30/03/2013

CRISE ECONÔMICA: Despenca a popularidade de François Hollande na França


Estagnação econômica, desemprego e promessas não cumpridas fizeram a popularidade do presidente francês despencar em dez meses de governo. Hollande conseguirá reagir?

FILLIPE MAURO
O presidente da França, François Hollande, em cerimônia em frente ao Arco do Triunfo no Dia do Armistício na França (Foto: Philippe Wojazer/AP )
Há quase um ano, em um dos períodos mais ferrenhos da crise financeira europeia, a França confiou a recuperação do bem-estar do país ao socialista François Hollande. Um parlamentar apelidado por seus colegas de Monsieur Petite Blague (o senhor Piada Sem Graça), um político meio sem sal nem açúcar, que, apesar de sua campanha improvisada, caiu na graça do eleitorado. Hollande foi projetado às pressas para contornar o escândalo sexual que envolvia uma camareira de Nova York e o ex-chefe do FMI Dominique Strauss-Kahn, um dos favoritos do partido para o confronto com o então presidente, Nicolas Sarkozy. A despeito da fragilidade inicial, a campanha de Hollande deslanchou. Ele investiu nos números ruins da economia e na proximidade do governo francês com a chanceler alemã, Angela Merkel, criticada por muitos franceses. Desde 2011, Sarkozy já não inspirava confiança - nem nos franceses, nem em si mesmo. Em janeiro de 2012, em visita à Guiana Francesa, garantiu à imprensa que, à partir dali, nunca mais ouviriam falar dele. A possibilidade de Sarkozy se reeleger, antes aventada com frequência, parecia naufragar no que a ciência política diagnostica como voto retrospectivo: o eleitor francês olhou para trás, viu cinco anos de estagnação e decidiu punir os responsáveis com o voto oposicionista.
Os socialistas apenas não imaginavam que esse mesmo mal os contaminaria. A lua de mel entre Hollande e os franceses durou bem menos do que seu partido imaginava. Nada é mais natural para os franceses do que criticar com insistência seus governantes. Mas, na comparação com os dez primeiros meses de governo de seus três últimos antecessores – entre eles o também socialista François Mitterrand –, Hollande conseguiu se superar. É o que tem o pior índice de aprovação. Segundo o instituto de pesquisas TNS Sofres, apenas 1 em cada 3 eleitores considera seu governo bom.
A primeira sondagem data do início do mandato de Hollande, em maio de 2012. Na época, suas promessas de campanha e a efervescência de seu eleitorado ainda estavam frescas e lhe rendiam consideráveis 55% de aprovação. Havia credibilidade pública em seus projetos de reaquecimento da atividade industrial e de combate ao desemprego. Os países mais combalidos pela crise da Zona do Euro viam em Hollande um contraponto ao austero projeto econômico da Alemanha. Entre países credores da União Europeia, deixava de existir um consenso sobre a necessidade de cortes nos gastos públicos.
Dos 55% de aprovação, Hollande caiu para 30%. Preciosos 25 pontos percentuais que escorreram entre a continuidade das demissões em grandes companhias e a manutenção do elevado déficit público do país. Os mais recentes relatórios indicam que 10% da população economicamente ativa da França está excluída do mercado de trabalho. Para 2013, o governo pretendia um endividamento público de, no máximo, 3% do PIB. A meta teve de ser abandonada e foi reajustada para 4,5% do PIB.
No início de seu mandato, Hollande foi na contramão do receituário de austeridade. Reduziu a idade de aposentadoria para quem começou a trabalhar aos 18 ou 19 anos de idade e conseguiu incrementar benefícios sociais com a elevação da carga tributária sobre os mais ricos. Uma medida aplaudida pela população e que gerou uma anedótica onda de “exilados fiscais”, entre eles o ator Gérard Depardieu. O baque na popularidade de Hollande veio meses depois, em outubro do ano passado, quando relatórios do governo apontaram um profundo comprometimento da competitividade do país. Altos custos de produção fizeram grandes indústrias fecharem e podaram pela raiz a criação de novos empreendimentos. Como nos tempos de Sarkozy, não houve avanços na geração de empregos, e 10% da população economicamente ativa está desocupada. A produção industrial permanece estagnada. 
A desilusão é a causa da queda vertiginosa de sua aprovação. A promessa de campanha de Hollande era fazer a França crescer 1,7% em 2013. Uma cifra otimista se levado em conta o quadro econômico europeu, onde a economia do centro da Zona do Euro está estagnada, e a de sua periferia em recessão. Essa expectativa já foi revisada pelo governo e agora está na marca de 0,8%. Empresários falam em uma “situação emergencial”. A equipe econômica de Hollande concorda com essa interpretação. Para surpresa dos eleitores socialistas, que aguardavam uma forte oposição ao modelo alemão, o presidente chegou a cogitar um corte em gastos públicos, que hoje equivalem a 56% do PIB. 
Em dezembro do ano passado, o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, afirmou que o governo pretende “reinventar o modelo [econômico] francês”. As declarações podem até soar “revolucionárias”, como complementou na ocasião o ministro do Trabalho Pierre Moscovici. Mas, na realidade, recuperam um instrumento macroeconômico consagrado na direita europeia. A prioridade máxima de Hollande tornou-se elevar a competitividade do país cortando ao máximo os custos trabalhistas que pesam sobre o empresariado. Daí a resposta negativa de eleitores que agora se sentem frustrados com a escolha feita em 2012.
Se a frustração popular já é, por si só, um elemento preocupante para um governo, ela torna-se ainda mais grave quando atinge sua base aliada no Legislativo. O restante do Partido Socialista não vê com bons olhos a guinada da política econômica de Hollande. Segundo o ministro do Interior, Manuel Valls, “a esquerda francesa deveria ter passado por essa metamorfose ideológica ao longo dos dez anos em que esteve na oposição, e não adaptar seu ‘software’ durante o mandato”. Membros do Front de Gauche, o setor mais radical da esquerda francesa, já acusam Hollande de ceder a princípios neoliberais.
Boa parte dos problemas de Hollande estão em sua indecisão. Após um ano de mandato, seu governo está dividido. Querem salvar o bem-estar francês, mas ainda não encontraram uma forma de fazê-lo sem comprometer a recuperação econômica do país. Sem solução, permanecem andando em zigue-zague – ora mais à direita, ora mais à esquerda. A França está longe de entrar em colapso, como ocorreu com as frágeis economias de Grécia e Espanha. Mas também não sairá tão cedo de sua estagnação sem uma estratégia forte e constante. Em 2012, ao eleger Hollande, os franceses votaram contra a austeridade alemã e a favor das políticas de bem-estar social. As pesquisas de popularidade indicam que os franceses não estão dispostos a aceitar qualquer flexibilização dos projetos iniciais.
A impopularidade de Hollande
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