Catavento
"Alto, de frente ao
revoltoso oceano,
e exposto à eterna
rispidez do vento,
levanta-se ao prestígio
soberano
dos músculos de ferro, o
catavento.
Pulse-lhe a vida a cada
movimento
e parece oxidar-lhe o
desengano,
quando se lhe transforma
num lamento
todo o seu vão clamor,
vezes humano.
Pregado ao solo, numa
infinda mágoa,
de mil sonhos, talvez,
sobre os escombros,
chora, enchendo de
pranto a caixa d’água...
É que ele, preso à
angústia de existir,
sente a revolta de
suster, aos ombros,
asas de ferro, e não
poder subir!"
Carro de Boi
Rodam, tardas, gemendo, as rodas, arrastando
os pesados pranchões de
pau-darco. Angustiado
ora altivo e roufenho,
ora moroso e brando,
todo carro de bois é um
soluço abafado...
A hora viúva e glacial
do crepúsculo quando
o sol desce, o seu canto
é tão doce e magoado
que ora nos prende à
terra, ora nos vai levando
na asa de oiro de sonho
a um longínquo passado.
Choram, tristes, à frente, os bois mortos de sono...
Há uma vaga tristeza,
uma ansiedade em tudo
e a paisagem dir-se-ia
um por-de-sol, no outono...
Oh! Natureza — Mãe! Sei quanto sofres, pois
vejo, ansioso, rolar
todo o teu pranto mudo
pelos bons olhos melancólicos
dos bois.
Morria o Sol no
Ocaso
Morria o sol no ocaso e o olhar de minha amada
qual rubro sol distante,
a rutilar, morria...
Gemia o seu soluço
errando pela estrada
e errando pela estrada
eu, mísero, gemia!
Perdia o sol tombando, a
clara luz doirada
e o vulto dela, ao
longe, aos poucos, se perdia.
Fugia o meu olhar no
curso da jornada
e o seu magoado olhar
tristíssimo fugia...
O sol tombou no poente
em nuvens de oiro e arminha,
e Cleonice, chorando, à
curva do meu caminho,
entre as sombras da
noite, exânime tombou...
Entanto, o mesmo sol que
desmaiara outrora,
vem todas as manhãs ao
despontar da aurora,
só ela, nunca mais, oh!
nunca mais voltou!

Nenhum comentário :
Postar um comentário