04/03/2013

Egito: a segunda revolução?


Depois das eleições que conduziram ao poder Mohamed Mursi e a aprovação, em referendo, de uma Constituição que lhe reforça os poderes, o país continua a caminhar para o caos, com manifestações na rua e uma grave situação econômica.

Desde janeiro que se calcula que mais de 60 pessoas morreram em confrontos com a polícia, naquele que é o período mais conturbado, desde que Mohamed Mursi lidera o país. Apesar de os confrontos registados em cidades como Porto Suez, Porto Said e Ismaelia terem origens diferentes, a contestação nas ruas reflete em grande medida o descontentamento popular, nomeadamente dos setores da oposição, que acusam Mohamed Mursi, assim como a Irmandade Muçulmana, que esteve na base do seu apoio, de estarem a trair os princípios da revolução de 2011, e de tentarem monopolizar o poder e comprometer a liberdade das minorias e dos setores mais seculares da sociedade. A Organização de Direitos Humanos do Egito tem vindo a reafirmar estas críticas, mostrando-se preocupada “com a liberdade e com os direitos de todos os egípcios, sejam mulheres, crianças, jovens ou adultos, núbios, beduínos do Sinai, muçulmanos ou cristãos”.

Perigo de “desmoronamento”
Enquanto o presidente egípcio se esforça por assegurar, internacionalmente, que o país está a dar os seus primeiros passos no sentido de «uma sã governação e um Estado de direito», como o fez recentemente durante uma breve estada em Berlim, as manifestações, as greves e os confrontos com a polícia apontam no sentido contrário. O próprio chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general Abdel Fattah Al-Sisi, comentou a situação política do país, considerando que a situação atual pode conduzir ao «desmoronamento do Estado». Não obstante as tentativas de secundarização do papel das forças armadas, estas palavras não deixam de ter um peso relevante, se nos recordarmos do papel que os militares desempenharam na organização do Estado, até há muito pouco tempo e durante as presidências de Nasser, Sadat e Mubarak.

A crise econômica
A crise política agrava-se à medida que a economia nacional entra em colapso. O turismo, uma importante fonte de receitas, tem vindo a diminuir drasticamente com a situação de instabilidade social, assim como o investimento estrangeiro, que espera uma clarificação da situação política e social do país. O desemprego agrava--se, em particular junto dos jovens, e os sindicatos têm mobilizado muitos manifestantes para as ruas. Durante uma das manifestações destinadas a comemorar a queda do regime de Hosni Mubarak, e que degenerou em violência com a polícia, em Suez, os manifestantes gritaram nas ruas por “pão, liberdade e justiça social”.

Num artigo de análise sobre a situação no país, publicado na revista Foreign Policy, de Washington, a atual crise política, econômica e social era apresentada como o resultado do confronto traumatizante entre o velho Egito e a modernidade. Essa leitura coincide com os apelos da oposição que falam da necessidade de se proceder à “segunda revolução”.


Fátima Missionária

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