Para homenagear Tom Jobim, não basta lembrar o compositor e o cantor. Também é preciso lembrar o seu principal instrumento. Pensando nisso, o empresário José Maurício Machline resolveu reunir, pela primeira vez, seis expressivos pianistas. Em ocasião do 24º Prêmio da Música Brasileira, Wagner Tiso, João Carlos Coutinho, Gilson Peranzzetta, Cristóvão Bastos, Leandro Braga e João Carlos Martins tocarão "Eu sei que vou te amar", uma das composições mais famosas de Jobim. O evento, que acontece dia 12 com patrocínio da Vale, também celebra o retorno de Martins, afastado da música desde 2002, quando perdeu os movimentos de uma das mãos.
João Carlos Martins é um dos seis pianistas convidados para tocar, durante a premiação, "Eu sei que vou te amar", uma das composições mais famosas de Jobim: "É outro patamar", afirma o músico
"Jobim foi um grande cantor e compositor, mas também dominava o piano como poucos", observa Machline. "Não existe quem tocasse com aquela economia. Para homenagear o músico e o seu instrumento, era natural chamar artistas que representassem muito bem o piano, e que cada um contribuísse com seu estilo".
Entre tantos clássicos de Jobim, a opção por "Eu sei que vou te amar" é estratégica. "Queria justamente pegar uma música que já sofreu todos os tipos de releitura, e oferecer um enfoque novo, que saísse do lugar comum", lembra Machline.
A difícil empreitada de escrever um arranjo para seis pianos de cauda ficou a cargo de Wagner Tiso. Os cinco representantes da música popular começam tocando no fosso, até a intervenção de Martins, que surge no palco representando a música erudita. No fim, todos os pianos dialogam, mostrando a fusão entre popular e o erudito que tanto marcou a obra de Jobim.
"Eu já havia feito um arranjo para seis pianos, só que foi para o Hino Nacional, uma música potente, e que tem um arranjo que já parece pronto", lembra Wagner Tiso. "Já com o Tom você mergulha em algo mais profundo. O Zé (Machline) me incentivou. O desafio era jogar com a simplicidade e a economia de uma música como "Eu sei que vou te amar". Também queria aproveitar a qualidade de cada instrumentista, fazer o mais singelo e bonito possível. Agora, o teste final vai ser no ensaio". Depois de um primeiro encontro na casa de Machline, onde analisaram a partitura, o grupo ensaiará na próxima quarta-feira. Animado com a parceria, João Carlos Coutinho lembra a importância de Jobim para o piano. "Ele criou uma maneira de tocar piano que se mantém até hoje", diz. "Tem produtor que chega e fala: ´Faz aquela onda Tom Jobim´. Com ele, o menos era mais. Sempre achava a nota certa".
Desde 2002, João Carlos Martins já realizou 19 cirurgias para recuperar o movimento de uma das mãos. O pianista está ansioso para reestrear nos palcos.
"Depois de tocar a obra de Bach completa, para mim é uma honra tocar Tom Jobim no Municipal depois de uma longa ausência", diz Martins. "E, pelo que vi na partitura, será excelente. O Wagner é aquela pessoa que, como Tom Jobim, consegue fazer da MPB algo maior. Quando você vê um arranjo dele, percebe a influência de Villa-Lobos na nossa música. É outro patamar".
Diário do Nordeste
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