Maria Regina Canhos
Manifestações pipocam pelo país num misto de revolta,
indignação, desespero e pancadaria. Será que o povo brasileiro acordou ou está
sendo mais uma vez manipulado por pessoas sagazes que sabem se aproveitar das
fragilidades humanas? Coisa pra se pensar, não é mesmo?! Penso que o país pode
mudar, sim; mas creio que a mudança deve começar por cada um, afinal, o Brasil
somos nós! A passividade com a qual aceitamos a corrupção nada mais é do que a
tolerância que exercitamos diante de nossas próprias mazelas pessoais. Que me
desculpem os cidadãos honestos, pois sei que existem; mas a maioria dos
brasileiros traz a corrupção nas entranhas, resquícios da formação do nosso
povo com pessoas da pior linhagem (os historiadores bem sabem).
Lutar contra a própria natureza é tarefa das
mais árduas e, nesse sentido, parabenizo o povo sofrido por se insurgir contra
os desmandos e a exploração vigentes. No entanto, lamento a forma como alguns
protestam, voltando-se contra outros pares (imersos em igual sofrimento),
projetando-lhes toda a ira que deveriam canalizar de modo construtivo para despertar
a consciência de tantos adormecidos.
Não é depredando lojas nem destruindo o
patrimônio público que iremos alcançar nossos objetivos. Penso que não é justo
destruir o que alguém construiu só para extravasar revolta e dor acumulada por
anos de exploração consentida. É preciso haver uma mudança na mentalidade do
povo, e tomara que isso esteja ocorrendo mesmo; mas temo que seja somente um
espasmo de incômodo que não levará a uma real modificação de hábitos já
arraigados e largamente praticados entre as pessoas do nosso país.
Desde que sou pequena presencio feirantes e
pessoas do comércio praticando pequenos “equívocos” na hora da pesagem, no
estabelecimento do preço e do troco. Também percebo funcionários levando para
casa materiais de trabalho num visível “empréstimo sem devolução” ao patrão;
também vendedores e viajantes fraudando notas de refeições e abastecimento em
postos de combustíveis... É assim ou não é?! Como age o povo brasileiro? Fica
fácil entender porque nossos líderes políticos se comportam de igual forma só
que em maior escala. A procedência é a mesma, o pensamento é o mesmo: levar
vantagem; assegurar o meu a custa da exploração e enganação do outro. Óbvio,
não?
Quer mudar o país? Comece mudando a si mesmo!
Seja mais honesto, humano, solidário. Seja responsável, verdadeiro, íntegro. É
difícil? Lógico que é! Mas, educando seus filhos assim, terá chance de
construir um país melhor para os seus netos e bisnetos. E o que vai nos restar
hoje? Isso que estamos vendo na TV. O resultado da nossa omissão, aquiescência,
conformismo, acomodação e tolerância pessoal ou coletiva. Puxa; não sabia que
ia dar nisso! Que pena, não é mesmo? Às vezes, a gente tem de sentir na pele o
efeito do nosso cruzar de braços quando há tanto a ser feito. Vamos recolher
muitos cacos; mas, quem sabe possamos aprender o valor de uma boa educação,
respeito, honestidade e amor ao próximo. Deixemos de lado a passividade e a
inércia que nos acompanham há anos e anos. Lutemos por um Brasil melhor, mas
tendo consciência que mudar o país implica em mudar a nós mesmos. E que Deus
nos ajude!
CatolicaNet
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