Padre Geovane
saraiva*
O teólogo Hans Küng, já em 1977, sobre a celebração culto divino, a partir da
realidade da Europa, falava de uma Igreja portadora da esperança, que muito
falava de esperança, mas que pouca a proporcionava. Hoje está à frente da Igreja Católica
Francisco, o Papa da esperança, afirmando com todas as letras que não é mais
possível pensar na humanidade, seja ela rica ou pobre, sem colocar no âmago da
questão outro caminho para a humanidade, o caminho da esperança, proposto e
traçado pelo próprio Deus e Pai, aquele inaugurado na frágil criança de Belém,
nas palavras do Apóstolo Paulo: “Ele tinha a condição divina,
e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente.
Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo” (Fl 2,6-7).
A humanidade tem
como tarefa prioritária dentro do processo do anúncio do Evangelho, colocar com
clareza que a encarnação do Filho de Deus é algo atualíssimo e também decisivo
para toda criação, mas que se encontra enorme resistência ou não se aceite e
mesmo não se admite. O grande sonho do Pai, encarnado pelo Filho é aquele de
nunca se negar a possibilidade de realização que foi e é oferecida à criatura
humana, já aqui neste mundo e no mundo futuro.
O Papa Francisco
nos abre o caminho da esperança quando deseja que a humanidade pense e reflita
na missão da Igreja: “Podemos
construir muitas coisas, mas se não cremos em Jesus Cristo, nos converteremos
numa ONG humanitária, mas não na Igreja, esposa do Senhor. A Igreja não é uma organização que nasce
de um acordo entre pessoas, mas obra de Deus”.
A esperança da humanidade tem seu eixo na fragilidade
do Filho Deus, que nem pedra tinha para reclinar a cabeça, na qual teve seu
início naquela noite fria de 25 de dezembro, quando foi anunciada a feliz
notícia, oriunda do coro dos anjos, de que o nosso Deus, como aprendemos e
firmemente cremos, quis servir-se da fragilidade humana, atestando-nos que a
força e o vigor dos fortes e poderosos são em geral ilusórias. É imprescindível
refletir no mistério da Sexta Feira da Paixão, personificada na figura do Servo
de Javé: “Tão desfigurado ele estava, que não parecia um homem ou tinha aspecto
humano, do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos. Diante dele os
reis se manterão em silêncio, vendo algo que nunca lhes foi narrado e
conhecendo coisas que jamais ouviram” (Is 52, 14-15).
O Sucessor de Pedro, com sua presença amiga na Jornada
Mundial da Juventude, na cidade do Rio de Janeiro quer falar bem alto ao
coração dos cristãos do mundo inteiro, e de modo especial à juventude, que a
nossa esperança é geradora de bons resultados, tem sua lógica no nosso Deus encarnado
e não nos exércitos, com carros e cavaleiros, nas bombas e gás lacrimogêneo,
sem esquecer os lucros das orgias financeiras...
O Vigário de Cristo na terra quer nos afirmar que os
grandes deste mundo, se não mudar de postura, são incapazes de produzir e gerar
a tão sonhada esperança, por causa da incompetência em construir caminhos seguros
e sólidos para os empobrecidos de todo o planeta. São fraquíssimos, na pouca capacidade
de gerar sonhos de uma alegre esperança para as pessoas do mundo inteiro, demonstrando
forças tão somente no efêmero e ilusório, no emocional e superficial.
Iremos repetir, sem jamais esquecer as palavras de
Francisco, quando falou de uma Igreja pobre para os pobres: São Francisco de Assis é o homem que nos dá este
espírito de paz, o homem pobre… “Ah, como gostaria de uma Igreja pobre e para
os pobres! A pobreza é aprendida com os humildes, os doentes e todos aqueles
que estão nas periferias existenciais da vida. A pobreza teórica não serve para
nós. A pobreza se aprende tocando a carne de Cristo pobre nos humildes, nos
pobres, nos doentes e nas crianças”.
Concluímos nosso artigo, estimado leitor, nas
palavras do Ângelo do Romano Pontífice (21/07/2013), antes de partir em viagem
missionária ao Brasil: “A oração que não gera uma ação concreta em ajuda de
nossos irmãos pobres, doentes, carentes, que precisam de nós, é uma oração
estéril e incompleta. Por outro lado, quando no serviço eclesial se presta mais
atenção no ‘fazer’, dando mais importância às funções e estruturas, corre-se o
risco de servir apenas a si mesmo e não a Deus, presente no irmão necessitado”.
*Padre da Arquidiocese de
Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza,
da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente
da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
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