14/04/2013

Estudantes de Barra do Piraí, RJ, vão participar de filme com Letícia Spiller

Eles fizeram parte de oficinas de cinema em Barra do Piraí.
Filmes de 18 escolas participaram do IV Festival de Cinema Estudantil.

Ana Carolina MorenoDo G1, em São Paulo
picos:Pablo Oliveira, roteirista, diretor e protagonista do curta 'Uma fazenda nada normal', produzido em Barra do Piraí (Foto: Divulgação/Mauá Filmes)Pablo Oliveira, roteirista, diretor e protagonista do curta 'Uma fazenda nada normal', em cena do filme
(Foto: Divulgação/Mauá Filmes)
Interpretando José, o fazendeiro que fala com animais no curta-metragem "Uma fazenda nada normal", o estudante Pablo de Olveira, de 17 anos, participou na última semana do IV Festival Internacional Estudantil de Cinema de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, que terminou neste sábado (13). Ele é um dos cerca de 500 estudantes envolvidos no evento, todos alunos do 6º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio de escolas públicas e privadas da cidade.
Além de ator, ele foi roteirista e diretor do curta, seu segundo produzido com a equipe do Ciep 287 Professora Angelina Netto Sym, da rede estadual, por meio do projeto 'Luz, Câmera, Educação', realizado pela prefeitura desde 2009. E, na semana que vem, começa um novo estágio, auxiliando na direção do longa-metragem "O Casamento de Gorete", estrelado e produzido pela atriz de "Salve Jorge" Letícia Spiller, que terá locações em Barra do Piraí.
Além de Pablo, outros alunos envolvidos no festival vão participar, na frente e atrás das câmeras, da comédia produzida pela Paisagem Filmes, que começa as gravações ainda em abril. É o caso de João Pedro da Silva, também de 17 anos e aluno do Ciep 310 Professora Alice Aiex, e Jefferson Maia Santiago, de 18 anos, que concorreu no festival com uma produção da Escola Municipalizada Marieta Coelho Vasconcelos. Segundo o produtor Adriano Lirio, o filme deve estrear nos cinemas em novembro.
Plateia durante o IV Festival Internacional de Cinema Estudantil de Barra do Piraí, nesta semana (Foto: Divulgação/Mauá Filmes)
Plateia durante o IV Festival Internacional de
Cinema Estudantil de Barra do Piraí, nesta semana
(Foto: Divulgação/Mauá Filmes)
A contratação de atores, estagiários e assistentes locais, segundo o produtor do longa Adriano Lirio, é uma contrapartida que a prefeitura da cidade pede às produções que usam locações na cidade, pólo local da indústria do audiovisual. Como o diretor participou do júri da terceira edição do festival, alguns dos cerca de 400 figurantes, além de personagens secundários, foram selecionados entre os participantes dos curtas produzidos pelas escolas.
Iniciantes e veteranos
João Pedro é iniciante no mundo do audiovisual e participou das oficinas pela primeira vez no ano passado. O filme "Zé Gaiola e Mariinha" foi escrito por ele, que também interpreta o personagem principal.

"É a história de um caipira que se apaixona por uma filha de coronel, e ele faz tudo para não permitir essa união, então acaba acontecendo uma série de coisas, é uma comédia", conta ele.
Já Jefferson está no projeto desde a primeira edição, quando tinha apenas 15 anos. No festival que se encerra neste sábado, ele concorre com o filme "Set", no qual interpreta o vilão da história. "No começo preferia ser o diretor, mas agora estou gostando mais de ser ator", explica Jefferson, que vai fazer uma ponta no filme de Letícia.
Letícia Spiller durante a 3ª edição do festival, em Barra do Piraí (Foto: Divulgação/Mauá Filmes)
Letícia Spiller durante a 3ª edição do festival, em
Barra do Piraí; ela atua e produz o filme
'O casamento de Gorete' (Foto: Divulgação/
Mauá Filmes)
Plateia lotada
Desde o dia 7, cerca de mil pessoas compareceram todas as noites, a partir das 19h, em uma praça de Barra do Piraí para a exibição dos 18 filmes que participaram da Mostra Competitiva Local, dos dez filmes da Mostra Competitiva Nacional (produzidos em Minas Gerais, outras cidades do Rio e no Rio Grande do Sul), e das cinco produções da Mostra Internacional, da qual, neste ano, participaram Argentina, Equador, Espanha, Itália e Venezuela.

