06/05/2013

Abraham Curi: empreendedor vende carro e cria empresa milionária

Aos 22 anos, Abraham Curi, pai de dois filhos pequenos, foi demitido.
Empresa que ele criou acaba de formar parceria com companhia belga.

Fabíola GleniaDo G1, em São Paulo

Abraham Curi, dono da Tecnogera (Foto: Divulgação)Abraham Curi, dono da Tecnogera
(Foto: Divulgação)
Pouco mais de uma década atrás, Abraham Curi, então com 22 anos de idade e dois filhos pequenos para criar, foi mandado embora do emprego. “Essa demissão foi a única e a que eu mais gostei na vida”, brinca o hoje bem-sucedido empresário dono da Tecnogera, empresa de locação de equipamentos para geração e transformação de energia.
Na época, Curi fazia o pós-venda de uma fabricante de extratores de suco de laranja. O dono da empresa decidiu parar de fabricar o produto. Chamou o jovem, disse que iria demiti-lo, mas sugeriu que ele montasse uma empresa própria para prestar assistência aos clientes que ainda tinham o produto.
A boa notícia é que a empresa já nasceria grande, com cerca de mil clientes. A má notícia, no entanto, era que estava fadada à morte em questão de anos. “Como eu já estava demitido mesmo, não tinha muita escolha”, brinca.
Durante cerca de cinco anos, foi a isso que Curi se dedicou, sabendo, no entanto, que teria que buscar um novo plano de negócio. “As máquinas estavam acabando, minha empresa estava se tornando muito pequena.”
Em uma de suas visitas técnicas a uma rede de supermercados, Curi foi avisado que não precisaria mais voltar, porque as máquinas seriam “aposentadas”. Inconformado com a informação, ele perguntou se não havia mais nada ali que ele pudesse fazer, mais algum equipamento para prestar assistência técnica. “Me disseram assim: ‘se você quiser, o que a gente tem de equipamento para vender são aqueles geradores’.”
Eram 15 no total, cada um a R$ 5 mil. Curi não entendia de geradores e tampouco tinha o dinheiro necessário para comprá-los. Para poder fechar o negócio, vendeu o único carro da família e comprou os geradores. De imediato, já vendeu quatro deles, cada um por R$ 15 mil – ou seja, R$ 60 mil no total – e praticamente recuperou o valor investido.
Do quintal de casa para o país inteiro
Surgia aí a Tecnogera, com os primeiros geradores instalados no quintal da casa do pai – onde mal cabiam – e o escritório da empresa funcionando no quarto da filha caçula – que tinha nascido em 2004. “Era muito sem condição”, admite.

Hoje, a empresa tem mais de 100 funcionários, conta com representantes no Brasil inteiro, possui 450 equipamentos, matriz em Bragança Paulista e centro de distribuição em Diadema.
A Tecnogera também acaba de formar uma parceria com a multinacional belga Power Solutions, que vai investir R$ 50 milhões em equipamentos e tecnologia ao longo dos próximos três anos.
“Na divisão de locação para o segmento de energia, a Tecnogera está entre as cinco maiores do país. Estamos numa excelente posição estratégica”, diz Curi, lembrando que alguns dos seus concorrentes são gigantes multinacionais com mais de duas décadas de existência.
Entre os clientes da Tecnogera há nomes como Petrobras, Vale, Caixa Econômica Federal, Itaú, Usina Angra I, Porto de Suape, Hospital Albert Einstein, entre outros. “Hoje a gente trabalha com os projetos mais complexos do Brasil e da América Latina”, diz Curi, citando como exemplo projetos de offshore e usinas termelétricas.
Primeiros passos
No início, o empresário se dedicou a comprar e vender geradores. “Muitos destes geradores eram provenientes do apagão de 2001”, conta.

Com o tempo, começou a diminuir a oferta de geradores para comprar. Então, no final de 2007, o empresário passou a ter “um pensamento mais de longo prazo” e começou a alugar geradores.
“Durante este período de compra e venda, ganhei bastante experiência, bastante conhecimento técnico (...) e isso me deu uma base que foi bastante importante. De 2008 para cá, o Brasil vem demonstrando cada vez mais que tem uma deficiência no setor elétrico. Foi o que fomentou o nosso crescimento”, comenta o empresário.
Curi diz que, para tentar se diferenciar e conseguir estar entre as grandes do setor, a Tecnogera focou na questão da engenharia, “da solução como um todo”. “A questão da análise técnica e levar uma solução completa em energia elétrica. Agregar serviço foi o grande diferencial que nestes poucos anos colocou a gente numa posição muito estratégica.”
Um pouco avesso a revelar números, o empresário diz apenas que o faturamento da Tecnogera cresceu 60% em 2012. Para 2013, a expectativa é crescer 100%. “Com a joint venture vamos conseguir atender um nicho de mercado que só as multinacionais atendiam.”
A parceria, de acordo com o empresário, veio como uma “engenharia financeira”, já que o setor em que a Tecnogera atua “é muito intensivo em capital”. “Para conseguir ampliar o nosso poder de crescimento a gente precisaria de muito investimento”, comenta.
Equipamentos da Tecnogera usados na Usina Guaçu, em Mato Grosso (Foto: Divulgação)Equipamentos da Tecnogera usados na Usina Guaçu, em Mato Grosso (Foto: Divulgação)
Além de crescer, Abraham Curi busca agora atingir metas de gestão. “A gestão tem que ser cada vez mais profissional, com governança corporativa, conselho de administração. (...) Estou profissionalizando a empresa internamente.” E, neste contexto, ele deixa escapar que a empresa vem sendo assediada por fundos de investimentos e multinacionais que querem atuar no Brasil.
“No princípio, eu tinha uma visão mais romântica, de construir a empresa para deixar para os meus filhos. Hoje, não descarto uma fusão”, diz.
Expectativas
Para Curi, o futuro de quem atua neste segmento é promissor. Com o Brasil sendo sede de grandes eventos, como Copa das Confederações, Jogos Olímpicos e Copa do Mundo, a locação de energia será essencial em vários momentos.

“Não acredito no meu negócio só pela deficiência do setor energético, (...) mas principalmente em função do potencial do Brasil no que diz respeito à infraestrutura – não só energética, mas que usa energia. Se você pensar no tanto de portos, aeroportos, estradas, gasodutos, oleodutos que precisam ser construídos, tudo isso demanda locação de equipamentos para geração de energia”, diz. “Os grandes eventos vão precisar de energia do tipo que a gente fornece. Isso vai muito além do estádio. Precisa ter uma rede hoteleira sustentada, que os aeroportos estejam com seu sistema energético adequado. Vai ter um aumento da demanda”, diz.
Curi descarta a possibilidade de um pico de consumo seguido de um período de ressaca. Tanto assim que a empresa segue crescendo e atualmente está investindo R$ 10 milhões para abrir uma filial em Canoas, no Rio Grande do Sul. “Um amigo meu me disse outro dia que o bom empresário é um louco que consegue convencer as pessoas da sua loucura. E foi isso mesmo”, conclui
.

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