15/07/2013

Faixa exclusiva: tempo de espera reduz 50 minutos

Sistema BRS-Fortaleza completará um ano de ação. Modelo é solução para o "rush", mas precisa ser reformulado

A lotação do transporte coletivo se tornou um problema cotidiano Foto: Natinho Rodrigues

Trânsito saturado, horas perdidas, impaciência, uma cidade parada. Cena cotidiana, os congestionamentos já fazem parte da rotina do Fortalezense, mas como enfrentar esse velho e conhecido problema? Na Capital, o sistema de Serviço Rápido de Ônibus (BRS), que ocupa a faixa exclusiva na Avenida Bezerra de Menezes, é uma das soluções de priorização do transporte público em detrimento ao particular.

No primeiro ano de funcionamento, já aponta os primeiros resultados: um aumento na velocidade média do ônibus de 14Km/h para 25Km/h. E uma redução de até 50 minutos no atraso e no tempo do trajeto. O BRS-Fortaleza possui hoje 12Km no sentido Antônio Bezerra e Centro. Neste primeiro ano, cerca de 187 mil usuários já realizaram a viagem em um ritmo de 300 ônibus circulando por hora.

Após utilizar constantemente as linhas de ônibus que passam pela Avenida Bezerra de Menezes a estudante de Odontologia Danielle Cardoso confirma que as viagens ficaram mais rápidas após o início do BRS. "Melhorou muito. Hoje, os ônibus passam rapidamente pela Avenida".

Essa e outras experiências na área de mobilidade urbana foram apresentadas e debatidas, entre os dias 3 e 5 de julho, em São Paulo, durante o Seminário Nacional 2013 "Mobilidade Sustentável para um Brasil Competitivo", realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

"A disputa na Bezerra de Menezes entre carros e ônibus é desigual. São mais de 3.500 carros passando a cada 60 minutos. Um fluxo imenso, que tende a reduzir se a gente oferecer um sistema de qualidade e, assim, convencer as pessoas a deixarem seus veículos individuais e andarem de ônibus. Esse é o nosso maior desafio hoje", afirma o diretor técnico da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Antônio Ferreira.

O diretor diz ver com bons olhos o BRS, que, segundo ele, garante mais tempo livre ao trabalhador, saúde e acalma o trânsito, minimiza os impactos ambientais e pode gerar mais dinamismo à capital, mais negócios.

Mesmo assim, o projeto do BRS ainda está sendo subutilizado, afirma Ferreira. Há toda uma potencialidade que ainda não é usufruída. "Os carros, em sua maioria, não respeitam as faixas exclusivas do BRS o que dificulta o andamento. Não temos um modelo ideal". Conforme o diretor, o projeto será finalizado ainda neste ano, com o término das obras do terminal do Antônio Bezerra, com a estruturação de paradas no canteiro central, sistemas de comunicação, integração e multas para quem avançar os limites exclusivos.

Debates

Com as manifestações de rua, o tema está hoje no centro dos debates políticos. Mas, como garantir uma cidade mais dinâmica e livre de engarrafamentos é possível? Presente do Seminário da NTU 2013, o secretário-geral da Associação Latino-Americana de Sistemas Integrados e BRT (SIBRT), Ricardo Gutiérrez, defendeu a necessidade urgente de financiamento para uma melhoria do transporte público. Além do recurso, é fundamental, para se oferecer a qualidade reivindicada pela população, planos de mobilidade urbana que tenham uma visão geral da Cidade.

"Está na hora de adotarmos mudanças estruturais. Temos uma oportunidade histórica de criar um sistema com os financiamento institucionalizado", afirmou o secretário-geral.

Para Ricardo Gutiérrez, um transporte coletivo de qualidade requer plano de mobilidade, promoção do desenvolvimento urbano orientado pelo transporte, rede estruturante única, multimodal e integrada, comunicação apropriada com todos os segmentos da sociedade, incorporação dos avanços tecnológicos e serviços ao cliente, uma viabilidade econômica e financeira.

"Sem um transporte público urbano de alta qualidade, não será possível parar o avanço do automóveis e motos. E o sistema de BRT e BRS é uma ótima solução e deve ser estimulado", diz. O secretário-geral da SIBRT citou, ainda, que na Europa as tarifas cobrem de 30% a 60% dos custos. Algumas podem ser mais caras que as do Brasil, mas há a contrapartida da oferta de um serviço de qualidade.

"O Brasil perdeu de 30% dos passageiros do transporte público nos últimos anos, em Madri, na Espanha, ocorreu um aumento de 57% na demanda, fruto de investimentos que priorizam o transporte urbano", explica. São transportados no Brasil 40 milhões de passageiros por dia e 162.287 só no BRS de Fortaleza.

A repórter viajou a São Paulo a convite da NTU

 ´Momento agora é muito oportuno para mudanças´

Grupos foram às ruas, no mês passado, para exigir, entre outras demandas, a melhoria do transporte público, redução da tarifa e transparência Foto: Alex Costa

A pauta do dia é, sem dúvida, a melhoria do transporte público. Por contas das manifestações de rua exigindo passagens mais baratas e um serviço mais eficaz, "o momento agora é muito oportuno para as mudanças", afirmou o atual presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, durante abertura do Seminário Nacional "Mobilidade Sustentável para um Brasil Competitivo", entre os dias 3 e 5 de julho em São Paulo.

"Quero frisar que só acreditamos em iniciativas que realmente possam nos levar à tão sonhada qualidade desse sistema, com a parceria do Estado, para colocar em prática as medidas que estamos organizando em um manifesto do segmento", destacou. Durante o evento, a NTU lançou manifesto exigindo melhorias e apontando oito metas a serem priorizadas. "Assistimos ao crescimento vertiginoso da frota de automóveis e motocicletas que ocupou os espaços viários urbanos, causando os congestionamentos que reduziram à metade a velocidade comercial dos ônibus (de 25 para 12Km/h em 10 anos). O resultado não poderia ser outro: queda de qualidade dos serviços e aumento de custo que afugentaram mais usuários, criando um círculo vicioso que parecia não ter fim".

Pensando no problema de Fortaleza e de tantas outras capitais, Cunha reforçou a importância de se avançar na qualidade, concretizar os Planos Diretores e os Planos de Mobilidade Urbana, planejar o desenvolvimento das cidades e priorizar o transporte coletivo sobre o individual.

"De nada adianta pensar melhorias para o nosso fragilizado sistema de transportes urbanos sem antes reconhecer erros que todos nós, protagonistas desta história, temos cometido. Temos errado, sim, por não vislumbrar alternativas e formas de sensibilização do governo federal no atendimento das reais demandas do setor e nos entraves que se interpõem entre o querer fazer e o fazer", ressaltou.

Sobre o assunto, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) e também Conselheiro na NTU, Dimas Barreira, aponta a necessidade de escolha de prioridades. Para ele, seriam muitas, entre elas implantação de redes modernas, integradas, multimodais, racionais e de alto desempenho além dos subsídios aos serviços, a serem pagos por meio de um fundo com recursos dos combustíveis, distribuído aos municípios, proporcional à população.

IVNA GIRÃOREPÓRTER
Diário do Nordeste

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