De acordo com Roberto Monzo Filho, secretário municipal de Trabalho e Desenvolvimento Econômico da cidade e coordenador do projeto, a produção de filmes para o festival é o produto final das oficinas realizadas nas escolas. O número de colégios participantes dobrou em quatro anos, e envolve tanto instituições da rede pública quanto da particular.
São os professores que coordenam as atividades, depois de passarem por uma capacitação. Os alunos aprendem os detalhes técnicos para criar roteiros, montar sets, desenhar figurinos, buscar locações de filmagem, cuidar do transporte e alimentação da equipe, dirigir, gravar e editar as cenas. "Cada escola vai correr atrás dos recursos para a produção, o que a gente oferece pra eles é todo o equipamento na hora da gravação", afirma Monzo. A Mauá Filmes, produtora local, supervisiona os trabalhos, mas é função de cada equipe buscar os investimentos para sua produção cinematográfica.
"A gente sugere que ele ousem, que convidem atores tanto amadores da cidade quanto profissionais", diz o coordenador do projeto. O comércio dos bairros onde ficam as escolas participantes também participam, trocando serviços por apoio institucional das produções. Segundo Monzo, a comunidade local acaba ajudando na "construção de uma nova cidade a partir desses jovens que vão ter outra formação, senso crítico, senso de criatividade, escrita, que melhora substancialmente o desempenho escolar e o comportamento".
Jefferson Santiago, de 18 anos, participou de todas as edições do Festiva de Cinema Estudantil de Barra do Piraí (Foto: Divulgação/Mauá Filmes)
Jefferson Santiago, de 18 anos, participou de todas
as edições do Festiva de Cinema Estudantil
de Barra do Piraí (Foto: Divulgação/Mauá Filmes)
Cidade sem cinema
Há muitos anos, porém, os habitantes de Barra do Piraí viram seus dois cineclubes fecharem as portas. Um deles acabou virando uma igreja. Só em 2012 adolescentes como Pablo, João Pedro e Jefferson pisaram pela primeira vez em uma sala de cinema, construída no Mercado Municipal da cidade.

"No começo eu não acreditei muito na oficina porque aqui não tinha cinema, não tinha nada", relembra Jefferson, que hoje é estagiário da Mauá Filmes, enquanto se prepara para o vestibular de jornalismo, e aprendeu uma habilidade que nunca imaginou um dia dominar: a edição de vídeos no programa Final Cut.
A mãe de Pablo, a comerciante Dalva Aparecida de Oliveira Gomes, de 43 anos, diz que o filho sempre gostou de cinema, mas assistia aos filmes só pela televisão. Ela lembra que, aos 11 anos, ele começou a fazer filmes usando a prima como atriz principal. Pablo conta que acabou desistindo do hobby, mas que, ao participar da oficina pela primeira vez, em 2011, descobriu seu talento artístico.
Orgulhoso dos seis prêmios de primeiro lugar, e um em segundo, que recebeu pelo curta "Maníaco do Matadouro", na última edição do festival, o estudante conta que acabou recebendo o apelido de Mazzaropi Barrense, em referência ao ator e cineasta paulista Mazzaropi, pelos estilos semelhantes de comédia.
Enquanto planeja, no futuro, produzir uma versão de um dos filmes do cineasta, Pablo agora se prepara para ser o estagiário de Paulo Vespúcio, diretor de "O Casamento de Gorete".
João Pedro da Silva, de 17 anos, escreveu e protagonizou o curta 'Zé Gaiola e Mariinha' (Foto: Divulgação/Mauá Filmes)
João Pedro, em cena de 'Zé Gaiola e Mariinha'
(Foto: Divulgação/Mauá Filmes)
Autoestima elevada
João Pedro deve atuar no longa. Apesar de ainda não saber qual será o seu papel, ele diz que é mais fácil atuar do que escrever o roteiro. "Quando você vai atuar em cima de um personagem que você criou é bem mais simples, o problema é criar esse personagem", diz. 

O processo criativo para bolar o roteiro de "Zé Gaiola e Mariinha" durou três meses. João Pedro sugeriu que a equipe fizesse uma comédia e o grupo aprovou usar a zona rural da cidade para contar uma história caipira. "A ideia caipira foi aprovada e comecei a escrever."
Ele mora com sua tia, a professora Adriana da Silveira Raposo, que notou a transformação do adolescente tímido durante o ano de 2012, quando ele tomou coragem para participar do projeto. "Foi excelente, fundamental. Ele está se relacionando mais, com a autoestima elevada, está se sentindo capaz", conta ela.
Quando você vai atuar em cima de um personagem que você criou é bem mais simples, o problema é criar esse personagem"
João Pedro da Silva,
estudante, roteirista e ator
O aluno diz que já tem pelo menos três histórias na cabeça para escrever novos roteiros e quer participar novamente das oficinas em seu último ano do ensino médio, antes de seguir para a faculdade (os planos incluem estudar história, antropologia e cinema). "É muito bom olhar nos olhos da pessoa e sentir que você está agradando."
Apesar de já ter 17 anos, Pablo ainda cursa o 8º ano do fundamental. Segundo sua mãe, o garoto repetiu por excesso de faltas, já que não gostava de ir à escola. "Ele queria trocar de escola, tinha alguns meninos implicando com ele", explica Dalva. Tudo isso mudou em 2011, quando ele começou a participar das oficinas. Agora, a mãe afirma que, quando não está na escola, Pablo está no quarto mexendo com filmes no computador. "Ele começou a oficina, aí melhorou, as notas subiram. É bom porque incentiva os outros meninos."
Segundo Roberto, além de desenvolver o lado criativo e social, e melhorar o comportamento e o desempenho na escola, os jovens participantes da oficina passam a ter uma visão diferente e apreciar a produção nacional. Sem contar o potencial de descoberta de novos talentos. "A gente é uma potência em futebol porque tem um campo em cada esquina. Vamos ser uma potência no cinema quando tiver uma oficina em cada escola."

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