20/06/2013

Giorgi: clássico, arcaico e moderno

Autor de monumentos símbolos do Distrito Federal, o paulista Bruno Giorgi é destaque em exposição na Unifor
Dois tipos esguios, de braços dados e lanças em punho, permanecem em eterna vigília na Praça dos Três Poderes, em Brasília. São "Os Candangos", como é popularmente conhecida a obra, que ali fincaram raízes após os difíceis anos de construção da cidade. A homenagem é uma das esculturas assinadas pelo paulista Bruno Giorgi na cidade que, em consonância com os traços modernistas de Oscar Niemeyer, foram tomadas como símbolos da Capital Federal.

Obras de Bruno Giorgi, produzidas com técnicas e materiais diversos, em cartaz na exposição "Trajetórias: Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz"

Seja nas figurações, nos planos vazados ou em suas abstrações geométricas - estilos que ele explorou em diferentes fases criativas, ao longo de mais de cinco décadas - Giorgi imprimiu em sua escultura um traço singular de brasilidade, a exemplo de nossos melhores modernistas. "Seu interesse pela temática brasileira, pelo tipo nativo, o conduz a audaciosas conjunções de clássico ou do arcaico com o moderno", registrou o poeta Ferreira Gullar, em prefácio publicado na biografia do artista, "Bruno Giorgi - 1905/1993" (Metalivros), organizado por Piedade Grinberg. O livro antecipava, em 2001, as comemorações pelo centenário de nascimento, completado dia 13 de agosto de 2005.

Bruno Giorgi é um dos artistas contemplados pela mostra "Trajetórias: Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz", que segue em exposição até o dia 8 de dezembro no Espaço Cultural Unifor. No acervo, estão duas peças em bronze da década de 40, "Donaire", medindo 1,5 metro de altura, e "Flautista", de 79 centímetros; e um mármore de Carrara (na Itália), a "Mulher com a mão nos cabelos", de 33 centímetros, que não possui uma data precisa de criação.

Trajetória

As obras trazem marcas de fases distintas do escultor. A primeira e segunda fases do artista estão bem representadas nas peças em bronze, mais figurativa. Inicialmente, seu traço dava destaque a bustos e corpos femininos - ora gordos e opulentos, ora alongados e românticos. Depois, investindo em um maior dinamismo das obras.

Bruno Giorgi nasceu em Mococa, interior de São Paulo, filho de italianos da região da Toscana. Logo, aos seis anos de idade, voltou para Itália, Roma, onde posteriormente iniciaria seus estudos em desenho e escultura. A juventude do artista foi marcada pela militância política, tendo pertencido ao Partido Comunista e lutado contra o fascismo italiano no início dos anos 1920, quando foi preso e extraditado para o Brasil.

Na década seguinte, ele volta à Europa, onde, em Paris, frequenta algumas academias de pintura, e tem aula com Aristide Maillol, pintor e escultor francês que acaba por ser uma das referências de sua escultura figurativa, influenciando-o por toda a carreira.

Bruno muda-se em definitivo para o Brasil em 1939, quando se une ao movimento modernista, ao lado de Vitor Brecheret e Mário de Andrade. Radicado entre São Paulo e Rio de Janeiro, foi em terras cariocas que ele fez sua primeira escultura em dimensões monumentais, o "Monumento à Juventude Brasileira", instalado no jardim do edifício que abrigava à época o Ministério da Educação e Saúde, hoje, o Palácio da Cultura. A escultura dá visibilidade à obra de Bruno Giorgi, que é definitivamente posta em evidência - reconhecido e festejado ainda em vida como um dos maiores escultures brasileiros do século XX - após suas realizações em Brasília.

Peças

Além de "Os Candangos", ou "Os Guerreiros", como havia sido inicialmente batizada a obra da Praça dos Três Poderes, ele deixou sua marca em mármore branco de Carrara, com a abstração "Meteoro", exposta no lago do prédio do Ministério das Relações Exteriores. Esculpido em 1967, é um marco da fase abstrata do artista, cunhada em cerca de 17 toneladas de mármore, esculpido na Itália e levado pronto a Brasília. O mármore branco de Carrara só passa a fazer parte do repertório de Giorgi após meados de 1960, quando ele também, aos poucos, abandona a figuração (ainda presente em "Mulher com a mão nos cabelos") e passa a explorar as formas geométricas.

Uma curiosidade sobre esta troca de matéria-prima é que o uso do mármore sem proteção teria sido responsável por problemas pulmonares do artista. Bruno Giorgi morreu no Rio de Janeiro em 1993, aos 83 anos de idade. Brasília, além dos monumentos da década de 1960, guarda ainda em seu acervo uma versão de "O flautista", exposta em destaque no mezanino do terceiro andar do Palácio do Planalto, e um estudo para o busto de Tiradentes, no salão do quarto andar do prédio.

Mais informações:

Exposição "Trajetórias - Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz", no Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz). Até 8 de dezembro. De segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, sábados e domingos, das 10h às 18h. Gratuito. Estacionamento no local. Contato: (85) 3477.3319 


Diário do Nordeste

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