido. Para quem não viu, uma nova oportunidade surge: a performance será reapresentada amanhã, às 21 horas, no Teatro Via Sul. O evento compõe a programação Festival Jazz & Blues, que desce a serra e em traz parte de sua programação para Fortaleza, hoje e amanhã.
Show
"O Brasil nunca mais terá um trio como Senna, Pelé e Gonzagão", anunciou, a cappella, Waldonys, entoando repente de Raimundo Nonato e Nonato Costa, que abriu o repertório. No palco, o duo sanfona e piano foi acompanhado por Gilson Monteiro (zabumba) e Vanildo Franco (triangulo), Eduardo Holanda (violão e guitarra), Miqueias dos Santos (baixo) e Adriano Azevedo (bateria).
"Asa Branca", clássico mais popular da parceria Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, ganhou arranjo em frevo, e já na segunda música levantou o público que lotava a Cidade Jazz & Blues, seguida de versão instrumental, não menos pra cima, de "Baião". Misael apresentou, em seguida, de sua autoria "Astral da Terra" e, de volta ao microfone, Waldonys cantou "A Vida do Viajante".
A dupla mostrou desenvoltura em conduzir o público, dosando e intercalando versões menos dançantes, instrumentais, a outras mais enérgicas. Ainda na metade, a na passagem que emocionou a plateia, Dominguinhos surgiu ao fundo, no telão, cantando e tocando sanfona. "Obrigado Waldonys, por me deixar participar deste show", agradecia o mestre sanfoneiro, que desde o dia 20 de dezembro está hospitalizado.
Em dueto bem ensaiado, com as duas sanfonas em cena, a do palco e a do vídeo, os dois cantaram a bem humorada "Não Vendo Nem Troco", intercalando versos e firulas, e arrepiando a plateia, que a este ponto do espetáculo, era só aplausos, dançava e vibrava com os dois.
Entre uma música e outra, Waldonys contou ainda algumas histórias ao público de sua convivência com Gonzaga, quem conheceu ainda criança, por volta dos 13 anos, e por ele foi apadrinhado. Ao tocar o chorinho instrumental de Luiz Gonzaga "13 de dezembro", música que marca o dia do aniversário de Gonzagão, o cearense relembra um episódio em que estavam ele e Gilberto Gil na casa do Rei do Baião. Gil, que havia letrado por conta própria o choro, decidiu mostrar os versos ao autor do arranjo. "Seu Luiz deu um tapinha nas costas de Gil e disse: ´Eu queria ter um neguinho assim´", lembrava, e ria.
Apesar de não ter sido tão próximo de Luiz Gonzaga, Misael Hora também tem um histórico de convivência com o Rei do Baião. O músico é filho do maestro e gaitista Rildo Hora, que, na década de 1970, era amigo e produtor de Gonzagão - tanto que o sanfoneiro se tornou padrinho de sua irmã, Patrícia Hora. O repertório de Luiz Gonzaga também fez parte de sua trajetória musical, quando integrou a banda de Sivuca.
Em Guaramiranga, o repertório incluiu ainda "Pau de Arara (sertão do bodocó)", "Sabiá", "Sala de Reboco". Os dois encerram tocando mais uma vez "Asa Branca", mas não sem antes pedirem uma oração para Dominguinhos e tocarem uma de suas composições mais conhecidas, "Eu Só Quero um Xodó".
Internacional
Outra atração que conseguiu tirar das cadeiras o público de Guaramiranga e também estará esta semana em Fortaleza, foi a paulista Igor Prado Band. No extremo oposto ao de Waldonys, o grupo fez uma das apresentações desta edição mais fincadas no tema do festival, com uma seleção de clássicos do blues e do soul norte-americano.
No repertório, mesclaram músicas do projeto "Blues & Soul Sessions", que em 2012 foi transformado em CD e DVD com mesmo nome, a clássicos que estavam na ponta da língua do público.
Com eles, nos vocais, subiram ao palco ainda os cantores norte-americanos J. J. Jackson, cantor do Sul dos Estados Unidos, hoje radicado no Brasil, e Tia Carroll, cantora de Soul renomada na cena de São Francisco.
Os veteranos norte-americanos J. J. Jackson e Tia Carroll reeditam, em Guaramiranga, a parceria com o grupo paulista Igor Prado Band. O encontro foi registrado em DVD ao vivo. Os artistas apresentam o espetáculo amanhã, em Fortaleza
A banda é composta pelos irmãos Igor Prado (guitarra) e Yuri Prado (bateria), Rodrigo Mantovani (baixo) e contou com apoio do pianista Flávio Naves (SP), Denilson Martins no sax e Sidmar Vieira, no Trumpete.
Desenvolto no português, J. J. Jackson foi uma atração a parte. Performático, cantou Tim Maia a capela, conversou com o público, e empolgou cantando temas como o R&B "My Girl", ou a dançante "I Fell Good" (James Brown). Não menos empolgante, Tia Caroll cantou "Come Together", dos Beatles, músicas do projeto "Blues & Soul Sessions", como "Keep Knockin´" e "Don´t Turn Your Heater On". Juntos, eles fizeram ainda "duo romântico" no blues "If I Cant´t Have You" e fizeram a plateia vibrar com versão rock´roll de "Stand By Me", famosa na versão de John Lennon.
A programação completa da edição em Fortaleza do Festival Jazz & Blues está disponível no sitehttp://www.jazzeblues.com.br/.
SAIBA MAIS
Hoje
21h - Rosa Passos (BA), no Teatro do Shopping Via Sul
Amanhã
20h - Blues N´ Soul Sessions, com Igor Prado Band (SP), J.J. Jackson e Tia Carroll (EUA), no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
21h - Waldonys (CE) e Misael da Hora (RJ) - Baião Instrumental - Homenagem a Luiz Gonzaga, no Teatro do Shopping Via Sul
Mais informações
Festival Jazz & Blues 2013 - Em Fortaleza dias hoje e amanhã. Informações: (85)3262.7230.http://www.jazzeblues.com.br/
FÁBIO MARQUES*ENVIADO A GUARAMIRANGA
*O repórter viajou a convite da produção do Festival Jazz & Blues
Diário do Nordeste
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