Padre Geovane Saraiva*
O acontecimento maior da
nossa fé tem seu eixo na liturgia da Semana Santa, ocasião em que os cristãos
meditam e entram em cheio na paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo, manifestada no despojamento e aniquilamento do Servo de Javé, rei
humilde e obediente (cf. Is 52, 13-53), até a morte e morte na cruz.
O nosso Deus é essencialmente bom e terno, passa da morte à
vida, afirmando-nos que a tristeza e desânimo são coisas do passado. A
esperança e o otimismo, proclamada pelo Papa Francisco, neste domingo de ramos,
24/3/2013, quer contagiar nossa existência, na certeza de que Jesus venceu a
morte e quis se estabelecer para sempre no meio da sua gente querida. “Por que
estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!”
(Lc 24, 5-6).
Páscoa é a vida indo ao encontro da vida e se distanciando da
morte, evidenciada na vitória e no milagre da vida a partir do duro contexto da
morte. A Igreja sempre dar uma grande importância à simbologia do fogo, na luz
do Círio Pascal, o fogo novo, da luz que nasce das trevas, sinal do Senhor
ressuscitado, da vitória diante da angústia da morte. O fogo como sinal da
presença de Deus no decorrer da história. A luz é a própria vida, pela presença
do Cristo Jesus, trazendo vida à criatura humana, no “duelo forte e mais forte,
na vida que vence a morte”.
Não podemos jamais esquecer a água como símbolo da vida, porque
nela as pessoas renascem no batismo para a vida do mundo (cf. Jo 3, 1-7),
levando-nos a compreender que a vida é duradoura e que participamos do ponto
culminante, não da vida de um herói, mas fomos mergulhados na vida do próprio
filho de Deus, razão pela qual vivemos, constantemente convidados a sonhar com
a glória futura, com o feliz “dia que Senhor fez para nós, alegremo-nos e
nele exultemos”.
Páscoa é a vitória da vida sobre a morte, trazendo a esperança e
a grande oportunidade para a criatura humana assumir uma vida nova, uma vida
diferente. Na Igreja, “memória”, “presença” e “profecia” são um trinômio que só
se compreende a partir da Páscoa, tendo o Senhor ressuscitado como o centro,
como aquele que nos encoraja e enche de esperança. “Quem perde seus bens, perde
muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo”
(Miguel Cervantes).
A Páscoa deve ser um processo que se realiza e que acontece,
através do compromisso ético, na ação pastoral, no trabalho, no convívio social
e nas mais diferenciadas atividades das pessoas que têm fé e que acreditam no
futuro da humanidade e que “O Cristo, Nossa Páscoa”, com toda sua força, renova
e deixa repleta de graça a face da terra.
A liturgia da Páscoa (Vigília Pascal), no dizer de Santo
Agostinho, é a “Mãe de todas as celebrações” que, com seus ritos antigos, com
toda sua beleza, sua profundidade poética e, ao mesmo tempo profética, deve nos
estimular e desafiar. Ficar só no rito, seria muito triste ao coração de Deus.
A Páscoa deve ser um grito, um clamor, um anúncio e a
proclamação, numa só fé, da busca de um mundo novo que tem seu início na
esperança e no amor de Deus, que quer a pessoa humana realizada e de bem com a
vida. Quando é que teremos uma Igreja verdadeiramente pascal? Somos desafiados
a construir essa Igreja, pela força e graça, que nasce da Páscoa.
*Padre da Arquidiocese de
Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado
Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e
vice-presidente da Previdência Sacerdotal.
Pároco de Santo Afonso
Autor
dos livros:
“O
peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder
Câmara);
“A
Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A
Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom
Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).
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